focus | vmin

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Eu tinha, mais ou menos, doze anos quando o primeiro interesse abateu.

Estava sentado na sala, encarando cada pelinho da minha coxa, tão curtos e transparentes que eu precisava olhar por um bom tempo para enxerga-los. Então, percebi que, como meu olhar se focava na pele da perna, tudo ao redor ficava embaçado.

O foco era isso, e todos já sabiam mas eu nunca tinha parado para pensar sobre. Nós conseguiamos nos concentrar tanto em algo, que descartava o resto como um nada. Como um embaço.

Ergui meus dedos e foquei neles, percebi que quanto mais perto a mão chegava dos meus olhos, mais o embaçado aumentava. Continuei até me sentir meio vesgo e um tanto doido, minha curiosidade inocente tinha esse efeito.

Aos quinze, ganhei uma câmera da avó Nahyun. Ela disse que já estava cansada de me ver pedir tanto seu celular com câmera emprestado, sua memória já não aguentava mais tantas flores e fotos do céu onde a única coisa que mudava era a posição das nuvens. Fiquei tão feliz que saí correndo para o pátio, apertando o botão para que ligasse a máquina.

Quando ligou, apontei para as margaridas da Nahyun, e mexi em alguns botões até que tudo ao redor embaçou e tudo que sobrou foi a florzinha. Aquilo fora tão incrível, em meu coração a animação queimou e a memória da máquina durou menos de uma semana.

A câmera também conseguia concentrar-se em somente uma coisa.

Quatro anos depois, eu já deveria ter mudado de máquina fotográfica seis vezes e haviam filmes demais guardados em gavetas para contar. Acontece que esses filmes agora eram rótulados, e Park Jimin havia uma gaveta só para si.

Meu melhor amigo gostava de ser fotografado, e minha câmera amava sua delicadeza e sorriso brilhante. Eu focava nos fios loiros tão bem cuidados, os olhos que fechavam-se com a alegria dos lábios e o nariz desenhado. E não era como se eu precisasse da câmera para focar em Jimin, porque na verdade sempre que eu — com câmera ou não — estava com ele o mundo era insignificante, embaçado, sobrando somente o que me dava concentração. Ele e apenas ele.

Aos vinte anos, meu foco favorito passou a ser lábios carnudos e rosas, até que com a aproximação tudo (menos a boca) ficou cada vez mais embaçado, até eu me sentir meio vesgo e doido, então fechei os olhos e apreciei a textura e gosto do meu foco.

E agora, Jimin estava deitado completamente nu em meus lençóis azuis. Sabia que sua cor favorita era essa. Eu estava por cima, deslizando meus olhos e mãos em cada parte e arrancando suspiros alheios, então olhei em seus olhos e pedi sua permissão para que eu pudesse registrar as únicas coisas que me importavam agora.

Minha câmera focou seus olhos, sua boca, suas orelhas e seu nariz. Desceu pelo pescoço, seu peito e os mamilos rosado e úmidos pela minha boca. Cada veia do seu braço, cada gominho do abdômen, cada curva moldada e... linda.

Céus, Jimin era lindo. Tão lindo. Meu foco maravilhoso e... lindo.

— Jimin, seu ambaçado é azul turquesa. — sussurrei em seu ouvido, pondo minhas mãos em seu quadril nu.

E foi ai que eu descobri o foco da audição, pois seus gemidos e clemências me mostraram exatamente o caminho.

// eu não sei

desculpem pelo final meio sem final? mas eh

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