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Enzo On

Alguns dias se passaram e eu sinto Rebecca cada vez mais distante. Mais fechada. Mais triste.
Toda tarde ela sai, vai ao hospital, fica boa parte da tarde lá e volta para casa.
Eu tento falar com ela, mas ela se priva de qualquer emoção.
Eu concordei em dormir no apartamento dela por uns dias, apesar de que ouvi-la chorando a noite seja uma tortura para mim. Se ao menos ela se abrisse comigo; nem mesmo com Pietra e Carol ela tem falado.

Já eu tenho feito minhas sessões de quimioterapia 3 vezes na semana. Não contei para ninguém, o doutor disse que não é nada grave então não vejo o porque.
Daqui alguns minutos tenho outra sessão com ele e resolvi chamar Pietra e Carol para ficarem com Becca hoje à tarde, ela precisa de companhia.
Saio de casa antes delas chegarem, não quero ficar respondendo perguntas sobre aonde estou indo.

Chego no hospital em cima da hora e já vou para a sala do meu médico.

M: [ .... ] então senhor Bennet, não trago boas notícias para você hoje.

Fico quieto e apreensivo. Não falo nada e deixo ele continuar.

M: Creio que seu câncer se espalhou de algumas semanas para cá, e se queremos ter uma real chance de curá-lo teremos que partir para sessões mais pesadas de quimioterapia. Porém, cabe a você decidir se quer prosseguir com o tratamento. Acredito que se você não contou para seus amigos ou familiares esse seria o momento.

E: Eu quero continuar com o tratamento. Quando começamos?

M: Amanhã mesmo, as 14 horas.

Concordo com a cabeça e saio de sua sala, desnorteado. Como isso está acontecendo comigo?
Entro no carro e fico pensando durante todo o caminho em como contar para Rebecca.
Apesar de o momento ser péssimo, não posso mais esconder isso dela.

Chego em seu apartamento e me deparo com Pietra, Carol, Rebecca e Arthur na sala. Merda. Não tem o que fazer, a não ser contar de uma vez.

P: Oi amor – ela vem e me dá um abraço, o qual não retribuo com muito entusiasmo

P: O que aconteceu?

E: Eu preciso contar uma coisa para vocês.

Todos param de falar e me olham preocupados
Eu senho em uma cadeira de frente para eles e falo de uma vez por todas.

E: Há algumas semanas atrás eu descobri que tenho câncer. Porém, a princípio nada muito grave.

A: Oi? Como assim cara?

E: Eu venho fazendo algumas sessões de quimioterapia porém elas não têm adiantado, e hoje eu descobri que a doença se espalhou.
A partir de amanhã eu vou começar a fazer sessões mais pesad..

Rebecca não me deixa terminar, levanta do sofá, vai para o quarto a bate a porta.
Suspiro e olho para cima. Sabia que essa seria sua reação.

E: Deixa, eu converso com ela depois.

Pietra chega mais perto de mim, vejo que ela estava com os olhos marejados de lágrimas.

E: Ei, calma. Eu tô fazendo quimioterapia para isso. Eu vou ficar bem.

P: Eu amo você. Você sabe disso né? Não sei porque você não nos contou antes, mas sempre estaremos com você, e a partir de agora conta sempre com nós.

Eu dou um meio sorriso e ela me abraça.

C: Verdade, Enzo. Você tem que saber que pode confiar na gente. Sempre.

A: Isso aí cara.

Todos nós estávamos meio abalados.
Continuamos conversando por um tempo.

A: Acho que vamos indo né, amor?

C: Acho que sim. Mas Enzo, amanhã nos vamos com você para o hospital. Você querendo ou não.

E: Sim senhora.

P: Acho que vou indo junto com eles amor. Vai lá em casa mais tarde?

E: Vou sim. Até depois gente. – Dou um abraço em Carol e Arthur, um beijo em pietra e vou com eles até a porta.

Quando eles saem vou até a porta de Becca. Ela vai ter que conversar e se abrir comigo agora. De um jeito ou de outro.

Rebecca On

Ouvir Enzo dizendo aquilo foi  como uma facada. Um nó se formou em minha garganta, junto com um turbilhão de emoções. Eu estou brava, preocupada, confusa. Quero ficar sozinha. Levanto e vou até o meu quarto. Me encosto na porta e deslizo até o chão. Ali eu fico até ouvir os outros saindo. Levanto do chão, limpo minhas lágrimas e abro a porta. Dou de cara com Enzo no corredor.

E: Você tava chorando?

Vou até ele é começo a bater em seu peitoral

B: Não, eu tava rindo! Não vê a felicidade estampada na minha cara? – falo e não me preocupo em segurar as lágrimas – Por que você não me conta uma merda dessas? Você é a única pessoa que eu tenho! A única. Eu amo você. Como você fez isso comigo? – falo gritando.

Enzo segura meus pulsos e olha nos meus olhos.

E: Como você queria que eu te falasse? Você não fala mais comigo, não se se notou isso – fala no mesmo tom de voz que o meu.

Ao ouvir aquilo olho para o chão, e um mini filme do que tem acontecido desde o acidente passa pela minha cabeça. Só agora eu percebi o que eu fiz: me afastei de todos que se importam comigo. Me isolei, com medo de perder mais alguém.

B: Me desculpa – falo olhando para o chão, já soluçando.

E: Ta tudo bem princesa – ele fala dando um beijo no topo da minha cabeça.

B: Não tá tudo bem. – falo levantando minha cabeça e olhando em seus olhos de novo – eu me afastei de você, por medo de te perder, e é exatamente o que está acontecendo.

E: Quem disse? Eu vou começar o tratamento amanhã e vou ficar bem o mais cedo possível.

Eu o abraço apertado, como se fosse o proteger e deixá-lo para sempre ali comigo.

E: Você não vai me perder.

Love me or leave me Where stories live. Discover now