Prólogo

4.5K 595 95
                                    

Algumas pessoas deveriam vir com manual de instruções ou um aviso de advertência, que com letras garrafais dissesse: mantenha distância, risco de malefícios à sua saúde mental.

Esse seria o caso de Lilian Medeiros, a namorada do meu amigo Nic, pois a advogada tinha um jeito próprio de te persuadir a fazer qualquer coisa. Poucos dias atrás, eu me vi sendo encurralado por ela e como qualquer pessoa ignorante, eu caí inocentemente na sua teia.

— Vai ser apenas por umas horinhas, por favor! — ela disse num tom melancólico, com algumas lágrimas nos olhos. — É só ficar parado e fazer essa cara de mau que você sempre faz! Por favor, Sanches!

Depois disso, ela tinha começado a soluçar em um choro convulsivo, num drama maior do que qualquer atriz de Hollywood já fez na história. E agora, aqui estava eu, sofrendo dentro de um terno quente com uma gravata apertada, que poderia muito bem ser uma corda, para me tirar desse mundo de constrangimento.

A questão não era simplesmente o vestuário, ou o fato de eu estar há horas em pé no meu dia de folga. Não, tudo isso seria até suportável se eu não recebesse olhares esquisitos de quase todo mundo que passava por mim — correção, de quase todas as mulheres que passavam por mim. As beldades exuberantes não tinham um pingo de descrição, na verdade, pareciam crianças com seus cochichos e risinhos para o meu lado. Era como se eu fosse a mais nova peça de grife na vitrine, sim, essa seria a melhor metáfora para o que se passava na cabeça oca dessas mulheres que exalavam futilidade.

Mas, com certeza essa experiência me deixaria com algumas lições de vida. A primeira bem óbvia, eu não havia nascido para ser segurança particular e jamais repetiria a dose, e a segunda era também meio óbvia, cair na lábia da Doutora Lilian Medeiros era uma tremenda furada.

Eu estava fazendo ponta como segurança de um casamento, minha função era ficar circulando ao redor da igreja, como um cachorro procurando o melhor lugar para se aliviar, no entanto, eu só queria me esconder das convidadas, que pareciam brotar da terra e me cercavam para onde quer que eu fosse. Apenas imaginar o aconteceria durante a festa de recepção, aonde elas teriam acesso ao álcool e desculpas para serem mais diretas, me dava calafrios.

O que me levava a pensar em formas criativas de dar o troco no cretino do Nic. Afinal, a culpa era totalmente dele por eu estar aqui. Primeiramente, porque se o desgraçado fosse realmente meu amigo, ele teria me livrado dessa, mas não, o infeliz foi o gênio que sussurrou essa ideia brilhante para a maluca da Lilian. E, além disso, nenhum dos dois pombinhos tinha aparecido até agora, o que poderia muito bem ser uma pegadinha do Nic, me mandando para um endereço diferente, apenas para rir depois... Babaca arrogante!

Entretanto, nem mesmo minha sede de vingança poderia negar o prazer que era ter meu bom e velho amigo de volta. Sem dúvidas eu preferia ver o Nic agindo assim, do que tentando se afundar num rio de desespero.

— Você consegue... Respira e inspira... Levante a cabeça e sorria... — a voz baixa de uma mulher me tirou de pensamentos que envolviam danos físicos ao meu amigo.

Durante a minha fuga das convidadas, eu acabei caminhando até os fundos da igreja, chegando a um pátio que dividia a casa paroquial e a nave central. O lugar era um jardim com várias espécies coloridas e até algumas frutíferas, mas o que atraiu o meu olhar foi a figura sentada no único banco existente.

A mulher tinha uma aparência atraente que era inegável, olhos azuis emoldurados por cílios longos e um rosto de linhas marcantes. Contudo, sendo honesto não foi a beleza dela que me fez parar para admirá-la, afinal ela apenas mais uma mulher bonita nessa festa, a diferença era que ela era a única usando um vestido de noiva.

E eu era o único a ver a crise que ela parecia estar tendo.

— Hum, heer, moça? Você está bem? — perguntei me aproximando.

Acordo do Destino #4 (DEGUSTAÇÃO)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora