Desconheço

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Eu costumava me encarar, me enfrentar de corpo e alma, me desafiar sem medo de perder, me inspirar todos os dias com pensamentos diversos. Mas hoje eu corro de mim. Corro dos compromissos que arrumo. Fujo das pessoas que conheço. Desconheço o meu ser e o meu viver. Hoje eu desapareço em fraquezas. Sumo em desespero. Ignoro a minha existência. Hoje eu caminho com firmeza pra tentar transparecer que aqui dentro ainda vive a certeza. Mas é conflito, confusão e correria. Se tornou casa vazia que um dia já foi cheia, mas que agora traz consigo esse sentimento de agonia.

A vida já foi mais bonita. Já foi de cores mais vivas, de vermelhos intensos, de manhãs de céu azul, de fins de tarde alaranjados na casa da vovó. Hoje os dias são cores borradas. São manhãs sonolentas. Ar-condicionado, branco e quadro. São tardes irritantes. Conversa fiada, deboche e quase nada de bom. Mas elas já foram bordadas, fio a fio, pela vida e pela alegria de não ter tempo pra ser feliz.

Eu corri de mim quando me perguntaram se estava tudo bem e apenas disse sim. Abaixei os olhos e fugi de mim. Quando me perguntaram se precisava de ajuda e eu disse que não. Abaixei os olhos e fingi que a dor era apenas uma questão de tempo para ser curada. Eu esqueci de mim quando me olhei no espelho e me vi inteira. Me olhei de novo e me vi em pedaços. Disse para mim mesma que compraria uma cola para resolver o problema. Abaixei os olhos e enganei a mim mesma do rumo que tomava a minha vida. Hoje eu me encontrei na rua, abaixei os olhos e continuei andando como se não conhecesse aquela menina.

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