Sem amor

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Eu costumava me desmanchar a cada sorriso teu. Eu costumava rir das bobeiras que diz ou me interessar pelos assuntos que fala, mesmo que eu não entenda e não tenha interesse. Eu costumava me sentir segura, sem medos ou receios. Eu costumava me jogar, mas agora me prendo.

Me prendo nessa incerteza louca de não saber que futuro teremos. Me seguro e me privo de toda e qualquer novidade que possa me fazer pular contigo. Me esforço pra não te dizer o que sinto, mas esses dias o assunto escapou da garganta e nos vimos frente a frente com os próprios receios, né?

Me diga você, quis saber ansiosa, o que acha que vai acontecer com a gente? Pensativo, apenas respondeu que não tinha certeza. Descobri nesse momento que o medo também te domina, te desestabiliza e te sufoca. Descobri que estamos deixando levar e não sei definir se gosto ou não desse amor morno. Entendi que a gente tá na mesma. Tá deixando rolar e esperando pra ver quem vai pôr fim no nosso namoro.

Você perguntou se eu queria ficar com você pra sempre, e é claro que respondi que sim, afinal, ainda amo você. Mas acredito que perguntou porque, no fundo, tinha alguma dúvida de que eu dissesse que não sabia mais. Então, mais uma vez, retornamos duas casas no jogo. Recuamos por puro medo da verdade.

E eu não tenho certeza de nada. Nada mesmo. A gente foi se deixando entregar e se fazendo de desentendido em cada nova situação. Comecei a pensar muito se realmente era isso, se a gente ainda valia a pena insistir. Então, depois de conversar com meus amigos, de pedir aqueles conselhos de sempre, decidi que conversaria com você. Mas a maior das minhas surpresas foi o seu desenrolar da conversa.

Foi como se tivessem roubado todas as minhas esperanças depois de semanas pensando sobre nós. Mas o nós pelo jeito só existe porque a gente ainda tá insistindo nisso que chamamos de amor. O nós só existe porque ninguém quis abrir mão dos nossos trabalhos e das nossas saídas no sábado à noite. O nós só existe porque a vida ainda tá permitindo que exista.

No desembrulhar do presente que você me deu, percebi que do ano que vem a gente não passa. No desembrulhar da nossa conversa percebi que somos caso perdido, mesmo que tentemos segurar as pontas para que as coisas não desmoronem agora.

E foi nessa conversa que tive vontade de te indicar um livro que fala sobre término. Talvez de alguma forma pudesse nos trazer uma luz de como reagir. Até mesmo parei de ler, já que meus pensamentos não saíam de você, e de mim, e de nós. Tive vontade de fotografar todas as páginas e te encaminhar por Whatsapp só pra ver se você se sente como eu.

Mas então guardei o livro na estante, apaguei a nossa conversa sobre o que ainda restava dos nossos sentimentos e voltei para o que chamamos de amar alguém. Talvez seja assim o nosso fim. Sem mas e poréns. Sem sal ou açúcar. Sem amor.

ALMA PURAWhere stories live. Discover now