O Tempo

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Alissa foi levada para dentro de casa, o lugar onde acordou todos os dias, tomou o café da manhã, cuidou das flores e viu os pais lhe darem todo o seu amor.
Ela se lembrou do tempo em que os três eram felizes, e não conseguiu acreditar se um dia seria de novo.

- Fale conosco, querida. - Alice pediu com a voz embargada. - Conte-nos o que aconteceu com você.

- Guilhermo lhe machucou? - O Chapeleiro segurou a mão dela, sua preocupação era imensa. - Alissa, por favor, diga o que aconteceu lá.

Mas Alissa não conseguia falar, seus lábios estavam apertados um contra o outro, e suas mãos agarravam a Espada Real com todas as suas forças.
Ela estava em choque.

- Nós sentimos tanto a sua falta. - Alice fez um carinho no rosto dela. - Esperamos todos os dias por você.

- Trevor. - O Chapeleiro arqueou as sobrancelhas e sequer notou que Alissa havia entre aberto os lábios quando ouviu a última frase da mãe. - O que houve com ele? Diga que ele está bem, Querida.

- Dias. - Alissa falou e olhou de um para o outro, refletindo seu pânico sobre o tempo que havia passado. - Dias..

- Sim. - Ele assentiu várias vezes. - Fazem dois anos que vocês desapareceram, minha filha.

A Espada caiu das mãos dela, que se lançou nos braços do pai aos prantos.
Alice e o Chapeleiro trocaram olhares aflitos e ela se uniu ao abraço.

- Vai ficar tudo bem, Alissa. - Alice disse entre os soluços da filha. - Já passou.

- Não. - Alissa saiu do abraço e encarou os pais. - Vocês não entendem! Eu preciso voltar!

- Não. - O Chapeleiro franziu o cenho, confuso. - Você não vai voltar de modo algum. Esqueça isso, nós não deixaremos.

Alissa voltou seu olhar para a mãe e esperou que ela entendesse, mas Alice negou com a cabeça ainda que sofresse.

- Não temos que fazer isso. Eu escolhi esse destino, querida, e você não pode tentar mudá-lo.

- Eu posso. - Alissa tentou pegar a Espada, mas Alice foi mais rápida e a pegou. - Me dê essa espada, mãe! Ela é minha!

- Não é sua! - Alice ficou de pé e se afastou. - Eu não vou deixar você voltar para lá, Alissa!

- Náo briguem. - O Chapeleiro ficou entre as duas. - Brigar não é bom.

- Papai. - Alissa levantou e tentou passar por ele para pegar a Espada de volta. - Diga à ela para me dar a Espada Real! Eu não deveria estar aqui!

- Não! - Alice respondeu por ele e lançou um olhar irritado à Alissa. - Você não vai voltar e está acabado!

Alissa soltou um grito mesclado a um grunhido de raiva e puxou os cabelos, sem saber o que fazer.

- Pare de ser tão autoritária, Rainha Vermelha! - Ela exclamou contra Alice, que engoliu em seco e deu um passo para trás.

Um silêncio sombrio se instalou na sala de estar, e então Alissa se deu conta do que disse e fixou seu olhar arrependido no da mãe.

- Me desculpe. - Ela derramou mais lágrimas de aflição. - Me perdoe, mãe.

- Eu... - Alice sentiu um mau estar e seu rosto se tornou pálido, logo os joelhos dela cederam e ela caiu sentada no chão.

- Alice! - O Chapeleiro correu para ajudá-la.

- Está vendo! - Alissa também correu para a mãe. - Se eu não voltar você vai morrer!

- Não importa. - Alice disse sem fôlego e cada vez mais sem cor. - Eu não quero que você fique perto dele.
Ele vai machucar você.

- Me diga o que fazer. - Alissa implorou à mãe. - Por favor, mamãe, eu imploro. Estou disposta a voltar lá por vocês, eu faço o que for preciso para que vocês fiquem bem.

- Não. - Alice ainda mantinha a Espada em sua mão. - Não posso.

Alissa se desesperou e usou de outra forma para o convencer a mãe.

- Olhe para o papai, ele está sofrendo. Você não quer isso e nem eu! Me deixe voltar, me diga o que eu posso fazer para ser feliz lá!

Alice sentiu o gosto de sangue na boca, sua vista ficou turva e ela fechou os olhos.
Naquele momento Alissa tomou a Espada das mãos dela e se afastou.

- Papai. - Ela o chamou e ele voltou seus olhos tristes para ela. - Eu darei um jeito de ver vocês de novo, mas me diga o que fazer. Me ajude a ser boa como você.

- Alissa. - Ele segurou a mão de Alice e ignorou os pedidos fracos dela de "não". - Esqueça completamente da busca pela sua felicidade, não se preocupe com ela, pois ela virá até você. Sua única preocupação deve ser com os outros, todos eles.
Não destribua o ódio e o rancor, não diga palavras cruéis contra o seus inimigos, e assim você os vencerá.

Alissa não queria ir embora, ela não queria deixá-los daquela maneira, mas ela sabia que enquanto estivesse ali, sua mãe ficaria cada vez mais doente e morreria.
Ela jogou um beijo para o pai, e tentou dizer que o amava, mas sua garganta estava fechada.
Suas mãos seguraram a Espada Real com firmeza, e ela procurou gravar aquela imagem e as coisas que ele lhe disse, e se sentiu pronta quando disse:

- Eu desisto.

Alice e o Chapeleiro 2 (Em Revisão)Where stories live. Discover now