Alice e o Chapeleiro 2 (Em Revisão)

Aprendendo a Lição

Como se fosse um chicote vivo, a água gelada entrou em contato com o tornozelo de Alissa.
Ela agitou o pé, se abaixou para arrancar aquilo com suas próprias unhas, e grunhiu quando viu que era em vão.
As sereias saíam da água aos montes e cercavam uma Alissa em pânico.
Ela segurou firme o cabo da espada, mentalizou a casa que foi de seu pai e falou:

- Eu desisto!

Alissa estava de olhos fechados, mas os abriu quando sentiu uma mão fria agarrar seu pescoço e as unhas pontiagudas perfurar sua pele.
Os olhos de ira da sereia na sua frente deram medo à Alissa, que não conseguia pensar em qualquer forma de fugir dali.

- Você não vai a lugar algum, sua estúpida.- A sereia ruiva sorriu, mostrando dentes pontiagudos.

- Espere! - Alissa exclamou em meio ao medo de morrer. - Eu peço perdão pelas coisas que disse! Sim! O Trevor com certeza é um bom... Um bom Rei! Eu peço que me perdoem por ter sido tão petulante.

A sereia ruiva afrouxou o aperto e pareceu reconsiderar sua decisão.

- Estou ouvindo. - Ela incentivou Alissa a continuar a falar, se divertindo com aquilo.

Alissa, por sua vez, assentiu e engoliu em seco, e também o orgulho.

- Sou muito petulante e egoísta, mas prometo que vou tentar melhorar. Vocês não se sentem bem morando neste pequeno lago, eu sei disso.
Sendo assim, dou-lhes a minha palavra de futura Rainha de que enviarei todas as sereias para a praia.
Eu posso fazer isso, apenas me deixem tentar.

As sereias trocaram olhares de ambição, raiva, confusão e desejo, todas sem saber o que fazer naquele momento.
Obviamente, as Sereias Selenas da Lua queriam Alissa morta, mas a decisão não era delas.

- Rubi. - Ouromiia, a Rainha das sereias chamou, e a ruiva lhe lançou um olhar de esguelha. - Eu quero falar com a estúpida.

Alissa ergueu uma sobrancelha ao ouvir o modo como era mencionada, mas ela não estava em condições de retrucar.
Rubi, a sereia ruiva, mostrou os dentes em ameaça para ela, mas se afastou e direcionou seu olhar para o tentáculo de água que ainda se mantinha preso no tornozelo de Alissa.

- Leve a estúpida até a Rainha.

No segundo seguinte Alissa, aos gritos e protestos, foi arrastada pela grama fria e lançada no lago sem o mínimo de cuidado.
Ela afundou de imediato e tentou nadar, mas ainda sentia seu pé preso e que era puxada cada vez mais rápido. O pouco de ar que havia em seus pulmões se esvaiu exatamente no momento em que o corpo dela saiu completamente da água e caiu sobre a rocha onde estava Ouromiia.
Alissa teve uma crise de tosse e seu olhar atordoado foi para os pés da sereia Rainha, e ela se questionou mentalmente sobre sereias que ganham pernas quando não estão na água.

- Está intrigada? - Ouromiia perguntou, mas Alissa ainda não tinha ar suficiente para responder. - Meu belo Rei se solidarizou com a minha fome. Segundo sua nova ordem, agora as minhas irmãs podem procurar por comida em outros lugares.
O Soberano andou tanto para chegar onde está, mas nunca me esqueceu.

Ouromiia deslizou as longas unhas pelo lábio inferior, e seu olhar se tornou vago e travesso.

- Ele prometeu vir me ver na próxima Escuridão.

Alissa ficou de joelhos e tirou os cabelos ruivos do rosto, mostrando uma face incrédula e pálida.

- Trevor... - Alissa puxou o ar para respirar. - ... Ele ordenou que vocês ganhassem pernas? Isso não...

Quando ela encarou Ouromiia, engoliu o restante de sua frase ao se dar conta de que diria uma grande bobagem.
Contestar a ordem do "Rei" não era o melhor a fazer naquela situação, na verdade, se Alissa não medisse bem as palavras, não sairia viva dali.

- Se ele prometeu, então, de certo ele virá. Peço humildemente que vossa alteza me diga como ele se tornou Rei.

Ouromiia fixou seu olhar no de Alissa e deu de ombros.

- As criaturas podem dar ordens para os seres que estão em sua cadeia alimentar, ao menos os menores deles.
Se eu ordenar que os camarões venham até mim, eles virão e eu os devoro. - Ela girou o dedo indicador. - Todos os seres do País das Maravilhas podem fazer o mesmo.
No entanto, quando o Rei Vermelho passou a nos atacar de forma impiedosa em sem motivo algum, Trevor se colocou em nossa defesa, mas saiu muito machucado.

Alissa arfou com a notícia e seu estômago revirou.

Trevor estava fazendo o que eu não fui capaz de fazer.
Sem poder algum, ele escolheu dar a sua vida pelos meus súditos, ele fez tudo isso enquanto eu fugi mais uma vez.

- O Rei Vermelho acreditou que Trevor estava morto, mas nós cuidamos dele, todos nós, e reunimos todas as criaturas que são capazes de dar pequenas ordens, e demos o nosso poder ao grande merecedor dele.

Alissa derramou as lágrimas em silêncio, petrificada com o relato que ouvia, conseguindo imaginar os mínimos detalhes do momento em que fizeram de Trevor o Rei mas amado dos País das Maravilhas.

- Você consegue me entender? - Ouromiia perguntou e sorriu diabolicamente, mas continuando linda como somente uma sereia poderia ser. - Trevor não precisa de você para absolutamente nada.
Nenhum de nós precisa do seu poder e a soberba que vem com ele.
Você se tornou algo irrelevante que sequer serve de alimento, pois deve ter um gosto muito amargo.

Ouromiia se alegrou quando viu que Alissa estava em estado de choque.

- Me diga, Alissa. Qual é a sensação de não ser amada por ninguém no seu próprio mundo?

Alissa deixou o queixo cair, que tremia com o frio e a realidade posta diante de si.

Como Rainha de um reino que se sobressai aos outros dois, como dona de todo o poder que vem desde os seus pais, Alissa falhou em sua missão.
Ela foi, por todos, rejeitada.