Cap 1 - Recomeço

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Era um dia chuvoso, como normalmente era todo Dia de Finados. O cemitério Campo da Esperança fica muito movimentado nesta data, independente se chove ou não. Provavelmente isso acontece em todo Brasil, ou em todo mundo, talvez seja com um ânimo diferente no México, afinal lá, esse é um dia de festa.

Mas para Lúcia...

Para ela, assim como para a maioria dos brasileiros. Esse era um dia de luto.

Pessoas entravam e saiam do cemitério. Floristas vendendo coroas, buquês e diversos outros ornamentos floridos, estavam por todo canto. Mas Lúcia estava parada, na frente do cemitério. Ela odiava entrar em cemitérios. Nunca se sentiu bem lá dentro e desde que passou a ter autonomia sobre seus atos, ela deixou de ir aos funerais que sua mãe tanto insistia que comparecesse.

Mas dessa vez, o funeral era de sua própria mãe.

Michele dos Anjos sempre foi uma mulher muito devota a sua crença. Não era uma católica fervorosa, muito menos uma evangélica praticante ou pertencente a qualquer outra vertente religiosa polarizada. Ela simplesmente acreditava no amor de Deus, e esse amor, para ela, já bastava. Teve uma vida dura, casou-se muito nova, pois temiam que ela nunca arrumasse um marido por ser infértil. Mas sua bondade e delicadeza, em tratar todos com o mesmo amor que o Criador tinha pela criação, foi recompensada com uma filha. Engravidando quando tudo indicava que aquilo era impossível. Aquela criança foi a luz que a manteve firme e na trilha certa, mesmo após a morte de seu marido. Lúcia foi o seu pequeno milagre.

Mas agora, Michele estava morta. E sua filha, só.

Lúcia era uma moça com já seus vinte e sete anos, apesar de aparentar ter uns cinco anos a menos. Era bonita e atraente, mesmo com as curvas de seu corpo sendo modestas e recatadas. A pele clara por conta da pouca exposição ao sol, ressaltava o tom negro de seus longos e volumosos cabelos cheios de ondas, que ela fazia questão de deixar solto, como sua mãe gostava. Mas apesar de possuir a beleza de uma modelo, Lúcia não gostava de chamar atenção para sua aparência, sempre preferindo vestir roupas folgadas e sem decotes, como a camisa cinza com estampa de gatinho que vestia na ocasião, junto de uma calça jeans básica. A única coisa que realmente chamava atenção para a moça que estava parada na entrada do cemitério, eram seus olhos, extremamente azuis e radiantes, como duas gemas de safira.

A família de Lúcia era muito pequena, e infelizmente, o câncer havia ceifado a vida de sua mãe, pai e avós. É bem verdade que ainda tinha outros parentes vivos, e muito bem de saúde, mas eram todos muito distantes. Exceto Suelen, a única prima com quem ainda mantinha contato, mesmo após ela ter se casado com um embaixador da ONU e se mudado para a grande São Paulo. Ela gostava muito da prima e aparentemente, Suelen também gostava muito de Lúcia, a ponto de chamá-la para ser madrinha de seu filho, Heliot, o afilhado-sobrinho que ela também gostava muito. Na verdade, Lúcia os amava, assim como amou seus pais.

Começou a chover. E Lúcia continuava na entrada do cemitério, sem entrar ou sair.

Eis que então, um grupo de pessoas com guarda-chuvas começou a sair do local. Uma mulher se destacou desse grupo e foi em direção à Lúcia. Era uma mulher de porte mediano, vestida com um sobretudo fino e elegante. Sua pele também clara e os cabelos negros, como os de Lúcia, porém os da mulher estavam curtos, em um corte Chanel. A diferença mais marcante entre as duas eram os olhos. Pois além de Lúcia possuir olhos unicamente intensos, a mulher que se aproximava tinha olhos amarelos como âmbar. Além de possuir seios claramente mais volumosos, porém não exagerados, apenas indicando uma mulher que já teve de amamentar uma criança.

— Lúcia! — gritou a mulher de olhos cor de âmbar, correndo na direção da outra que estava parada na chuva. — Menina sai dessa chuva, vai acabar se resfriando.

Luz e Sombra - Imaculada (Degustação)Where stories live. Discover now