Cap 6 - Encurralada

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Na manhã seguinte o dia estava radiante, claro e sereno. Nem parecia que na noite anterior, Lúcia teve a experiência angustiante de ser assediada por um estranho em seu próprio quarto, sem sequer pode pedir que alguém a socorresse.

Na verdade, parecia que a vida, externa ao que acontecia com a moça, era linda e tranquila. Mas só parecia, pois na verdade, nada havia mudado, apenas a percepção de Lúcia.

Naquele dia Suelen voltava a trabalhar, Heliot iria para o curso de verão de pintura e Morris para as reuniões com os consulados. Durante o dia, apenas ficariam em casa, além de Lúcia, Heitor, dona Guilhermina, Jurema (a empregada que fazia a limpeza da casa quando era preciso) e o segurança do dia.

Lúcia ainda teria uma longa espera até o horário em que foi ordenada a aparecer no shopping, que ficava há alguns minutos dali. Na verdade, ela até cogitou a possibilidade de não ir, mas o medo de que algo ruim acontecesse a Suelen e Heliot, era maior que o medo que sentia ao encarar o demônio.

Já que estava encurralada, dos males o menor.

No entanto, a tensão da espera a impedia de fazer qualquer outra coisa. Lúcia não conseguia sequer retomar a organização do novo plano educacional, da matéria que iria começar a ministrar dali dois meses. Ela então decidiu sair antes do horário necessário e passar em qualquer outro lugar, para ver se matava o tempo.

Optou por ir ao MASP e à Pinacoteca, ver as obras expostas e pegar algumas cartilhas para ajudar a programar suas aulas, quando conseguisse voltar a programá-las. Isso se fosse viver até lá. Como Lúcia não dirigia, todas suas viagens pela cidade eram feitas acompanhadas pela prima ou por Heitor, essa seria a primeira vez que ela sairia sozinha, usando o transporte público. Pelo menos era a primeira vez desde que se mudou para São Paulo.

O dia parecia estar irritantemente mais lento, e isso a deixava ainda mais nervosa, pois ela sequer sabia o que iria acontecer, ou por que o homem demônio havia sido tão específico quanto ao horário.

Motivada pelo nervosismo, Lúcia decidiu ir logo ao shopping. Seu plano era ficar na livraria até dar o horário, se fosse preciso. E foi o que Lúcia fez, chegou duas horas antes, e foi escolhendo livros aleatórios sobre História da Arte, pois ela queria pelo menos aproveitar a oportunidade para tentar se focar em seu projeto e tentar se acalmar com isso.

Faltando dez minutos para o horário marcado, Lúcia se preparou para se dirigir à frente do shopping, mas quando ela se deu conta do que estava ao seu redor, a moça pode ver que na poltrona à sua frente o demônio já a estava observando.

Há quanto tempo? Ela nunca saberia.

O homem dos olhos vermelhos a observa calado e com o mesmo sorriso cínico, cheio de malícia, no rosto. Ao ver que finalmente ela o notou, ele se levantou da poltrona e se dirigiu para a saída da livraria, gesticulando para que ela o seguisse.

Sem muita opção, ela o fez.

O homem se mantinha sempre à frente. Ele seguia para o piso Jurupis, que fica no subsolo, onde estava localizada a praça de alimentação. Lúcia tentava alcançar os passos do homem, para não perdê-lo de vista no meio da multidão, mas ao chegar na frente de um restaurante, ela o perdeu de vista.

Só que na verdade ele estava atrás dela.

— Está vendo aquele homem sentado à mesa? — sussurrava o demônio no ouvido de Lúcia, enquanto apontava para uma mesa no canto do restaurante.

Ela se esforçou para conter um grito de susto e o arrepio que percorreu seu corpo, para finalmente assentir com a cabeça.

— Quero que leve-o para a rua que tem atrás do shopping, na altura de um poste que está queimado.

Luz e Sombra - Imaculada (Degustação)Where stories live. Discover now