Cap 4 -Sonho

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A manhã seguinte estava tranquila e úmida. Chovia serenamente, apesar do dia estar claro. Lúcia havia acabado de acordar. Estava em sua cama, vestida com seu pijama e envolta por cobertas.

Ao mover a cabeça para o lado, ela pode ver em cima da cômoda, em que normalmente ficava seu notebook, uma caixa de remédio, um copo com água e um termômetro digital. Havia também uma cadeira ao lado de sua cama. Era a cadeira que ficava ao lado da penteadeira. Lúcia estava confusa e seu corpo dolorido. Ela não se lembrava de voltar para casa e ao que tudo indicava, esteve doente durante a noite toda, mas alguém cuidou dela.

Foi então que a porta do quarto se abriu. Era dona Guilhermina, entrando com uma bandeja de café da manhã. A senhora apoiou o instrumento na penteadeira do quarto e seguiu em direção a moça deitada na cama.

— Que bom que acordou, meu anjo. — disse a velha governanta com alívio. — Nos deixou muito preocupados.

— O quê? — Lúcia tentava se lembrar do que havia acontecido no dia anterior, mas não conseguia se lembrar de nada. — O que houve?

— Você adoeceu querida. Mais de trinta e nove graus de febre. O senhor Morris até teve que chamar do Doutor Gonzalo para vir te ver. — falava a senhora enquanto pegava o termômetro para conferir a temperatura atual da moça. — Eu e a dona Su, ficamos revezando para verificar se estava melhorando.

— Su?

A menção da presença de Suelen foi meio que um gatilho para algumas memórias, mas não para tudo. Agora ela apenas lembrava de ter ido passear com a prima e o afilhado. Lembrava de andar pelo shopping, de comprar roupas, de ir no ateliê da cerimonial que ajuda Suelen nas festas, e só.

— O que exatamente aconteceu tia Gui? — Lúcia se moveu para ficar sentada na cama.

— Não sei direito, minha querida. — A senhora guardava o termômetro após ver que a temperatura da moça já estava estável. — Heliot ou Su saberiam te dizer melhor. Mas parece que você estava tirando uns sacos de lixo, que estavam obstruindo uma rua, quando sumiu de repente.

— Como? — A informação parecia absurda por vários aspectos. — Suelen ou Heliot estão em casa.

— Su não, foi trabalhar. Heliot sim.

— Poderia chamá-lo pra mim? — Lúcia calculou que seria melhor perguntar direto para um dos dois.

— Claro meu anjo. — Dona Guilhermina se levantou da cadeira ao lado da cama, foi buscar a bandeja de café da manhã que havia deixado na penteadeira, e a deixou na cama. — Tome seu café enquanto isso querida.

Lúcia assentiu com a cabeça, logo após, a senhora saiu do quarto. A bandeja de café da manhã não era muito grande, mas cabia bastante coisa.

Dona Gui havia separado as coisas que a moça mais gostava de comer no café da manhã. Iogurte de frutas, banana, uvas, pão francês com presunto e ovos mexidos, chá de capim cidreira e rosquinhas de coco. Estava tudo ali. Mas Lúcia não sabia se conseguiria comer tudo aquilo, pois seu estômago parecia se revirar, e isso reduzia sua fome.

Houve uma batida na porta.

— Tia Luci? É o Heliot. — disse o garoto do outro lado da porta fechada. — Pediu para me chamar?

— Pode entrar.

— Bom dia, tia. — O rapaz entrava no quarto um pouco acanhado.

Heliot era um garoto de dezessete anos, com um pudor e senso de moral elevado demais para um rapaz daquela idade. Isso somado ao seu lado "cavalheiro", o deixava constrangido quando se encontrava em situações onde haviam mulheres fragilizadas, ou em condições muito íntimas (esse foi um dos motivos que o fez parar de querer ir à praia). Ter resgatado a tia enquanto ela desmaiava e vê-la acamada, trajada apenas com um simples pijama, era uma dessas ocasiões em que ele se sentia constrangido. Se fosse o amigo And em seu lugar, provavelmente estaria pensando besteiras inapropriadas, o que é normal para os garotos nessa fase. Mas Heliot sempre foi diferente da média dos garotos nesse aspecto, e isso rendia a ele alguns apelidos desconfortáveis nos círculos dos rapazes da escola, mas Heliot nunca se importou muito com a opinião dos outros garotos.

Luz e Sombra - Imaculada (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora