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A luz do sol passava pelas janelas bem pintadas da catedral de Busan, atravessando o vidro colorido e se projetando em milhares de pequenos pedaços de cores espalhados pelo chão.

Yoongi jamais imaginou que voltaria a encarar as projeções da janela da catedral de Seul, até aquela ligação.

Estava uma noite muito tranquila entre os Min's. Haviam tomado sorvete com Jung Hoseok que os deu carona e quase ficou para dormir. Após a chegada ainda jantaram lasanha requentada e assistiram realitys de idol até dez da noite, quando o número da mãe de Yoongi brilhou na tela.

Geralmente a mulher não era de perder tempo. Era direta e ocupada demais para simplesmente ligar e bater um papo. Quando a mãe de Yoongi ligava sempre era algo sério. Ao perceber de quem se tratava, distraiu Yang-Mi e foi à varanda apertada do apartamento.

Não se surpreenderia com um tom ácido na voz da mulher, talvez por isso que se assustou tanto ao ouvir soluços altos do outro lado da linha.

ㅡSua irmã irá te buscar pela manhã para o enterro, seu pai morreu.

Era isso.

Por quinze segundos Yoongi sentiu que iria cair da sacada.

Era isso.

O encontro inevitável do ser mais frágil com o único mal irremeável.

A morte.

Yoongi sentiu um forte impacto dos joelhos com o chão quando suas pernas fraquejaram.

A sua maior inspiração deixou de existir para sempre. Vagando sobre o desconhecido do infinito num encontro não marcado entre criador e criatura.

Foi a primeira experiência de luto para Yoongi, ( e também para sua filha) o deixando totalmente desconcertado para a expor a aquela experiência tão cedo.

Era quase meia noite e ele estava ligando para Jung Hoseok, sentindo sua garganta fechar em palavras guardadas.

O luto era pior do que a tristeza e a raiva, por que era uma junção indesejada de saudade e remorso sem fim de palavras não ditas e sentimentos não demonstrados.

Quando Jung atendeu o telefone, teve contato pela primeira vez com o lado fraco de Yoongi. Quase se desesperou com a voz chorosa do outro lado.

Após ouvir a história toda, ofereceu sua casa para a estadia se Yang, que foi prontamente aceita. Yoongi estava totalmente desnorteado.

O loiro pôs a filha na cama e sentou no chão de seu quarto, abrindo o álbum de fotos.

Parara de mexer no passado quando Yang-Mi chegou. Ela era sua resposta, mas ele se esquecera que ainda não sabia a pergunta.

Quando o dia amanheceu ele deixou Yang-Mi na escola, combinando na portaria a autorização para Hoseok busca-la e partiu de mala feita para dois dias, rumo a Seul.

O velório fora algo grande, típico da família. Muitas pessoas que sequer conheciam o pai. Yoongi não se surpreendeu ao encontar Chae-rin num tubinho curto com um grande chapéu e óculos escuros. Eram dez da manhã.

O fim do velório demorou a acontecer, o fazendo por bastante tempo encarar o chão pintado pelo vidro que o sol refletia.

Não queria olhar de jeito nenhum para o corpo. Era a pessoa que o ensinou a tocar teclado ali. Era quem o ensinou a se dedicar ao máximo em tudo que fosse possível. Ele era quem era porque o pai o ensinou.

O Sr. Min era dono de uma grande loja de instrumentos e desenhista simultaneamente porque não sabia o que escolher entre música e desenho.
Praticamente criou a filha mais nova porque a Sra. Min sofreu muito no pós-parto. Depois ainda cuidou do filho quando nasceu, rejeitado pela mãe por não ser menina.

A mulher gananciosa queria duas meninas para orquestrar um bom casamento. De nada a servia um garoto magricela e respondão.
O homem deu todo o afeto que precisava e ensinou desenas de instrumentos ao Min menor.

Mesmo depois do sucesso e dinheiro permaneceu na casa pequena, vestindo sempre suas camisetas socias estampadas com gravatas exóticas.
E além disso amava os animais. Tinha desenas de gatos e cachorros na casa onde vivia, sozinho pois a Sra. Min decidira a tempos que não era para seu bico viver bancando a rica humildade e se mudou para um bairro nobre.

Agora o que restara do Sr. Min além de três herdeiros, uma fortuna e uma cadela vira-lata magrela que mal sabia caçar?

A cadela, Min Holly, supostamente de raça mas que logo foi descoberta apenas uma vira-lata peluda demais, era o amor da vida de Yoongi.

Iam para cima e para baixo juntos quando ele vivia com os pais, mesmo com a irmã tentando se desfazer dele.

Agora com a morte do pai, a cadela não tinha lar. A coitada desde o início do velório estava amuada na porta da igreja, incomodando as madames amigas da Sra. Min.

Yoongi encarava os pedaços de luz no chão para não olhar para o caixão ou para a cadela amuada do lado de fora.
Se ele olhasse para frente choraria e se olhasse para trás, sairia correndo com a cadela nos braços para o mais longe possível daquela merda hipócrita.

Estava tão entretido que ao menos percebeu que era sua vez de falar.

Todos olhavam para si.

Yoongi meio nervoso, foi até o púlpito e saldou as pessoas. Sabia o que queria falar, mas as palavras se prendiam na garganta fazendo um bolo se formar.

Sorriu meio amarelo paraas pessoas, começando a formular frases.

ㅡEr...bem, o meu pai...ele foi...

Olhou novamente para a cadelinha magra e sarnenta no começo da igreja.

Ele estava fazendo tudo errado.
Seu pai não agiria assim. Ele não era de discursos pra gente fingida.

Respirou fundo e olhou para a mãe e irmã que fingiam um choro.

Sabia que se fizesse o que pretendia, seria deserdado.

Respirou novamente e apenas correu.

Tomou impulso e correu até a cadelinha, a pondo debaixo do braço e a correndo até a estação de metrô.

Se ele não ficaria com o pai para sempre iria usufruir dos reflexos coloridos da vida dele.

Afinal, Yang-Mi sempre quis um cachorro.

Not Your Princess「☽」Yoon.SeokOnde histórias criam vida. Descubra agora