As escamas vermelhas

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A loba de pelos cinzas consegue abocanhar outro peixe vermelho, maior do que outro e aparentemente  mais difícil de ser controlado.

Ela aperta mais sua mandíbula até que um fio de líquido escarlate escorra do animal.

Todas comemoram silenciosamente, exceto eu e Dikeledi, que ainda me encara com um olho trêmulo e outro nublado incapaz de enxergar algo.

- Pode falar primeiro, o que o lobo disse. - ela senta-se à poucos centímetros da margem molhada do rio e relaxa a sua expressão pra que eu possa começar a falar.

- O que aparentava ser o líder deles, - a imito, sentando ao lado da margem e à menos de um metro de distância da alfa, pra que eu não precise falar tão alto - Disse algo como "tomaremos de volta o que é nosso", acha que ele estava se referindo ao território?

Dikeledi engole seco e vejo pela sua surpresa, que não esperava por uma coisa desse tipo.

Quem espera uma desgraça dessas?

- Isso foi tudo que ele disse? - ela questiona e de relance, vejo suas garras cravadas com força sobre as pedrinhas cinzentas.

Acrescento a parte em que ele falou sobre nos impedir de resgatar os filhotes - não que ele terá sucesso nisso se depender de mim.

- Neve, leve essa informação até meu parceiro e retorne ao nosso grupo assim que entregar a mensagem. - Dikeledi fala para uma coruja, que aguardava sobre um rocha próxima e consequentemente, ouviu tudo.

A coruja, Neve, assente com a cabeça estufada de penas brancas e pontilhadas de detalhes escuros, como um céu noturno inverso.

Não dá um pio e rapidamente alça voo, cortando o céu colorido do crepúsculo e sumindo nele dentro de alguns segundos.

Nos deixando para trás e encarando o dossel das folhas finas e estranhas.

- Agora eu que preciso lhe falar uma coisa. - sua voz soa baixa, baixa demais na minha opinião, minha consciência começa a se contrariar com isso. - O Corvo me pediu para te avisar, sobre sua nova habilidade, ele havia me explicado como funcionava.

Ela para subitamente de falar e olha para as lobas.

- Já vamos comer. - ela diz com um meio sorriso para as lobas que se agrupam ao lado de uma rocha grande e ao redor dos peixes que conseguiram pegar.

Meu estômago dá sinal de vida ao olhar para os peixes avermelhados, parecem tão saborosos e o aroma sangrento aguça ainda mais meu olfato e a fome.

Não percebi que estava tão faminta.

- Raksha. - a alfa me chama ao perceber que divaguei um pouco. - O Corvo me pediu para que te avisasse, não use demais esse chamado e não dê muitos detalhes as lobas, elas terão de ver com os próprios olhos.

- Ele explicou o motivo disso? - pergunto tentando bloquear todas as questões que surgem na minha mente e felizmente, consigo.

- Não, apenas havia me pedido isso e partiu sem dizer mais nada. - ela fica de pé e dá uma breve sacudida no corpo para tirar poeira dos pelos brancos, seu olho transmite calma agora.

- Sei bem como ele é. - olho para o meu reflexo novamente, ele poderia ter me avisado isso ao invés de pedir a alfa para fazer isso.

Folgado e idiota.

Acertou, consciência.

- Bem, vamos comer, ainda temos uma noite inteira pela frente. - Dikeledi corre um pouco para chegar ao grupo das lobas, enquanto eu me contento em andar devagar observando o Sol sumir e se afundar ainda mais no horizonte.

Também vejo todas as corujas devorando um peixe menor nos galhos de uma árvore morta, que destoa do resto dos pinheiros vivos e grandiosos.

A brisa que sopra sobre a superfície da água, é fria e carrega um cheiro leve de folhas.

Quando chego no grupo que cerca os peixes, duas lobas - Tepi e a loba pescadora, abrem espaço para que eu possa me juntar a elas.

Não há conversa, todas apenas comem os peixes com cautela - ninguém quer ficar entalada com um dos ossinhos, Tepi passa metade de um dos peixes avermelhados para mim.

Agradeço silenciosamente e começo a morder pequenas partes da carne, escolhendo os pedaços com menos probabilidade de ter espinhas.

O único ruído no ambiente, são nossos sons de mastigação, a carne semdo dilacerada de forma voraz.

Minha cabeça fica vazia de pensamentos enquanto me alimento e um alívio primitivo percorrer o meu corpo quando termino o peixe.

Todas continuam em silêncio e assim que também terminam com a carne, se deitam confortavelmente para limpar as patas e focinho.

Faço a mesma coisa, e tomo um cuidado extra ao limpar o focinho - não quero nem imaginar na quantidade de dor que eu sentiria se passasse uma garra sobre a carne-viva abaixo dos olhos.

A curiosidade delas sobre o que aconteceu comigo, deu lugar a um cansaço que todas estavam tentando ignorar ao longo do caminho - não pela distância, mas pela tensão e o medo de ser atacadas que se acumulou.

Bocejo, minha energia subitamente parece ter sido sugada - para digerir o peixe talvez.

Semicerro os olhos, observando o céu mudar definitivamente para os tons mais frios da noite e antes que eu perceba, o sono leva minha mente a um lugar vago e distante de tudo.

                               ● ● ●

- Raksha... Raksha! - Suindara me acorda com leves bicadas no focinho.
- Hora de ir!

Uma lufada de ar atingi minhas orelhas, causada pelo bater de asas da coruja.

Ergo minha cabeça lentamente, me sentindo grogue devido ao cochilo rápido.

A primeira coisa que vejo é uma porção iluminada da lua surgindo no céu e se escondendo tímida, por entre as nuvens.

Forço minhas patas para ficar de pé e finalmente minha cabeça volta a sua velocidade normal de raciocínio.

Algumas das lobas estão na mesma situação que eu, se espreguiçando aqui e ali, Kaia bebendo água, ao lado de Aka e Dikeledi.

A luz fraca da lua, deixa todo o local numa penumbra, deixando os outros sentidos além da visão, mais aguçados.

O ar é frio, com o cheiro das folhas e da floresta ainda misturados a ele.

- Ainda bem que conseguimos descansar aqui. - Suindara fala, enquanto estica a asa direita com a ajuda da pata. - Uma coruja informou que há pequenas matilhas mais a frente e o que descansos serão escassos a partir de agora.

- Graças aos ancestrais. - solto um bocejo e quando penso em tomar uns goles d'água uma luz azul suave começa a se aglomerar ao meu lado e o de Suindara.

Tepi é a terceira a notar e seguido dela, todas as outras observam a pequena luz se mexer.

Sinto uma conexão imediata e me pergunto quem será dessa vez.


Pessoas sorry por esse cap. meio sem graça, minha inspiração sumiu e como minhas aulas já vão voltar, bate aquela bad, mas enfim o próximo capitulo vai estar melhor e vai ser publicado rapidinho ;)

RakshaOnde histórias criam vida. Descubra agora