Raksha

Filhotes cinzas

Para nosso alívio ou desespero, o crepúsculo chegou rápido, suas cores quentes e aconchegantes logo foram sumindo no céu, para dar lugar ao escuro da noite.

A próxima alcatéia é menor e mais aberta à ataques - suas defesas e posições de vigia são quase inexistentes.

Me pergunto se eles não tem medo de serem atacados por lobos inimigos.

Sinto o vento fresco bagunçar meus pelos e trazer o cheiro da alcatéia para mim, pelas diferenças no odor é possível dizer que algumas dezenas de lobos estão reunidas em algum ponto.

Provavelmente, no local onde os filhotes estão nascendo, estão vigiando eles e as mães, como corvos vigiam uma carcaça fresca cercada de predadores, esperando que eles saiam.

É uma boa comparação.

Dessa vez estamos reunidas próximas à um tronco caído e degradado por cupins, um cheiro azedo exala do solo abaixo dele - outros insetos e larvas além dos cupins, devem ter feito do tronco velho a sua nova casa.

Teelen e as outras lobas com os "ninhos" irão esperar um pouco aqui, até que alguma coruja as avise sobre a nossa localização para podermos seguir juntas novamente. Elas irão contornar a alcatéia de uma distância segura.

Ela e Trid estão verificando os cestos, para ver se os filhotes estão bem.

As outras esperam.

Olhando para os filhotes dos seus respectivos cestos e fazendo o mesmo.

Sei o que tenho de fazer agora, chamar os ancestrais para que ataquem conosco, preferiria que Denzel passasse o dia ao meu lado, assim ele mesmo os chamaria e eu não ficaria sentindo uma pulsação estranha dentro dos meus miolos toda vez que os chamassem.

Os invoco rapidamente, antes que Dikeledi me peça para fazê-lo, as esferas vão surgindo uma por uma, ao nosso redor, iluminando os arredores banhados com a escuridão, de um azul-vivo e luminoso, está mais forte hoje, ou talvez o escuro esteja pior do que o do resgate anterior.

Volto minha atenção para a alfa, que começa a falar.

- Mais filhotes serão salvos hoje e fico feliz em dizer, que esse será o resgate mais rápido desse outono. - ela pigarreia, ficando de pé logo em seguida, seus pelos brancos iluminados pela aura azul dos ancestrais, ganham um tom quase celestial. - Poderemos seguir ainda mais rápido para a próxima alcatéia.

Depois de mais algumas palavras de incentivo, partimos, deixando três lobas e o tronco apodrecido para trás.

Os ancestrais já estão transformados, com o corpo na forma animal e correndo ao nosso redor - são incrivelmente mais rápidos que nós, porém, diminuem um pouco a velocidade para que possamos acompanha-los.

Outros três ficaram para trás, junto das outras lobas, para segurança dos filhotes.

O cheiro dos lobos fica mais forte a cada passo que damos em direção ao território e depois de passarmos por um estranho corredor de árvores, chegamos ao nosso destino.

- Parem. - Kaia sussurra para nós e até mesmo as corujas conseguem ouvir e também param seu bater de asas constante, devem ter pousado nos galhos das árvores acima de nossas cabeças.

Denzel se afasta dos outros ancestrais para ficar ao meu lado, mas ainda não deu uma palavra, desde o momento que chegou.

- Já chegamos. - o sussurro da alfa é o segundo a ser escutado, assim como suas patas.

- São dez lobos no total. - uma das corujas fala, não consigo identificar a qual.

Nem precisaríamos ter chamado tantos ancestrais...