As palavras de Nira

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P.O.V Tikani

Um grupo de cervos machos, visivelmente jovens, graças aos chifres em formação e uma energia incrível para brigar uns com os outros, pastam tranquilamente.

Sem notar o grupo de lobos à espreita, formando um círculo mortal ao redor das presas.

Consigo ver Nuk à minha direita, as patas flexionadas e prontas para o ataque, imito a posição um pouco mais e meus ossos parecem reclamar ao serem pressionados pelos músculos.

Seus olhos estão vítreos, todo corpo preparado para a explosão do ataque, talvez esteja mais faminto do que eu.

E à minha esquerda, por algum azar do destino, Kiff, com sua cara de desinteresse de sempre, não queria caçar e mais uma vez havia respondido Torfus de maneira desrespeitosa.

O alfa não parecia de bom humor, e para o deleite de todos, mordeu o ar centímetros perto da cabeça de Kiff - uma ameaça descarada e um indicativo de sua falta de paciência para os caprichos do lobo, se o amolasse outra vez... que os ancestrais carregassem Kiff para algum buraco escondido na floresta.

Ouço as asas de Sert à uma distância considerável, deve ter chegado com alguma informação da alcatéia, mas, pacientemente ele aguarda o fim da caçada - assim como outras corujas, que aproveitam a oportunidade para tirar um cochilo, empoleiras como bolotas nos galhos mais baixos.

Volto meu foco para o cervo mais calmo de todos e num piscar de olhos um vulto preto e veloz avança sobre o grupo - Torfus.

Esse é o nosso sinal e logo em seguida fazemos o mesmo, saltando para fora do esconderijo fornecido pelo capim alto e gasto.

O grupo de cervos debanda, os cascos finos se chocando contra o solo de forma desordenada e caótica, eles saltam de um lado a outro antes de começar a correr agrupados em linha reta - iniciando a perseguição numa campina mais a frente.

Obviamente, Torfus lidera o nosso grupo, correndo numa velocidade assombrosa. 

Forço minhas patas ao máximo para manter um ritmo constante e logo o alfa consegue separa o cervo calmo do bando e dando tempo para nos reagrupar ao seu redor, no mesmo círculo mortal.

E o que acontece depois disso é uma morte agonizante mas rápida para o cervo.

Eu participo disso também, puxando uma das patas traseiras da presa e a derrubando no processo, fazendo que mais mordidas cheguem na sua carne e em poucos segundos o corpo coberto de sangue está inerte. Morto.

Pela primeira vez desde a escolha do grupo olhamos uns para os outros em sinal de agradecimento pela caça.

Todos com os focinhos e até mesmo patas, sujos de sangue.

- Foi mais rápido do que eu esperava. - o alfa comenta. - Vamos leva-lo para a alcateia, dividir com todos...

Ele abocanha uma parte da barriga do cervo antes de completar sua frase e fazemos o mesmo com as partes restantes, assim carrega-lo pelo caminho de volta será mais fácil do que simplesmente sair arrastando a carcaça por aí, deixando-a suja de grãos de areia.

As corujas despertam e começam a voar preguiçosamente sob o céu vespertino.

Sert plana mais baixo que todas as outras, seus olhos demonstrando a ansiedade contida para falar, me pergunto por que ele simplesmente não nos conta logo a notícia.

Torfus passa a andar mais rápido assim que segue me olhar para a coruja e pareceu entender o recado. Há algo para ser dito.

Atravessamos a floresta com rapidez, e ao chegar numa clareira um pouco pequena demais para acomodar todos, já é possível notar alguns lobos e filhotes surgindo por entre as sombras das árvores.

RakshaWhere stories live. Discover now