Um prólogo um tanto longo

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— Alô, com quem falo?

— Sou... Sou... — A pessoa do outro lado do telefone tinha receio em falar.

— Não se preocupe, tudo o que você falar ficará em segredo, estamos felizes em receber sua ligação.

— Certo, sou Willian.

— Oi Willian, sou Betty, será um prazer falar com você! Me diga, do que quer conversar?

— Eu quero me matar....

Betty ao ouvir isso ficou mais atenciosa, anotou em seu bloquinho o horário da ligação e o nome de Willian e começou a aconselha-lo.

— Por que, Willian, quer se matar?

— Minha namorada me traiu...

— Willian, não é sua culpa, se ela te traiu é porque é tola. Sei que por dentro e por fora é um homem legal. E sei que se ela te traiu é porque ela não te merece. Você deve ser jovem e muito bonito, pode viver sem ela e esquecer essa traição. Me escute: suicídio não é a solução. É opção, mas não a solução.

E durante trinta minutos, Betty foi aconselhando Willian a não se matar, ela jogava um argumento bom e ele revidava com um melhor. Mas ela não desistiu, não se entediou e fez que sua mente mudasse para ele não se matar. E conseguiu! Salvou uma vida!

Pegou seu bloquinho e o riscou de amarelo, sinal que preveniu uma morte ou dor sentida. Isso alegrava seu coração. Queria comemorar mais uma vida, mesmo comemorando em sua pequena casa com sua mãe comendo um macarrão com molho de tomate de sempre.

TOC TOC

— Pode entrar.

— Betty, seu expediente acabou faz alguns minutos, mas já que está aqui, me faça um relatório oral de como foi hoje.

— Tive oito ligações, seis foram de uma hora, duas de trinta a quarenta minutos. Alguns disseram que iriam provavelmente ligar de novo. Mas por essa noite, não teremos suicídio ou morte alguma.

— Bom, muito bom Betty, mas por favor, vá embora descansar, não pode acordar atrasada pra trabalhar no mercado. Certo?

— Certo chefe, estou indo.

Eram umas onze horas e pouco da noite, mesmo sentindo receio em ir embora de a pé, de novo, ela ia

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Eram umas onze horas e pouco da noite, mesmo sentindo receio em ir embora de a pé, de novo, ela ia. Não tinha escolha, mas tinha o telefone da polícia na discagem rápida. Pegou seu fone que pega só um lado, colocou uma música da Camila Cabello pra tocar e foi andando.

RAVENA UH NANA, AU TCHU MAH OR SIRO VENA UH NANA

A jovem loira cantava na rua, mesmo cantando tudo errado, essa era a graça! Ela cantava na rua a noite toda desafinada uma hora fazia voz grossa outra fina. Sabia que não tinha plateia, talvez alguns ladrões, assaltantes ou políticos (bãn du bass, era pra ser aquele barulho que toca nos trocadilhos).

Morava alguns longos quilômetros longe do centro de serviço, gastava em torno uns quarenta e três minutos andando e nem emagrecia! Após alguns minutos de cantoria, chegará em casa. Pegou a chave em sua bolsa, mas lembrou que não estaria trancada a porta pois sua mãe estaria lá.
Respirou um pouco e sentiu o cheiro de macarrão no ar. Cheiro de queimado!

— MANHÊ, O MACARRÃO ESTÁ QUEIMANDO! — entrou correndo em casa e indo a cozinha desligar o fogão.

— Droga, hoje teremos macarrão torradinho pra janta. Desculpa, fui tomar banho, suei mais que porco hoje.
— Graças a Deus, imagina o cheiro de queimado mais o cheiro de suor de porca seu? Cruz credo.

— Olha a boca mocinha, te meto a fivela, okay? Tem vinte e dois anos, mas ainda não criou juízo.

— Mãe, fome, macarrão, bora comer?

— Okay Elizabeth, arrume a mesa que vou pegar a jarra na geladeira.

— Pelo menos o suco vai salva o gosto de queimado do macarrão. Deus é bom.

— Jarra de água. — A mãe falou e viu Betty fazer cara de desânimo.

— Poxa mãe, cadê o suco fresh? Setenta centavos só.

— Esqueci de comprar e não tenho trocado.

— RANÇO MÃE, RANÇO!

— Senta aí e cala a boca que vou servir o macarrão.

Betty se sentou um pouco chateada, mas entendia o lado da mãe, a mulher trabalhava o dia todo numa casa de empregada, onde todos os filhos a fazia de gato e sapato. Todos os filhos da patroa, a patroa era um amor e se visse isso acabava com a raça dos filhos. Tratava mãe de Betty como uma filha mulher que nunca teve. Era bonito, sempre se interessou pela Betty desde pequena, a única avó que tinha. A avó materna de sangue sua morreu anos atrás e a paterna? Nunca conheceu a família do pai, nem mesmo o pai. Dizia a todos que ele tinha ido comprar cigarro, igual todos os jovens falam.

— Vou ligar a tevê, hoje não vi o jornal cedo, quero estar atualizada. — Betty levantou se e foi a sala do lado ligar. Voltou e sentou ao lado da mãe para comer.

PLANTÃO DA NOITE

Novamente uma batalha contra o suicídio perdida, Willian Bass, de vinte e nove anos atirou em sua própria cabeça após sua namorada esculachá-lo e terminar de vez com ele. Havia rumores que ela o traia e ele havia descoberto. Willian era depressivo. Por enquanto essa são as únicas informações que temos. Quando vamos vencer a guerra contra o suicídio? Deixo essa pergunta. É com você, Lucca.

Willian? O Willian de minutos atrás? Não é possível! Pensou Betty.

Ela estava devastada. Pensou que conseguira salvar a vida de alguém. A de Willian pelo menos. Não sabia da sua possível depressão. Foi um desastre.

Pediu licença a mãe e foi ao seu quarto. Sentiu se culpada e começou a chorar. Chorava de soluçar. A mãe quis ajudá-la, mas não teve palavras pra isso, estava surpresa também. Betty sabia que não era sua culpa, mas não conseguia esquecer a voz dele. Sabia que não se pode salvar todos também...

Chorou o resto da noite toda até as quatro da madrugada, antes de dormiu lembrou-se da pergunta da repórter:

Quando vamos vencer a guerra contra o suicídio? 

E caiu num sono profundo de dor com os pensamentos de uma perdedora.

Uma ligação pra livrar um suicídioWhere stories live. Discover now