Cabeça de Jarro

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O alarme de Betty despertou às oito e meia, ela junto com Verônica tinham dormido na sala. O celular velho de Betty estava cheio de correio de voz, claro, de sua mãe.Mesmo Verônica tendo dormindo na sala, no momento, ela não estava lá. Um cheiro forte de bacons e ovos adentrou na sala. Ela estava cozinha.

— Bom dia girassol, bacons?

— Ah, claro que sim. — Betty respondeu bocejando.

— Preparada pra voltar a rotina?

— Praticamente não vou voltar a rotina, não estou em casa, não vou ir pro mercadinho. Só estou indo mais cedo pro CVV, coisa que eu nem sei se vão me aceitar lá.

— Você não deveria pensar assim, deixa de preto e branco, foca nas cores da vida! — Verônica falou, olhou seu relógio e continuou — Eu estou atrasada, alguns dias sem a patroa e o negócio desanda! Tome um banho e se quiser alguma roupa minha é só pegar, beijos de luz!Verônica pegou sua bolsa preta da mesa e antes de sair disse; —  Na mesa tens uns trocados, pegue um táxi e na hora de ir embora me ligue.

Betty acenou com a cabeça e sentou se na bancada pra comer os bacons.

Está uma delícia, pra quem só come pão de queijo!

Terminou o café e cuidou da louça, após isso tomou um banho e foi até o exótico guarda-roupa de Verônica.

— Ela tem muito estilo e Griffe. — riu.

Escolhendo uma saia colada e uma blusa social, percebeu que aquele não era seu estilo. Então pegou uns jeans e uma blusa de manga. Perfect.

Amarrou o cabelo loiro e se olhou no espelho. Tudo vai melhorar, William se foi e eu estou bem. Chamou um táxi pelo aplicativo e saiu.

+

Na porta do CVV, Betty respirava fundo. Temia que seu chefe não a aceitasse de volta. Mesmo sendo voluntariamente, ela sentia que trabalhar ali era um ótimo estágio e seu currículo teria um ponto a mais de referência.

Precisava estar ali, se formou para isso. E precisava salvar alguém, ou fingir salvar. Porque no fim das contas, eram anônimos, nunca saberia se salvou mesmo.

Espalhando esses pensamentos nada propriados, ela entrou. Sentiu o café sendo feito, ligações ao vivo e seus conhecidos no telefone. Alguns conhecidos. Até porque aquele não era o turno dela. Os turnos eram dividido em três de oito: das 00h00 às 08h00, das 08h00 às 16h00, e depois das 16h00 as 00h00. Um ciclo completo.

E ela estava totalmente fora do horário dela. Ela nem estava entrando no ciclo certo, por conta do mercado entrava as 14h00 e saia as 22h00, dependia do dia. Mas enfim, Betty entrou e foi falar com o chefe.

— O que faz aqui? — Seu chefe questionou.

— Estou voltando... a ativa?

— Não, não está Betty. Você não pode continuar aqui com o quadro psicológico que tem. Você não pode continuar aqui, e sinto que não pode ser psicológa.

— Primeiro: eu sou formada em psicologia, e não é por um problema que vou perder meu diploma. Segundo: você nunca ficou triste pela a perda de alguém aqui no escritório? Porque independentemente se era estranho ou não, é alguém! E às vezes não damos conta de aguentar todas as vidas perdidas. Eu caí sim, mas se não puder ajudar mais ninguém, prefiro não fazer mais nada. — Desabafou.

O velho homem sabia do desespero dela, e gostava da atendente que ela era. Ofereceu alguma solução.

— Betty eu preciso que pelo menos o seu psiquiatra aprove isso. Escrito a mão!

— Pra agora?

— Se quer voltar agora, sim.

— Complicado, eu não consigo ter uma nota escrita dele agora, por favor só por hoje me deixe voltar...

— Sua mãe pode me processar... — temeu.

— Pelo o quê?

—Sei lá, ela é louca! — Betty o olhou com certa repugnância, mas riu, sua mãe quando quiser, era muito obsessiva e manipuladora. — Me desculpa, Betty, por dizer isso.

— Tudo bem compreendo, mas só desculpo se me deixar ficar por hoje! — Betty, então, olhou seu chefe profundamente com seus olhos azuis e jogou o velho charme.

— Não me venha com os mesmos olhos azuis quando pediu estágio. —
— Ele perdeu e sabia disso. — Droga, okay Betty, mas não vai atender nenhum telefone, vai ser minha secretária, Waleska pegou férias.

— Ok ok, grata.

Betty, adentrou um comodo e viu a mesa da secretária em frente a sala do homem velho e pouco forte. Sentou-se, sabia que não teria muito o que fazer ao não ser relatórios de sucessos e fracassos, carga horária e mais tédio. Mas para uma volta bem recente, já estava bom. Aproveitando que o chefe estava com os atendentes, ligou para o terapeuta. Necessitava voltar a ativa e deixa sua breve situação de lado.

— Mrs. Donny, aqui é Elizabeth!

— Oh Elizabeth, tudo bem? Porque me ligou nesse número ? Quer remarcar a consulta?

— Não, não. É algo que preciso que faça.

— Se estiver no meu alcance, faço sim.

— Quero uma nota escrita.

— Para? — Com tom curioso.

— Voltar a trabalhar no CVV. — respondeu convicta.

— Está louca? Não lhe dou. Sua situação ainda está sendo averiguada e é capaz que você nem volte a trabalhar lá! — Em seu tom havia certa seriedade e talvez uma leve alteração.

— Você não pode tirar a minha profissão de mim! — Betty estava se alterando também.

— Para seu bem estar, sim! Você precisa entender que...

Betty desligou na cara dele, como uma simples nota era tão importante para minha  carreira? Questionava em meio ao ódio.

Antes mesmo de ir buscar um café para se acalmar, o telefone do chefe tocou, presumiu ser Donny.

— Foda-se se o senhor não vai me ajudar, não me ligue enchendo o saco seu... — Precipitou-se, já xingando o psiquiatra.

— Hum, aqui não era pra ser o número do CVV? — A voz de um homem soava no fundo.

Meu Deus!

— Desculpe–me, achei ser um trote, mas enfim, precisa de ajuda?

— Acho que para eu ter ligado pra cá, devo estar realmente no fundo do poço. — Ironizou.

— Hum... — Betty percebeu logo ser um debochado. — Qual seu nome?

— Cabeça de jarro! — ele respondeu, rindo.

— Oi? — Não compreendeu. — Isso é um trote? — esbravejou.

— Vou usar meu sobrenome, pode me chamar de Forsythe.

Antes tarde do que nunca,
amo vocês!!!
Sem revisão.

Uma ligação pra livrar um suicídioWhere stories live. Discover now