Capitulo 07

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- Passageiros do vôo 428, com destino a Grécia, favor comparecer a sala de embarque. - Escuto a voz irritante nos alto-falantes.

- Minha deixa. - Abraço Bruna e pego minha mala. Em comparação a outros voos que já peguei, esse aeroporto se encontra bem vazio.

- Você se despediu do Bernardo, Malu? - Perguntou Bruna antes que eu entrasse na sala de embarque.

 - Deixei Bernardo dormindo na casa dele. Odeio despedidas. E vai ser melhor eu conhecer uns gringos legais. - Bruna sorri torto.

 - Distribua o meu contato. - Entrego minha passagem. - Boa viagem! - Mando um beijinho de ar para ela e entro arrastando minha mala.

 A rotatória está próxima de mim, ponho minha mala e corro para as escadas do avião.

- Boa noite. - A aeromoça fala para mim. Sorrio e procuro meu lugar. 12A.

Me sento e ligo meu celular, tiro uma foto rápida e posto no instagram. Caramba! A quanto tempo eu não vou a Grécia! Ponho meus fones e ativo o modo avião.

- Você vai ficar surda desse jeito. - Ouço uma voz reclamar. Olho para o lado e vejo o cara mais gato da face da terra. Sorrio afetada. - Pedro, prazer.

 Aperto sua mão e agradeço ao papai por me exilar com um cara como ele.

- Malu. - Sorrio e aperto sua mão. O cara deve ter uns dois anos a mais que eu. - Brasil?

- Sim, indo para Grécia ver meus parentes. E você? - Eu seguro a risada.

- Exilada. - Ele arregala os olhos e sorri torto. - Sabe como é, vida corrida, da nisso.

 - O que a mocinha fora da lei fez?

 - Capotei meu carro. Eu bebi um pouco antes de dirigir. Meu pai ficou com medo de que eu fosse para a cadeia. - Dou de ombros.

- Meu deus. Conheci uma fugitiva. - Pedro começa a rir. - Você é menor de idade.

- Daqui a dois meses faço dezoito. - Ele pareceu entender. - Não quero terminar estrupada numa cela de cadeia. - Agradeço ao meu pai, silenciosamente.

 - Estou viajando com uma fora da lei. - Nós rimos muito, e em uma risada e outra, as quase doze horas de viagem se passam.

Desço do avião e procuro minha avó com os olhos. Faz tempo que não a vejo, mas deve estar bem velhinha. Ando pelo saguão procurando por ela e nada.

 Pedro encontra seu amigo, me dá um beijo no rosto.

 - Anota meu número, Malu. - Pego meu celular e anoto, Pedro vai embora.

 O pânico quase me toma. Minha avó não está aqui. Estou sozinha.

Será que ela esqueceu?  Ou não chegou ainda? Me forço a ficar calma.

 Havia cada vez menos gente na fila de espera, mas eu não via a minha avó.

 Então, vi uma mulher parecendo ter uns 50 anos em pé, ao final da fila, segurando um papel com um nome que eu não conseguia ler. Aproximei para poder ler. E lá estava: Maria Luiza. Olhei para a moça, que agora olhava pra mim.

- Vó Greta?

- Malu, dá um abraço aqui. - Ela me abraça e eu fico feliz de estar ali.

- Vó, mas você tá...

- Estou o quê? Gostosa? Academia e ioga fazem milagres. - Percebo agora o sotaque em sua voz.

Rimos um pouco e caminhamos até o carro. Pensando bem, nada mal um exílio.

 Entramos no carro e eu escuto uma musica dos Rolling Stone's. Começo a cantar junto e me deixo levar pela musica.

- Vamos, Maria! - Minha vó sorridente, me chama. Desço rapidamente e posso ver alguns dos meus familiares parados a porta.

 Não me recordo de ninguém, mas aos poucos vou conhecendo. Alguns primos, a maioria da minha idade, outros menores. A maioria é amigo de longa data da minha avó e eu fico feliz em conhecer.

Me sento rapidamente e pelo frio que está fazendo, me sento perto da lareira. Era noite, e todos, ao todo doze, estavam reunidos na sala. Tomando um bom café. 

As pessoas conversavam em grego, o que me deixava realmente confusa. Eu entendia algumas palavras, mas era difícil entender. Então decidi sair.

 - Vou dar uma volta.

Todos olharam pra mim sem entender e eu olhei para a minha avó. Então ela disse algo, que parecia a tradução do que falei, e todos assentiram com a cabeça enquanto eu saia porta a fora.

Passei o olho pelas casas vizinhas. Eram lindas. Tinham casarões, mas todos conservados.

 Fiquei pensando em tudo que aprendi sobre a Grécia na escola, o berço do conhecimento, e no que eu estava vendo agora, em Atenas. 

Depois de tanto andar, paro em um cais. Sorrio com as lembranças de quando minha mãe ainda estava viva. Vinhamos nós três, eu e meus pais, passear por esse cais.

 Era o lugar preferido da minha mãe. Sinto uma tristeza me inundar e logo quero sair dali. Me viro e percebo que não sei de onde vim.

 Os lugares parecem todos iguais. As casas são de mesmo modelo e não me recordo de qual rua eu sai. O desespero toma conta. Tentar encontrar a casa da minha avó sem conhecer a Grécia seria como procurar uma agulha no palheiro.


Sucessora da máfia - finalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora