Capitulo 14

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Do lado de fora do colégio me deparo com uma Hilux preta.

- Você está bem?

- Eu tô. O teu corte não foi fundo, não vai ficar nem roxo. Esse é seu carro?

- É. Porque? - Daniel levanta uma sobrancelha. 

- É lindo! E caro. - Daniel solta uma gargalhada, mas fecha a cara com a dor.

- Vamos. Você ainda tem uma tattoo para fazer. - Ele remenda.

- Fica quieto. Maria, você não vai entrar nessa Hilux com esse doido. - Nem percebo quando o Bernardo aparece.

- Vai chamar ele de doido só porque tomou uma surra dele? - Provoco. A Jessica abraça Bernardo pelas costas e ela tenta afastar as mãos dela, claramente transtornado.

- Eu vou, e vou impedir que você entre nesse carro. - Daniel pigarreia do outro lado do carro, segurando a porta do carona aberta.

Ando em direção a ele.

- Deixa isso pra lá, amor. - Jessica diz. Amor? Mas o que? - Essa vadia não merece sua atenção.

- Olha só. - Ele começa. - Eu não sou seu namorado. Eu não sou seu ficante. Eu não sou nada seu, Jessica. Então por favor. Para com essa merda.

Absorvo apenas metade da conversa. Paro de andar e me viro.

- A vadia aqui é você, querida. Não fico sentando no colo do primeiro que vejo. Vai se ferrar garota. A gente se vê na fest... ah opa, você não foi convidada.

Continuo a andar e entro no carro. Bem feito. Recebe essa. De novo.

Daniel fecha a porta e anda pela frente do carro, e senta-se no banco do motorista.

Caramba. Era visão minha ou Bernardo tinha mesmo jogado um balde de água fria na Jessica? Que saudad...

Balanço a cabeça e tento por um sorriso bonito no rosto.

- Você conhece algum tatuador? - Pergunto.

- Não. Fiz com canetinha, Malu. - Ele sorri torto e eu me sinto corar. - Ele tem uma tatuaria. Acredita? - Se eu pudesse ficar mais vermelha ficaria. Ele sorri para mim. - Fica perto da sua casa.

- Quer ir numa festa comigo hoje? - ele fica um pouco desnorteado.

- Claro. Mas o que tem isso haver com a tatuaria? - Dou de ombros e deixo a pergunta no ar.

Demora apenas alguns minutos antes de chegarmos a tatuaria. Uma mulher sorri para mim e me entrega uma tabela de imagens, mas eu dispenso.

- Já sei o que eu vou fazer.

 -OK. Gosto de gente assim, decidida.- Virou-se para Daniel- A gente não se conhece? Um bonitão como você é bem difícil de esquecer. - Como aquela mulher de aparência de 60 anos, com braços flácidos e um alargador mais largo que uma tampa de Toddy se insinua pra um garoto de 19?

- Sim, eu tatuei aqui também. - Ele sorri sem graça.

-Ah, claro.

Peguei o papel e a caneta e escrevi: στο εσωτερικό της κεφαλής. Entreguei-os a ela.

- Hum... grego. Vai me perdoar, mas não sei o que significa.

"Precisa saber? Não é só fazer?" Pensei, mas não respondi isso.

- Para dentro da cabeça.

- Hum, legal.

- Você pode fazer ou não?

-Ah, claro, desculpe. Vamos.

- Você quer que eu vá com você, Malu?

-Claro, venha.

Deito-me na maca na barriga pra baixo e puxo a blusa para cima. Aponto o lugar. Em baixo da omoplata direita.

Ela prepara a agulha enquanto Daniel se ajeita no sofá,  se esticando para poder segurar minha mão.

- Pode deixar, eu não sou mais criança.

Ele sorri, mas não se move. Sinto a agulha penetrar minha pele, e estico a mão esquerda para pegar a de Daniel.

Isso dói. Aperto com mais força, ele sorri como quem diz: "Eu avisei" e faço uma careta.

Depois de muitos momentos de dor ouço Californication do RHCP, o toque de Pedro.

Daniel se estica no banco para pegar a minha bolsa. Ele abre-a com pouca dificuldade e retira meu celular.

- Pedro - ele avisa.

- Você pode por aqui no meu ouvido? - Peço e ele faz. – Oi, Pedroca.

- Fala Malu. Queria marcar uma hora pra gente sair. Já estou no Brasil.

- Falou em boa hora. Tem uma festa hoje a noite que eu estou pensando em ir. Se você quiser, te mando o endereço.

- Sua amiga gata vai?

- Como você sabe que é?

- É sua amiga. É gata.

- Teoria maravilhosa a sua. Mas eu estou meio ocupada agora.

- Sendo presa? - Ele brinca.

- Não, engraçadinho. Fazendo uma tattoo.

- O que tem escrito?

- στο εσωτερικό της κεφαλής.

-Nossa. Para que tudo isso, filosofa? - Eu tento não me mexer muito enquanto rio.

- Tchau, Peu.

- Até mais, Malu.


Sucessora da máfia - finalizadoOnde histórias criam vida. Descubra agora