Capitulo 12

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- Bom dia alunos. Como foram as férias? - O professor de física entra e se choca com a cena. Deixa sua bolsa na cadeira. - Eu queria apresentar para vocês a nossa nova colega, Jessica, mas acredito que Bernardo já á conheça. - Aquela inútil da Jessica apenas sorri e volta pro seu lugar. Ao lado de Bernardo. É brincadeira?

- Maria Luiza. Acessórios não são permitidos. Tire seus óculos para que possamos ver esses seus maravilhosos olhos castanhos-mel. - Ai se fosse um elogio. Mas do jeito que ele fala parece até um palavrão.

De má vontade tiro os óculos e me ajeito numa posição confortável na cadeira.

- É impressão minha ou você e o Bernardo tomaram um porre ontem? - Bruna pergunta baixinho.

- Porre? Terminamos, Bruna. Se bem que nem tínhamos nada... - Penso alto.

- Nossa! Não... - Ela não termina porque o professor nos olha com uma cara horrível.

- Poderiam dividir a conversa maravilhosa conosco?

- Desculpe profes... - Alguém se mete e não me deixa terminar.

- Ela terminou com o Bernardo ontem, Professor. - Comenta Lana, uma idiota que me odeia. Que por algum acaso do destino estava atrás de mim ouvindo tudo. - E agora ele já está com a senhorita Jessica sentada em seu colo. Que coisa linda. - Ele reclama e eu sinto meu rosto esquentar.

Os alunos vaiam e sinto uma vontade de enfiar minha cabeça num buraco.

- Você pode concentrar na aula e deixar esses assuntos pra depois?

Ele não me deixa responder e continua.

Não presto atenção em nada.

Tem aula mais entediante do que teórica de Educação Física?

Finalmente o intervalo toca. Saio da sala junto com Bruna.

- Malu, vou comprar um café expresso, eu já volto.

- Tudo bem. - Digo e saio caminhando em direção ao pátio aberto.

Meu telefone toca. Daniel. Atendo.

- Que porra é essa?

- Oi, bom dia.

Saio andando pra um lugar mais afastado, onde ninguém possa nos ouvir.

Sento em um banco vazio.

- Malu, eu tenho que te avisar. O Juan morreu.

- O quê? - Finjo estar assustada. - Como isso aconteceu?

- Não sei. Mas Juan dispensou os guardas ontem a noite. Parece que quando você saiu da casa dele, alguém foi lá e... - Meu Deus, eu devo ter um anjo da guarda maravilhoso.

- Tudo bem. Vamos resolver isso, Daniel. Apenas calma...

- Estou calmo. Você quem não deveria ficar. - Franzo o cenho. - Você é a sucessora da máfia. O cargo agora é seu.

- Meu? Meu nada! Eu nem queria isso mais pra mim! - Não consigo ficar sentada. Apenas começo a vagar.

- Se acalme, Malu. Eu estou chegando ai. - Não consigo raciocinar direito.

- Aqui... - Tento me manter calma. Mas sou eu a sucessora dele. É uma hierarquia: quando o mais alto cai, alguém tem que assumir seu lugar. Claro que não vai dar certo. - Eu tenho a próxima aula vaga. Vamos conversar.

Bruna chega e me avisa que vai acabar um trabalho com seu grupo e pergunta se me importo de ficar só.

-Não, pode ir, Bru. Tá tudo bem. - Começo a mexer no celular para me distrair.

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- Cheguei. - Olho para os lados assustada e sinto alguma coisa estranha.

No meio da área está Bernardo. Ele está comendo alguma coisa com Jessica. Mas mesmo conversando com ela, ele me olha. Viro a cabeça para o outro lado e vejo Daniel.

Sorrio para ele. Daniel. Meu braço direito.

- Eu não quero nada disso. - Falo fracamente. - Eu quero ter uma vida normal. É pedir muito?

Ele puxa uma cadeira e se senta ao meu lado.

- Ninguém mandou você me procurar quando estava afim de aventuras.

- Não pensei que essas aventuras me levariam a matar alguém. Eu só queria ver o mundo de uma forma diferente.

Tenho vontade de chorar. Mas eu não posso fazer isso. Não posso desmoronar. Daniel me abraça e por mais que ele não fosse a pessoa ideal, foi a única que me entendeu. Que sente o mesmo peso que o meu.

O abraço forte e me deixo chorar.

- Precisa fazer isso.

- Eu não sei como cuidar de traficantes ou matadores, Daniel.

- Bom. Acho que somos a parte boa da conversa. Imagina quanto mala-suja a gente vai ter que aturar daqui em diante? - Enterro meu rosto no seu peito, mas acabo sorrindo. - Acho que a gente nem conhece o lado ruim, Malu. Acho que o que a gente vive é só a pontinha do Iceberg, sabe? - Assinto.

- Que profundo para um mala-suja. - Ele joga a cabeça para trás e ri, sem nunca me soltar.

- Eu nunca fui preso. Minha ficha está limpinha. Acho que sou um homem... dentro da lei.

- Na lei? - Debocho e rio. - Quantas pessoas você já matou, Daniel? - Ele sorri meio torto e me solta.

Sinto falta.

- Vamos. - Hesito. - Vem comigo. Vou te mostrar algo.

Daniel segura a minha mão, e de relance eu vejo Bernardo me encarando com um olhar assassino. Sorrio como quem diz: não temos mais nada, tapado.

Corro junto com Daniel quem nem percebe o que está acontecendo e entramos num dos prédios da escola. Entramos na primeira sala vazia e ele abre uma persiana. Deixando o sol entrar.

- Olha. - Ele levanta a camisa e eu posso ver algumas tatuagens em suas costelas. São bem pequenas. Ao total tem cinco linhas. Como um código de barras.

- Uma pra cada pessoa que matei. Quero nunca me esquecer de cada um. Quero me lembrar exatamente como foi. Por que pelo menos uma pessoa tem que se lembrar delas. - Ele abaixa o olhar, mas consigo captar dor em sua voz.

Uma súbita loucura passa por mim.

- Eu quero fazer uma tatuagem dessas. - Ele franze o cenho. - Eu não pretendo matar mais ninguém. Mas eu quero me lembrar, Daniel.

- Malu, eu acho...

- Nem vem. O corpo é meu. E um filetinho desse nem deve doer tanto. Vem comigo!


Sucessora da máfia - finalizadoWhere stories live. Discover now