Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)

XXX. Proposta

ATENÇÃO: Este capítulo possui 3244 palavras!

Lyssa encarava o rosto sereno de Estella, os olhos fechados da fada a faziam parecer que estava dormindo ali, sentada. As belas asas tremiam ocasionalmente da mesma forma que as da jovem faziam, reagindo às mudanças no ambiente externo e nas emoções. Estava frio naquela manhã, o sol forte dos últimos dias substituído por pesadas nuvens que enegreciam o céu e faziam com que a iluminação abaixo das copas das árvores dependesse somente do fogo e das luzes mágicas. Definitivamente fazia jus ao nome de Floresta Negra, pensou ela.

- Tente novamente. - Estella falou, abrindo os olhos e olhando profundamente nos da amiga.

Dois dias de treino, até então, tinham sido suficientes apenas para que Lyssa conseguisse acessar sua reserva de magia sem explodir a floresta ao redor. Agora, no alvorecer do terceiro, as  duas fadas tinham se sentado frente à frente, com uma pilha de galhos secos entre si. Quando Estella ordenara  que a jovem ascendesse a fogueira, parecera-lhe um pedido simples, mas em pouco tempo tornou-se claro que controlar a magia que deixava o corpo sem perder o controle era uma tarefa aparentemente impossível. A  cada repetida falha, a fada madura fechava os olhos e respirava profundamente, antes de ordenar que ela  tentasse de novo, qualquer que fosse o motivo para aquilo.

Era uma tarefa árdua e delicada, necessitava de extrema concentração. Expelir aquela  quantidade específica de poder era como equilibrar algo numa corda. Se usasse pouca energia, nada acontecia, mas se pusesse uma gota além do necessário, perderia o controle facilmente. Um trabalho de precisão que, segundo a tutora, seria essencial para que ela conseguisse um dia dominar sua magia plenamente.

Haviam proteções ao redor delas, Lyssa vira a irmã colocando-as ao seu redor, para o caso da jovem perder o controle. Mas a própria Estella parecia desprotegida. Se era por extrema confiança em si ou na aprendiz, a pequenina não saberia dizer ao certo. Um pouco mais, ela se obrigou a usar a magia, concentrando seu olhar e todos os seus pensamentos na pilha de gravetos à sua frente. Somente uma gota, ela ordenou a si mesma. Nada mais, nada menos. Suficiente apenas para atear fogo ao combustível.

Com extrema concentração, a fada encarou a pilha até que sentiu seus olhos ficarem vesgos. Mas nada aconteceu com os galhos. Nem mesmo uma discreta coluna de fumaça.

- Não lance seu poder continuamente. Está desperdiçando energia. - Estella falou, finalmente. - Calcule a quantia necessária e dispare tudo de uma vez.

Lyssa não respondeu, apenas encarou o espaço entre as duas fadas, tentando compreender a fala da irmã. Sem perder a postura serena e paciente, a fada de cabelos vermelhos continuou a explicação:

- É como um soco. A bruxa deve tê-la ensinado o básico, não? - Lyssa concordou hesitantemente com a cabeça. - Bem, quando você soca alguém, não o faz lentamente, procurando o lugar certo para acertar seu adversário. Ao contrário, você lança seu punho com velocidade e força na direção do alvo, sabendo exatamente onde encontrará a resistência. Nem antes, nem além, mas no ponto exato.

E, com isso, Estella voltou a ficar silenciosa como as árvores ao redor, respirando lentamente, esperando pela próxima tentativa da jovem.

Um soco, pensou Lyssa. Graças a Alick, ela sabia muito bem o que aquilo significava. Ainda tinha algumas marcas roxas no corpo graças às horas que passava todas as tardes com a bruxa junto aos demais recrutas naquele treinamento maldito. Que seja, decidiu antes de esticar sua mão invisível na direção daquele lugar no fundo de seu peito onde a magia parecia aguardar ansiosamente para ser liberada.

A fada inspirou, preparando-se e, ao soltar o ar numa lufada rápida, libertou aquela magia na direção da fogueira. Finalmente, ela pensou, quando os galhos explodiram numa bola de chamas, pequenos pedaços de madeira voando em todas as direções. Quando a poeira levantada abaixou, o pouco combustível restante queimava vagarosamente sob os olhares das duas irmãs. Estella abriu um sorriso luminoso.