LXVIII. Fúria

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Há milênios Fedra não usava aquela armadura. Já não estava acostumada ao peso da espada em sua cintura e, tampouco, ao do metal que a forçava na direção do chão enquanto voava.

Preferia usar a magia, lutar contra seus inimigos da forma que as fadas deviam lutar, mas por vezes o combate exigia outras capacidades.

Abaixo de si, Belthor limpava a espada, tirando dela o sangue de orc que grudava no metal como uma gosma apaixonada. Era a quarta vez que foram atacados desde que tinham deixado a Floresta.

— Estranho. — A Rainha comentou para si mesma.

Soubera do encontro de Azar Fura-Coração com aquelas criaturas, mas suposera ser apenas um bando isolado que se aventurara naquela região, longe de casa. Mas a presença de tantos grupos independentes a fazia questionar se não tinham estabelecido outra colméia, talvez nas montanhas ao oeste de Linea.

— Acha que os elfos estão trabalhando com eles? — Eisa perguntou horas depois, quando todos já marchavam novamente, os três mil homens e sete fadas.

— Os elfos os desprezam tanto quanto a nós. — Ela respondeu. — Não creio que fariam alianças com seres tão... Complicados.

— Não duvido de nada que venha daqueles lá. — Sua tenente tinha razão, mas ainda assim a probabilidade era pequena.

— Acho que esse é o menor de nossos problemas. — Fedra sentia-se obrigada a sair daquele assunto. — Verificou as linhas? Chegaremos à Colina ao anoitecer.

— E lá acamparemos. — Eisa olhou para os homens que marchavam abaixo, alguns deles olhando e sussurrando sobre as fadas acima. — Verifiquei tudo cinco vezes. Não precisa se preocupar.

— Displicente é uma rainha que não se preocupa. — Fedra fez uma pausa enquanto refletia sobre as próprias palavras. — Não temos condições de impor um cerco à cidade.

Eisa concordou com a cabeça. Ambas já tinham repassado os planos dezenas de vezes entre si e com os líderes humanos.

— Pela manhã, explodiremos os portões e, pela Árvore, teremos terminado essa batalha antes do fim da tarde. — A tenente comentou, casualmente.

Se desse certo, seria um golpe duro contra os elfos. Uma mensagem para todos os escravos de seu império para que se levantassem para lutar. Se desse errado... Fedra não se permitia pensar nessa possibilidade.

— Certo. — Ela finalizou. — Envie duas batedoras para verificar a cidade. Não deve estar muito guarnecida, mas quero evitar surpresas.

Com essa ordem, Eisa simplesmente pôs a mão direita sobre o coração e partiu na direção das demais fadas para transmitir a ordem.

***

Antes do nascer do sol, o acampamento já estava levantado e os soldados batiam suas armas contra os escudos, um despertar maldito para quem estava do lado de dentro da cidade élfica.

Do topo da colina, voando alguns metros acima das linhas de combate humanas, Fedra encarava silenciosamente conforme algumas luzes se ascendiam sobre a muralha, os defensores começando a se preparar apressadamente para uma defesa inesperada.

— Agora ou nunca. — Ela falou para Eisa, que respirava profundamente, como que reunindo sua concentração para o combate a seguir.

As fadas teriam pouca participação. Era importante que os orelhas-redondas fizessem a maior parte do trabalho, que sua bandeira fosse estampada sobre as muralhas da cidade após a batalha. Assim, as histórias se espalhariam mais rapidamente. Fedra e as suas deviam apenas abrir o caminho, destruir o portão e deixar que os homens fizessem o restante do trabalho. A Rainha esperava que eles fossem bons nisso.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Where stories live. Discover now