CI. Desordem

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Quando Valatr desceu sobre o campo de batalha com a Rainha das Fadas ao seu lado, foi pego de surpresa por uma visão inesperada e aterradora.

Aquela coisa que se erguia sobre a Floresta engolia tudo que era vivo ao seu redor e atacava as criaturas que tentavam lutar contra ela, de ambos os lados da batalha. O que quer que fosse aquilo, não fazia distinção entre bruxas, elfos e feéricos. As explosões sacudiam cada centímetro de seu corpo, fazendo com que Delétrion se recusasse cada vez mais veementemente a seguir em frente.

Não houve tempo para discutir um plano de ação, ou para entender o que era aquela coisa que se comportava como magia, mas claramente não o era. Pela expressão no rosto de Fedra, Valatr soube que era algo preocupante, então decidiu apenas seguir os passos da fada, aonde quer que aquilo o levasse.

Forçando sua vontade sobre o relutante Delétrion, ele sobrevoou a nuvem negra uma vez, seguido por todos os membros sobreviventes da Cavalaria, e bombardeou a tempestade com fogo capaz de carbonizar qualquer criatura em meros segundos. A explosão gigantesca que se seguiu, quando as duas magias entraram em contato uma com a outra, quase o jogou para fora da sela que o prendia ao dragão. Este último rugiu, preocupado e amedrontado.

— É, eu sei, meu amigo. — Ele falou enquanto o dragão dava a volta para passar novamente por cima da tempestade. — Vamos ficar mais distantes dessa vez.

Na segunda vez a explosão foi ainda maior, já que as fadas lideradas por Fedra juntaram-se ao ataque. Ainda que mais estrondosa, esta pareceu afetar a magia inimiga, que recuou um pouco. Valatr se preparou para mais uma passagem, buscando em Fedra algum sinal de que ela sabia como acabar de vez com aquilo.

Mas a Rainha apenas sobrevoava o campo de batalha, encarando aquele evento bizarro com olhar pensativo, enquanto coordenava seus ataques com os de suas irmãs de forma quase que instintiva, sem dizer uma palavra, quando muito usava gestos para se comunicar.

Buscando por um ponto fraco, Valatr percebeu a movimentação estranha no exército élfico. Do topo da colina que beirava a Floresta, os canhões dracônicos se reposicionavam, mirando não na tempestade negra abaixo, mas sim nas árvores e tropas da Aliança que agora, focadas em lutar contra o mais novo inimigo, tinham esquecido da ameaça real e tangível que originara toda aquela confusão.

Prevendo, com pesar, o que estava prestes a acontecer, o mestre sinalizou para seus companheiros da Cavalaria e voou na direção dos elfos, procurando em vão pelo Duque que comandava aquelas tropas. Ainda esperançoso por uma saída pacífica, Valatr ponderou se deveria ou não atacar o povo dentre os quais nascera e vivera boa parte de sua vida quando jovem.

Não foi necessário atacar, no entanto. Enquanto dava uma volta para sobrevoar mais uma vez as linhas élficas, percebendo os olhares de suspeita que vários elfos lhe dirigiam, ele percebeu uma gigantesca forma flutuando no céu no horizonte distante. Olhou à sua volta, todos os oito sobreviventes da Cavalaria estavam ali.

A forma que planava no horizonte se mostrou ser não um, mas dezenove dragões. O maior deles, provavelmente Ladítrio, o imponente dragão negro de Gheyon. Valatr sabia que aquela chegada não podia significar boa notícia. Se o mestre estava ali, após se negar a atender seu chamado em Terralarga, provavelmente era para terminar o serviço que Maleus havia começado.

— O maldito está aqui! — Valatr ouviu a voz de Runa à distância. Confuso, ele procurou pela origem até encontrá-la vários metros acima de sua cabeça, planando altiva em seu dragão esmeralda. — Por favor, diga que vamos matar esse imbecil.

Valatr ponderou. Todas as suas ações o tinham levado até ali. Seguira as instruções da Dama, por que nada havia dado certo? Pensara que poderia evitar o derramamento de sangue, mas só pareceu causar ainda mais destruição.

Outra explosão tomou conta do campo quando mais um ataque foi lançado contra o fogo negro. Não havia alternativa, pensou ele. Logo os elfos atacariam novamente a Aliança, o que provavelmente faria com que aquela magia estranha saísse do controle novamente. Ele olhou novamente para Runa.

— Espere que eles ataquem! — Gritou, vendo que frustração tomava conta da amiga. — Mas fique pronta para o pior!

Sem esperar por resposta, ele continuou seu voo em busca do Duque, ainda esperançoso, até o momento derradeiro em que os canhões pareciam prestes a disparar contra as linhas da Aliança novamente. Quando um novo raio atravessou as defesas élficas, no entanto, os magos destes pareceram divididos entre gastar sua magia com a ameaça iminente, ou guardá-la para quando as fadas já estivessem fracas.

— Fedra! — Valatr se aproximou da Rainha das Fadas que, concentrada demais, não percebia o que acontecia no chão. — Temos outra preocupação vindo em nossa direção.

A Rainha parou o que fazia para olhar ao redor, visivelmente frustrada e preocupada. Ela apontou para algum lugar entre as árvores.

— Avise Asmin Flor-Invernal. Diga a ela para recuar até a Gruta.

Relutante, Valatr decidiu que aquela era a única forma de conseguir manter alguma coesão, algum senso de ordem naquela confusão toda, e aceitou a ordem da fada. Poderia apenas rezar para que os Mestres e elas conseguissem derrotar aquela coisa sem a ajuda dos magos feéricos.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora