capítulo 1: no limite

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M a r i l y n

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M a r i l y n

Exaustão. Medo. Angústia.

Essas três palavras resumem bem minha vida nos últimos dois anos. Marie, minha mãe, prometeu que não me deixaria, mas sua promessa não foi o bastante para o maldito câncer de pulmão que a levou de mim.

— Eu te amo, Marilyn. — essas foram suas últimas palavras em um leito de hospital. Lembro-me da minha vista embaçada pelas lágrimas de desespero e das minhas unhas cravadas na palma da minha mão, conforme eu a cerrava.

Não tínhamos dinheiro para os remédios ou para pagar o tratamento. Na verdade, mal tínhamos para comprar comida.

Eu me senti impotente.

Lembro-me da sensação de estar sozinha.

Meu pai gritava incessantemente.

Depois veio o álcool.

E continuo sozinha.

— Ei, garota! Cadê a porra da minha comida? — meu pai passa pela porta, completamente bêbado.

Seus passos são vacilantes e o próprio estado é lastimável.

Nenhuma novidade, infelizmente.

Ele passou a noite fora, provavelmente enfiado em algum bar.

— Deixei algo em cima do fogão. — eu não o encaro. Ele detesta quando faço isso e, vou confessar, eu me sinto bem melhor por não fazer.

— Algo? O quê? — ele se aproxima, fazendo-me recuar alguns passos.

O cheiro de álcool é forte e enjoativo.

— Sobrou frango frito da noite passada. Eu sabia que o senhor chegaria com fome.

— Hm... Como comprou? — ele me força a encará-lo, apertando meu maxilar com os dedos calejados. Uma atitude incomum, vale dizer. Os olhos dele estão vermelhos e eu prendo a respiração para o seu hálito terrível.

— A pensão. Sobrou um dinheiro e eu comprei. — engulo em seco e ele me solta, finalmente.

— Vá pra sua escola! — ordena e eu me afasto, seguindo em direção à saída.

Encosto a porta atrás de mim e me permito respirar de alívio.

Ele não me espancou dessa vez.


***


Escola literalmente se tornou sinônimo de refúgio para mim. Posso esquecer por algumas horas que tenho um pai abusador e que minha vida é uma droga.

Lanço um breve olhar para o professor em frente à sala, antes de seguir até alguma carteira no fundo, distante dos demais alunos. Isolamento é minha camuflagem nesse lugar. Prefiro evitar amizades. Não sou tão comum como outras garotas, que levam suas amigas para casa e tem uma família gentil e amigável. Minha casa nem é um "lar", pra ser sincera.

Perigo IminenteOnde histórias criam vida. Descubra agora