Ao seu lado

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O sol bateu na janela, deixando que seus raios invadissem o cômodo da casa.

Seria um ótimo jeito de acordar de manhã, de ver a felicidade da vida se esse não fosse o quarto de Luccino Pricelli.

Este seria um nada feliz dia. Seria o dia do enterro do pai de Luccino, e o mesmo estava inconsolável.

Otávio passou a noite toda ao lado de Luccino, ouvindo ele chorar baixinho na cama pelo falecimento do pai. Fora uma noite dificílima para os dois, Otávio não suportava ver o amado daquele jeito, que faria se tudo para vê-lo feliz , até mentir, como ele fez ao dizer que Gaettano estava feliz ao ver o filho feliz, quando na verdade ele mandou que o Major se afastasse dele.

Tentando afastar essa lembranças, Otávio preferiu focar nos raios solares pairando suavemente sobre o rosto doce de Luccino, que mesmo com um pesado fardo para carregar, tinha uma feição tão doce e amável  mesmo em seu pior momento. Otávio acariciava o cabelo de Luccino,que por causa dos raios fortes nos olhos,acabara acordando.

— Hum...Otávio ? — Ele abria com dificuldade os olhos. — Você...dormiu aqui ? — Ele se sentou na cama e sorriu,sonolento.

— Dormi...— Otávio não tinha dormido, não conseguiria dormir com a possibilidade de Luccino ter algun pesadelo ou precisar de algo e ele não estar pronto pra ajudar. — Dormi na c-cadeira, eu não desrespeitei nada. — Otávio engoliu em seco.

— Não teria problema se você dormisse comigo,aqui,não seria nada...desrespeitoso. — Luccino sorriu para Otávio, por um momento Luccino esqueceu do mundo, mas apenas por um momento. — Hoje é...

— O velório do seu pai. Eu sinto muito por você, não posso mensurar o tamanho da dor que está sentindo, mas te ver desse jeito — Otávio se aproximou de Luccino, fazendo um carinho em seu rosto triste. — me parte o coração em milhões se estilhaços. Não gosto de te ver assim,e quando tudo isso passar, eu prometo, você nunca mais vai soltar uma lágrima. — Otávio dá um selinho em Luccino, lento, com amor. Luccino solta uma lágrima. — Não chora, tuas lágrimas são como um golpe de baioneta pra mim.

Luccino tentou sorrir,mas só conseguiu chorar mais ainda, Otávio abraçou Luccino, acariciando o cabelo do italiano.

— Vai ficar tudo bem, eu estarei lá com você.  — Luccino não sabia o que dizer, suas lágrimas solitárias desciam lentamente pelo rosto, sendo enxugadas por Otávio, que sorria sutilmente,tentando animar o italiano. — Pelo menos você tem uma boa lembrança dele.

— Tenho...mas gostaria que...que ele não tivesse problemas com a gente.

— Tenho certeza de que...com o tempo, ele iria aceitar...— Otávio enxuga uma lágrima de Luccino e deixa um beijo no lugar.

— Se você diz...— Luccino olha para as próprias mãos. — Você virá ao funeral comigo,certo ?

— Sem dúvidas, vou ficar ao seu lado caso precise de algo. — Otávio puxou levemente o italiano para seu peito, acariciando seus cabelos, Luccino fechara os olhos e colocou uma das mãos no peitoral de Otávio.

— Luccino ? Já acordou ? — Mariana entrou,Brandão viera atrás dela, Luccino levantara-se do colo de Otávio lentamente. — Ah! Major,eu não vi o senhor entrar.

— Não fui embora. — Mariana tentou conter o sorriso em consideração ao luto do amigo, deixando o major desconcertado.

— Venha, Luccino, é hora de se arrumar pro funeral de seu pai. — Brandão foi em direção a cama de Luccino, que se levantou,junto do Major,que sorriu pra ele e saiu junto com Mariana.

— Vou te esperar na sala. — Luccino assentiu.

[…]

No funeral, os Pricelli não haviam chorado tanto, mas seu semblante eram a Pura definição da mágoa. Enquanto todos jogaram flores no túmulo de Gaettano, Otávio observava o caixão. Luccino soltou uma lágrima, uma voz dentro do militar sussurrou que o abraçasse,mesmo que todos pudessem ver, Otávio se aproximou do italiano e passou um braço pelas costas de Luccino, parando-o em seu braço, trazendo Luccino pra si, o outro braço foi em direção ao rosto de Luccino, que o pressionou levemente contra seu ombro,fazendo com que ele deitasse ali. Luccino soltou um triste suspiro, deixando-se levar pelo gesto de Otávio,que deixou um beijo carinhoso em sua cabeça,entre seus fios negros.

  Não diria nada. O que poderia dizer ? Nada de útil iria sair de sua boca. E Otávio se odiava por não saber como consolar Luccino.

A sepultura fora coberta de terra e uma oração foi feita. Otávio nunca fora muito religioso, não tinha certeza do que lhe esperava após a morte, e preferia não pensar nisso, não quando ele tinha motivos para viver pleno e feliz ao lado de Luccino.

As pessoas foram se dispersando e aos poucos só os mais próximos continuaram ali. Ernesto e Fani se distanciaram de seus companheiros e saíram juntos em uma caminhada. Luccino ficara junto da mãe, no túmulo de Gaettano. Luccino ainda soltava poucas e rasas lágrimas, Nicoleta o abraçava e sussurrava coisas pra ele.

Otávio se aproximou ao mesmo tempo que Luccino se virou pra ele. Era difícil dizer o que havia no olhar de Luccino, parecia um tanto vazio e vago, Otávio apenas lhe acariciou o rosto. Dona Nicoleta se virou para Otávio, que agora abraçava Luccino.

— Major. — Disse ela num tom abatido.

— Sim, Dona Nicoleta ? — Otávio lhe respondeu e Luccino se afastou dele.

— Meus filhos vão dormir lá em casa comigo hoje, o senhor acompanha meu bambino ? — Ela apertou os olhos, como se implorasse. Otávio sentiu o rosto esquentar.

— E-eu ? Digo...tem certeza de que não irei...incomodar ? — Otávio olhou dela para Luccino, que ( talvez fosse intencional, Otávio não saberia dizer ) esboçava abatimento e olhava pro chão.

— Imagina, Major. Ema e Edmundo estarão lá também pra dar apoio pra Ernesto e Fani. — Dona Nicoleta parecia convicta. — Luccino, vá procurar seus irmãos e avisar que quero ir embora.

Luccino assentiu e saiu em direção onde vira Ernesto e Fani andando, enquanto a sua mãe se virava novamente pro Major.

— Eu sei que Gaettano não gostava desse...relacionamento teu com o meu bambino, eu ainda no entendo direito. — Disse ela, se aproximando do Major. — Mas pelo Luccino, eu não quero cometer o mesmo erro do pai dele. Não me entenda mal, eu amava meu marido, que era um homem duro e antigo, mas as coisas mudaram de repente... E eu no posso viver no mesmo passado do meu marido.

  O Major sorriu diante da declaração da italiana, que abraçou Otávio sem muita cerimônia, o mesmo retribuiu o abraço e sentiu a respiração pesada da mulher em seu paletó.

Quando Luccino voltou com Ernesto e Fani, reuniram-se os seis e levaram Nicoleta pra casa.

A noite foi fria, Nicoleta relembrava momentos do pai dos Pricelli durante o jantar.

Todos poderiam estranhar a presença de Otávio ali, a maneira como ele olhava pra Luccino e lhe tocava, e a entrega de Luccino diante dele, os sussurros ao pé do ouvido e os sorrisos que o Major esboçava pra tentar animar Luccino. Mas não importava, não naquela noite.

Na hora que todos foram dormir, Fani e Edmundo foram dormir no quarto de Dona Nicoleta, Ernesto e Ema haviam ido se deitar no quarto, enquanto Otávio procurava por Luccino nos fins da casa ( o mesmo havia sumido minutos antes de Nicoleta ir dormir. ) , encontrando-o a chorar abraçado com as pernas.

— Luccino. — Otávio se sentou ao lado dele.

— Ahm...eu não queria que você me visse de jeito hoje. Chorando sem parar. — Luccino parecia repreender a si mesmo.

— Ora, não tem motivo. Homens choram e tem sentimentos.

— Dizem que tenho sentimentos demais pra um homem.

— Bobagem. Pessoas tem sentimentos, se temos muito é porque temos  grande coração. E isso com certeza você tem. — Otávio se aproximou de Luccino, passando um dos braços pelos seus ombros e tocando de leve o peito de Luccino, o que o fez soltar uma leve risada.

— Obrigado por tentar me animar.

— Por nada. Agora, é melhor você ir dormir, você teve um dia cheio. — Otávio lhe acariciava o ombro.

— Lá dentro ? Onde você não pode nem mesmo me tocar ? Não. Prefiro ficar aqui. Com você.

— Seu desejo é uma ordem.

Os dois se arrumaram ali para ficarem mais confortáveis, Otávio se recostou contra a parede da casa e Luccino ficou entre suas pernas, a cabeça deitada no ombro de Otávio, que acariciava com delicadeza o corpo de Luccino.

Provavelmente teria uma dor nas costas de manhã. Mas nada do que ele sentia ou poderia sentir importava pra ele no momento, tudo que ele queria era estar ao lado de Luccino.

Contos LutávioWhere stories live. Discover now