Dia dos esgrimistas

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  E lá estava o capitão Otávio caminhando em direção a oficina, seus pés conheciam aquele caminho assim como seus ouvidos conheciam a voz de Luccino sem precisar olhar. Ele traçaria aquele caminho mil vezes de olhos fechados e de costas.

  Passou pelo piso de madeira e viu Luccino num canto tomando água, indo até ele, que logo o viu, e já foi abrindo aquele sorriso que fazia Otávio tremer.

— Capitão, mas já veio bater ponto na minha oficina ? — Riu, enquanto passava por ele e entrava em um carro.

— Lhe incomodo ? Posso voltar outra hora. — Otávio questionou, preocupado.

— Não, foi apenas modo de falar. — Disse, enquanto indicava onde Otávio deveria sentar, ao seu lado. — Apenas não esperava vê-lo aqui até no dia dos namorados. — Luccino corou um pouco com a frase, e virou o rosto no mesmo tempo, para que o capitão não visse.

— Brandão dispensou a todos para ficarem com suas pretendentes, e é por isso que estou aqui. — Otávio disse olhando para fora, Luccino o encarou e ele rapidamente se deu conta do que disse. — Digo, porque não tenho namorada, então eu venho passar contigo, meu aluno de esgrima.

  — Mas nem temos aula hoje, você nem trouxe os floretes. — Luccino riu com humor, os  braços jogados entre as pernas e a cabeça jogada para trás virada na direção de Otávio, que sentava tão reto que Luccino não sabia se era pura formalidade ou nervosismo.

— Bom, eu trouxe algo pra você. — Otávio  tirou da farda um embrulho pequeno, simples até, mas fez Luccino sentar-se reto e olhar atencioso para o embrulho.

— Nossa, Otávio...— Ele dizia enquanto abria, com cuidado, mesmo que sem motivo aparente. — O que é ?

— Não sei se você vai gostar, não sabia se iria achar inútil ou...— Otávio disse, a mão coçando a nuca, com vergonha.

— Otávio, o que é ? — Luccino não deu atenção para o que o capitão disse, estava com dificuldade para abrir.

— U-um relógio. — e então o embrulho finalmente se partiu, mostrando o objeto. Luccino sorriu e o pegou pela corrente.

— Deve ter custado caro, não precisava gastar tudo isso comigo. Ainda mais sem motivo. — Luccino olhou pra o relógio sorrindo, para que Otávio soubesse que havia gostado, e depois guardou com cuidado no embrulho, ainda olhando pra ele.

— Como sem motivo ? É dia dos namor...esgrimistas! Dia dos esgrimistas, isso! — Disse, completamente nervoso, agora tendo o olhar de Luccino sobre si. O rapaz sorria, fazendo Otávio entender que na mente do italiano, ele não precisaria reformular as frases. Mas o italiano não perderia a chance de questionar.

— Dias dos esgrimistas ? E isso existe ? — Perguntou, debochado.

— É claro que existe! E como eu sou um excelente esgrimista e você é meu aluno de esgrima, achei que seria bom comemorar-mos. — Otávio disse, com um tom quase ofendido. — Mas se você não gostou, eu posso... — Otávio fez a menção de pegar o relógio, mas Luccino foi rápido em seguirá-lo a tempo.

— Eu gostei do relógio, capitão. Vou ficar com ele...— Disse, prendendo no bolso. agora não perco meu tempo mais.

— O que quer dizer com isso ? — O capitão questionou, Luccino sorriu e se aproximou dele no carro.

Luccino estava perto o suficiente de Otávio, sentia seu perfume, via seus lábios tremerem de leve, escondidos pelo bigode bem alinhado. Luccino às vezes continha a vontade de tocar naquele bigode.  Com uma dose de coragem ele poderia tocar.

Luccino tentou se aproximar, o relógios frio em sua mão. Ele viu Otávio facilitar o caminho, se aproximando com delicadeza, a mão subindo indo em direção a sua echarpe, o italiano fechou os olhos.

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