Contos Lutávio

Fratellino

  Ponto de Vista : Ernesto Pricelli

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Ema teve a ideia "mirabolante" de jantar na casa dos meus pais. Mamá nos recebeu com seu típico sorriso carinhoso, já o senhor Gaettano não gostou muito de nos ver ali, mas mesmo assim pudemos nos juntar para comer.

— Esse jantar vai ser ótimo, tem até um amigo de Luccino chegando. — Disse Dona Nicoleta toda alegre, meus olhos foram rapidamente em Luccino, enquanto eu o cumprimentava.

— Amigo ? — Não fazia muito tempo que Luccino havia me contado sobre o seu interesse por rapazes, eu ainda demorava a entender aquilo, mas deu pra ver em seus olhos naquela hora, que ele precisava de apoio, especialmente de alguém da família, o que tenho certeza que ele não tem nessa casa.  — Que amigo é esse, Luccino ?

— Em breve vocês irão conhecer. — Pude ver em seus olhos algo além da doçura habitual do meu fratello, um brilh diferente, ele disfarçou bem, mas eu reparei na respiração levemente ofegante que fazia subir e descer o seu peito.  Tenho a impressão de que não é  só amizade que Luccino sente.

  Parando um pouco pra pensar, o que seria de Luccino ? E se esse "amigo" não correspondesse seus sentimentos ? E quem era esse amigo ? Podia ser qualquer pessoa do Vale, até  um capanga do Xavier...não,não. Luccino não se mete com marginais. Mas ainda sim, eu me preocupava, afinal, era o meu irmão mais novo, o mesmo pequeno que eu ensinei a nadar e subir em árvores, o mesmo irmão com quem eu passava horas conversando até o sol nascer, o mesmo irmão que nunca tivera seu coração roubado, tampouco partido por alguém. Quem seria esse sujeito ? Eu ficarei atento, meu irmão é bom demais para com os outros, não permito que alguém faça mal a ele.

Alguém bate na porta e sussurra um "com licença" , eu me viro para a entrada, a fim de matar a minha curiosidade.

Luccino vai em direção ao homem, o recebendo e convidando a entrar, com as mãos em seus ombros.

— Aí está! Lembra dele, não é Ernesto ? — Luccino me lança um olhar que não identifico se é de felicidade ou cumplicidade, mas mesmo assim eu sorrio e vou em direção ao rapaz.

O capitão Otávio ? Mas ele não tinha sido noivo da Lídia ? Bom, de qualquer jeito, eu não tenho muita simpatia, o capitão sempre fora um tanto...venenoso com outras pessoas, até a amada do amigo ele cortejou. Mas dessa vez, ele parecia diferente, não havia aquela dureza em suas feições, nem mesmo a competitividade nos olhos, como se quisesse ser superior... não, não havia nada disso, havia apenas um homem com olhar cortês e um sorriso envergonhado.

— Eu não sabia que seria uma festa, Luccino. — Disse ele com os olhos em Luccino, que tinha um grande e puro sorriso diante do nervosismo do capitão.

— Nós também não, mas assim fica muito mais divertido, não acham ? — Minha Baronezinha disse com a sua habitual gentileza.

Todos nos sentamos pra jantar, falando sobre diversos assuntos, e eu aproveitava para analisar o comportamento do capitão. Ele estava mesmo diferente, falava com um tom suave, deixando o deboche de lado, além dos olhares que trocava com Luccino, poderia ser impressão, ou havia algo ali ?

Poderia o capitão Otávio ser...como ele ? O que esses dois tinham ? Amizade talvez, uma amizade diferente, estava claro.

Logo nos começamos a falar do meu casamento com Ema, que até tentou ser gentil com meu pai, mas foi devolvida com uma bela patada.

— Não vou em festa de filho desertor. — Disse ele, bruto. O silêncio que se instalou era tenso, até que o capitão resolveu falar.

— A deserção é um crime, seu Gaetano. É uma desonra. Tenho certeza que esse termo nao se aplica a Ernesto. — Ele tentou me defender. Eu olhei para Luccino rapidamente, e vi um pequeno sorriso nascer para combinar com os olhos orgulhosos que ele mantinha no capitão.

— Mas o covarde deixou a família pra trás. — Eu nem mesmo me ofendi, já er a acostumado ao meu pai me tratar daquele jeito, eu pensava que depois dessa todos tentariam desconstruir a conversa, pois Dona Nicoleta pedira calma ao meu pai, mas eu me enganei.

— O seu filho não um covarde. — Disse o Capitão sem olhar nos olhos de meu pai. — Pelo contrário, é preciso muita coragem pra poder perseguir os seus sonhos, lutar por eles, pra assumir o que realmente você deseja. — Na última frase, seu olhar encontrou o de Luccino, como fazendo um pedido.

— Já falamos isso mais de mil vezes pro meu pai, capitão. — Luccino disse em tom baixo. — Mas é bom ele ouvir de alguém de fora.

  O rosto do capitão demonstrou algo diferente nos segundos que se passaram, primeiro um leve sorriso de desconforto, e uma olhada inesperada para Luccino, demostrando supresa por algo, sendo devolvido por um rosto que esperava por algo. Parecia uma conversa que só os dois entendiam, algo estava ali mas eu não podia ver.

Meu pai se levantou, bruto, e saiu. Eu pedi desculpas a minha esposa pelo jeito turrão do meu pai, antes de me virar ao capitão e ver algo interessante, era um leve e quase insignificante movimento, mas seus braços pareciam curvados na mesma direção, com certeza estavam se tocando no centro, deve ter sido isso que eu não havia visto. Luccino viu meu olhar e eu li a mensagem em seu olhar, assumindo. Era ele.

Eu agradeci o capitão pela defesa, e vi seu sorriso na direção de Luccino, que olhou pra baixo com uma feição de uma nova sensação surgindo.

O resto do jantar fora bem mais agradável. Logo após tirarmos a mesa, Luccino se retirou pro quarto e despediu-se de todos, o olhar de Otávio o acompanhando até o quarto. Nós quatro conversamos mais um pouco, antes do capitão ir embora também. 

Logo já estava tarde, e nós nos despedimos da minha mama e saímos da casa. Na penumbra da noite, eu vi Otávio indo para o quarto de Luccino e entrar pela janela, como se já conhecesse aquele caminho.

— Ernesto, o que está olhando ? — Ema tentou olhar pra mesma direção.

— Nada... Você notou que o Capitão parece diferente ?

— Sim, estava mais...humano. — Ema deu uma risadinha. — Acho que deve ser a amizade com Luccino que o fez mudar, Luccino é um homem de ouro. Com certeza tem algo especial ali.

— Você está certa, Baronezinha, ali deve ter algo muito especial...

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Conto novo depois do sumiço
Juro que não foi a intenção, mas é que com as novas fics fica difícil att os contos
Me perdoem
Bjs