Capítulo 10 | ALIANÇAS

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- Quando eu era pequeno, costumava achar que teria tempo demais para amar.

Corro para o banheiro, ainda sem saber o que falar ou como agir, apenas passando a mão no local e percebendo o resultado pela minha desobediência, - Por que diabos eu achei de deveria fazer isso?! - pergunto a mim mesmo, num auto fuzilamento inter...

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Corro para o banheiro, ainda sem saber o que falar ou como agir, apenas passando a mão no local e percebendo o resultado pela minha desobediência, - Por que diabos eu achei de deveria fazer isso?! - pergunto a mim mesmo, num auto fuzilamento interno e silencioso, conforme pego o papel higiênico em mãos e começo a estancar o sangue frente ao espelho; envergonhado, arrependido e preocupado:

- Idiota idiota idiota - me aniquilo, batendo com o punho cerrado na lateral da cabeça e balbuciando cada uma das palavras num tom inaudível para ele, que agora está sentado na beira da cama e com as mãos na nuca.

- Pra mim chega cara! - exclama, duro e incisivo, as palavras chegando e mim como lâminas afiadas e esquartejando meus sentimentos. - Essa porra não vai dar certo. - pontua, indo em direção a saída no momento em que deixo o banheiro, às pressas, sem me preocupar com mais nada além de tomá-lo pelo pulso firmemente:

- Fica... - imploro, os olhos molhados e a voz falha suprimida por um quase-choro.- por favor...

Ele apenas me observa, impassível, com o seu olhar que parece sempre estar na corda bamba entre o bom humor e a completa ausência dele, então, sem qualquer consequência em mente, começo a dissecar meu coração como uma rã e expor meus sentimentos mais íntimos:

- Eu te amo, Tomás, amo de verdade, eu sou louco por você desde a primeira vez em que te vi, você arranca minha respiração e brinca com meus batimentos só de passar por mim no corredor, desde que te conheci, não faço outra coisa senão passar horas do meu dia pensando em você, e isso só continua quando deito minha cabeça no travesseiro, eu quero estar com você, sob os seus próprios termos ou qualquer regra que tenhamos de definir, só, me desculpa pelo que fiz, não vai acontecer novamente...

Silêncio... pensamentos indecifráveis, então:

- Pensasse nisso antes de me desobedecer, seu viado. - Concluí, desvencilhando o pulso de mim e deixando o quarto sem dar vazão para uma nova súplica minha, batendo a porta com uma brutalidade ainda maior do que quanto entrou, me deixando na companhia do meu coração partido, por uma relação que se desfez antes mesmo de começar.
Me lanço sobre a cama, no mesmo local onde antes seu corpo estava estirado, reacendendo a sensação de tê-lo tido exatamente aqui, mas logo me vêm a certeza implacável de que nada disso voltará a acontecer, junto com as lágrimas, e o choro...

Algum tempo depois, ainda com o rosto enfiado no colchão, ouço o abrir/fechar da porta, sei que é o Bruno, mas isso não importa, nada disso importa, eu só quero ficar a sós com meus sentimentos desfeitos, amaldiçoando o mundo por ser tão injusto com os gays quando o quesito é construir algo sólido; sem receios, ressentimentos, ou arrependimento:

- Quem diria em véi... - Bruno rompe o silêncio, não só pelas suas palavras, mas pelo saquinho de salgado barulhento que abre no momento. - Você aí, todo certinho, maior metido a nerd, dando uns pegas com o pivot do São Vicente.

Quase entro num colapso, surpreso com a sua declaração direta e ácida, mas aí lembro do que ele realmente está se referindo, e isso me acalma do susto:

- Motivações. - Digo.

- O que?!

Levanto o rosto afundado no colchão:

- Motivações, você se surpreenderia com o que leva as pessoas a tomarem certas atitudes, ninguém é totalmente vilão ou mocinho, os papéis podem ser trocados dependendo do cenário ou de com quem você atua.

- Legal... - ele dá de ombros com desdém, mais interessado em comer os salgados e procurar algo útil pra ver na televisão. - É um papo muito estranho pra mim, vai ver faria mais sentido se eu tivesse fumado uma com vocês. E cara, acho bom não sair agora, seus olhos ainda estão vermelhos e meio inchados.

Por um momento tenho vontade de desfazer suas observações ao meu respeito, contar o que de fato se passou e por que me encontro nesse estado, mas não posso manter minha imagem imaculada sem expor o meu segredo com o Tomás, e ainda que tudo entre nós esteja desfeito, irei manter minha moral intacta, levando nosso curto envolvimento para a beira de minha lápide, o soterrando junto a mim.

Depois disso nenhum de nós quiz manter o assunto ou levantar outro, eu estava afundado em minha própria miséria e ele preferia manter a boca cheia, eu gostaria de dizer que tive uma noite tranquila e sem pensamentos recorrentes no Tomás ou em tudo o que aconteceu, mas esse não foi o caso, e ao acordar no dia seguinte, a profundidade de tudo o que tinha acontecido parecia ainda maior; é assim com as coisas ruins, elas parecem ainda piores quando o dia amanhece e a ficha finalmente caí... Tomás se foi.

Mas, ainda que minha vontade seja a de permanecer na cama enquanto como um pote de sorvete tentando preencher um vazio que não é na barriga, o mundo segue o seu próprio ritmo, alheio a todos os problemas sentimentais das pessoas, e as obrigações de mais uma semana de aulas se anuncia para nós, então reúno o restante de vigor que me sobrou e arrasto meu corpo para fora da cama, deixando que a água fria faça o seu trabalho.
Enquanto deixo o 107 para a primeira aula, a preocupação em encontrar o Tomás pelos corredores já começa a tomar conta de mim, não só por eu sequer saber o que irá acontecer, como também pela minha completa falta de jeito para agir diante dele novamente, por sorte, nosso encontro não acontece na primeira ou segunda aula, e como não fazemos nenhuma aula juntos até quarta-feira, só preciso evitar os corredores onde ele costuma ficar e fazer minhas refeições dentro do dormitório...

A coisa parece realmente promissora, de modo que no intervalo entre a quarta e quinta aula, só preciso me servir rapidamente no refeitório e levar tudo para comer no 107, o refeitório está cheio, e isso ajuda a me misturar, então trato de pegar uma bandeja e sigo imediatamente para a fila, é aí que sou surpreendido, totalmente pego de surpresa, não por estar vendo o Tomás em uma das mesas, pois ele sequer percebe a minha presença aqui, mas por ele ter agregado ao seu grupo impenetrável de insubordinados alguém que aparentemente não seria uma escolha em potencial, se levando em conta tantos outros garotos que até hoje tentam ser parte ativa do bando e falham miseravelmente. Me sirvo rapidamente e sigo para o dormitório, pensando se vou conseguir comer depois disso.
Não consigo me aproximar dele em nenhuma das próximas aulas, isso porque também não fazemos aula juntos, e nos outros intervalos ele segue na companhia do bando, por isso, é só quando as aulas terminam e nos encontramos a caminho do 107 que posso fazer minha alegação:

- Você e o Tomás andado junto? Por essa eu não esperava.

Ele ri ironicamente, dando de ombros:

- Motivações, você se surpreenderia com o que leva as pessoas a tomarem certas atitudes, ninguém é totalmente vilão ou mocinho, os papéis podem ser trocados dependendo do cenário ou de com quem você atua.

Silêncio...

- Agora eu entendo, e não precisei fumar maconha pra isso...

@ a

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O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)Where stories live. Discover now