Capítulo 11 | CLIMA DE CAOS

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- Nunca imaginei que um dia sentiria saudades dos tempos de colégio.

       Por um breve momento quase me pego admitindo que eu também não o fiz, mas me detenho ao impulso quando tomo consciência de que isso nos levaria diretamente ao que estávamos fazendo lá, coisa que não ajudaria nem um pouco a minha situação at...

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Por um breve momento quase me pego admitindo que eu também não o fiz, mas me detenho ao impulso quando tomo consciência de que isso nos levaria diretamente ao que estávamos fazendo lá, coisa que não ajudaria nem um pouco a minha situação atual:

- Não se esqueça... - advirto. - é do Tomás que estamos falando.

Ele dá de ombros e sorri com certo escárnio, ajustando a mochila nas costas conforme seguimos pelo corredor:

- Sabe o que eu não consigo entender cara? Como você pode estar com o Tomás num dia e no outro sair por aí agindo como se ele fosse a pior pessoa do mundo.

Engulo em seco, sentindo o grande bolo de palavras censuradas me descendo goela abaixo junto à tudo o que tenho que deixar de fora acerca da conduta do Tomás:

- Você não sabe de NADA! - me pego alterando a voz no final (o que é surpreendente até para mim), tem certo rancor no tom da minha fala e ainda que sem querer, sei que minha postura denuncia para o Boca muito mais do que há na superfície dos fatos. Estamos à frente do 107, mas ele retém os passos, lançando sobre mim um olhar cortante e inquisitivo:

- Então me diz porra! - Rosna, a face ganhando um tom levemente avermelhado. - porque se quer mesmo saber, já é bastante estranho o Tomás querer contato com um cara como você, você não é como ele, não percebe? é todo delicado e tem essa pinta de nerd estudioso, mais parece um... Uma... ah! Deixa pra lá! Além do mais, que eu me lembre somos apenas parceiros de quarto, logo, eu não te devo nenhuma satisfação do que ando fazendo por aí, se liga!

Perco a fala, o ar, os sentidos, fico estagnado exatamente onde estou enquanto ele entra com os nervos há mil e fecha a porta estrondosamente, o que faz alguns meninos saírem de seus dormitórios para ver o que de fato se passa:

- Não é nada... - asseguro, e quando todos retornam aos seus respectivos quartos, quase não tenho cara para entrar no meu.

...

Depois da minha discussão com o Boca, o que era ruim se torna ainda pior, pois agora, além de passar parte do dia evitando um possível encontro com o Tomás, tenho que dividir o quarto com um carinha que, na maior parte do tempo, ou está me evitando, ou lançando olhares fuminantes para mim, e isso acaba sendo tão cansativo que, ao final de cada dia, estou duplamente desgastado e sem ânimo nem mesmo para tocar nos meus mangás. Às noites, sobre a penumbra do quarto escuro, a figura do Tomás vem me visitando dia após dia, materializando em pensamentos falhos todo o que nos aconteceu, são falhos porque são repicados, apenas recortes medíocres que passam largo do que foi a experiência real e vivida, com todos os sabores, cores e tons, mas agora, diante de tudo o que perdi, mesmo essas pequenas e cada vez mais remotas lembranças, me parecem o suficiente para trazer uma dose de alegria aos meus dias, e fazer com que eu reze para não as esquecer, ainda que esse seja um processo natural e mecânico com tudo e todas as coisas...

O Capítulo do Pedro (Spin-off Alojamento dos Héteros)Where stories live. Discover now