Monspiet

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Celine impaciente com sua curiosidade, subiu ao mastro, sabia que não seria fácil descobrir o que acontecera, afinal, Connor não era muito de falar, isto é, falava quando e com quem desejasse.
- Oi, pra onde o capitão foi? - a garota não era do tipo que estendia frases, era curta e direta.
- Bem, apenas recebi esta carta, Ikaros me trouxe. - acariciava o animal que comia pedaços de carne - Ele é ótimo, não?
A morena apenas concordou com a cabeça, não prestando muita atenção.
- Mesmo que seja suspeito, espero que esteja tudo bem. Ele disse que voltará logo, acredito nele. - disse, não como se esperasse por uma resposta, pois sabia que não a teria. Olhou ao redor.
A visão era ampla, afinal, era um lugar alto. De lá podia ver o mar extenso, o porto cheio de pessoas perambulando. Reparou no navio ao lado, ou melhor, à frente dele.
Ali havia um grupo de homens aparentemente brutos. O que estava ocorrendo?
Por hora sua mente se manteve em "não é nada de importante, fique aqui", mas não é como se desse muita atenção ao que seu cérebro dizia, sua curiosidade era mil vezes maior.
Desceu rapidamente e se aproximou do amontoado de gente. Pessoas gritavam incentivando, enquanto outras pediam para que cessassem, os gemidos de dor eram audíveis mesmo que ao longe.
Como esperado, uma clássica briga de piratas.
Celine tentou ver quem era, digasse de passagem, sua altura não contribuía muito. Tentou procurar por algum conhecido. Ali estava outro membro de sua tripulação, Riu.
Perguntou-lhe quem eram os que lutavam. Não recebeu uma resposta, mas sim uma abertura de espaço para que pudesse ver por si própria.
Para sua surpresa, Monspiet e um outro homem, provavelmente algum companheiro de navio seu.
Depois de alguns minutos, o corpo do homem já estava ao chão, uns tentavam retirá-lo, mas a grande maioria se dirigia à taverna para uma comemoração.
A garota olhou ao redor à procura do rapaz. Viu-o se afastando, andando entre a multidão.
- Te achei! - segurou em sua manga, impedindo que continuasse.
- Com todo o respeito, não tem mais nada para fazer além de me seguir? - soltou um riso fraco, mas a tristeza em seu tom era clara.
- Não é a minha primeira opção de ocupação, acredite. Quer conversar? Tenho tempo livre.
Ambos sentaram em um gramado mais afastado.
O lugar era arejado e verde, a cor entrava em contraste com o azul do céu que se destacava em meio às nuvens bem definidas.
- Então, o que leva um sofisticado pirata como você à lutar em meio à multidões assim? - soou brincalhona.
- Você viu?
- Todos viram. Se não quiser contar tud...
- Era meu amigo. - cortou sua fala - Éramos do mesmo navio, da mesma tripulação, uma mesma família. Mas ele queria ser capitão e isso era a única coisa que eu não poderia dar, não poderia deixar acontecer. - respirou fundo, não retirando seu olhar do céu, em certo ponto as nuvens pareciam uma boa forma de entretenimento e distração - Ele estava há mais tempo ali que eu, mas o nosso antigo capitão, o próprio capitão, me deu esse posto e eu não poderia simplesmente entregá-lo. Por questão de honra. Então começou a arrumar confusão comigo, na tentativa de me fazer desistir.
- Você é admiravelmente forte, não apenas fisicamente.
- Ser forte nessas é um tanto duro, de todas as maneiras. Essa situação me deixou mal, não queria que tudo isso tivesse acontecido.
A aura ali era pesada e triste, a decepção e a dor estavam quase se personificando.
Celine, percebendo isso, recorreu à uma ideia momentânea.
- Está com fome? - lhe olhou com um tom mais animado, afim de alivar a tensão.
- Devo admitir que estou com um pouco de fome. - riu fraco.
Caminharam junto até o navio do rapaz, antes de entrarem, Celine pôde ver Gery lançando um olhar frustrado a ela, enquanto batia com dois dedos no pulso, indicando que não teria muito tempo.
Foram diretamente até sua cozinha.
- Então, o que quer comer? - falou enquanto abria as gavetas e armários, na tentativa de achar algo - De que gosta? Me diga seu prato favorito.
- Creio que não haja uma. Sou do tipo de como de tudo. - riu, se escorando em uma das paredes.
- Então... - observou peixes sobre a mesa - Quer pescar? Você sabe, não é?
- Olha, só tive a oportunidade de pescar uma vez na vida, foi com meu antigo capitão. - sorriu, a lembrança parecia confortar seu coração de alguma maneira - Vai ser bom fazer isso, é sempre bom manter as boas memórias vivas.
- Vamos lá! Prepare-se para conhecer a melhor pescadora que você já viu e verá. - fez uma pose dramática, arrancando um sorriso de Monspiet - Tem alguma vara por aqui...?
- Tenho uma, mas podemos procurar por outra. - saiu, fazendo um sinal para que a garota o acompanhasse - Posso te mostrar o navio enquanto isso, quero que conheça minha sala.
Caminharam rápidos minutos até pararem à frente da porta de madeira um pouco manchada, provavelmente em decorrência às chuvas, mas nada que tirasse sua beleza e elegância.
O cômodo não era necessariamente amplo, porém o básico para que fosse incrivelmente agradável. As paredes de cor vermelho-arroxeado pareciam pintadas recentemente, não apresentando falhas. No centro, uma mesa, ao seu redor estavam seis cadeiras. Vasos decoravam três dos quatro cantos dali, exceto o que havia uma pequena adega, repleta de vinhos aparentemente caros, o que fez, por um rápido momento, com que Celine desejasse descobrir a história por trás de cada um deles.
- Aceita um? - Monspiet indagou, fazendo com que a garota saísse de seus devaneios particulares - É forte, já avisando.
Celine assentiu - Não é nada com que eu não possa lidar.Além de que seria falta de educação recusar - tentava se convencer.
Ao pegar o copo, a garota o virou rápido, sem hesitar. Sentiu a sala ao seu redor girar rapidamente e uma dor de cabeça se instalou. Estava bêbada e era claro. Viu-o pegar um copo e virar, mas não viu um efeito sequer. Ele continuara ali, são e intacto.
- Me disse que conseguia lidar com isso. - Monspiet apoiou seu queixo nos cotovelos em cima da mesa, com um sorriso de canto que exalava seu contentamemto "vitorioso".
- Fique quieto. - a morena torceu o nariz, não aceitava ser motivo de riso, por mais fraco que fosse. Encheu outro copou e virou. Dessa vez nada aconteceu, apesar de ter sentido o líquido ardendo enquanto descia por sua garganta - Enfim, - arranhou a garganta, agora mais firme - e sua família, onde estão seus parentes?
- Bem, - endireitou a postura - não tenho muita ligação com eles. Sinto muita falta. - agora seu sotaque francês estava levemente embargado, como se a vontade de deixar lágrimas escaparem fosse grande.
- O que aconteceu? Por que estão separados? - Celine agora parecia interessada.
- Vá embora. - o rapaz se levantou, retirando os copos e a garrafa - Creio que já está na sua hora de ir, além de que tenho mais coisas a fazer.
- Eu...certo, estou indo. - se levantou contrariada e confusa, não entendia a reação que recebera. Caminhou até a porta, abrindo-a. - Até logo. - deu uma última olhada, antes de fechá-la atrás de si.
Celine caminhou lentamente, enquanto arrumava sua madeixas azuis na tentativa de parecer menos "recém meio-sóbria".
Embarcou no Urca de Lima, recebendo de primeira mão um olhar furioso de Gery, provavelmente por ainda estar bêbada.
- O que significa isso? - o tom do meio-gigante era de raiva e preocupação mistas.
- Nada. Juro. Não se preocupe tanto. - sorriu, caminhando para um esperado abraço.
- Vá tomar um banho. - deu um leve empurro na garota, apenas na intensão de afastá-la, e se retirou com um olhar abalado.

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