Gerath

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A azulada foi até a embarcação do procurado.
Desta vez, conseguiu vê-lo sem problemas.
- O que quer aqui? - o loiro a encarava sério.
- Desejo informações sobre o paradeiro de sua irmã.
O rapaz estalou os dedos e, de repente, outro homem surgiu e imobilizou Celine.
Irritada, a garota empurrou-o para trás com os ombros, vendo o mesmo rolar. A surpresa no olhar do loiro era claramente perceptível.
Celine partiu com sua massa em direção ao rapaz, que tentou desviar do golpe, mas acabou sendo atingido no joelho. A jovem viu o osso deste indo para trás, lhe causando uma fratura exposta e o rapaz gritar de dor e cair no chão.
- Onde está sua irmã? - a morena segurou em seus cabelos, fazendo com que olhasse para ela.
- A Jéssica...? Em Falldenghar... - disse com a voz embargada.
- Obrigada, mas agora você não me é mais útil. - bateu com a massa na cabeça do rapaz, deixando o corpo ir de encontro ao chão já sem vida.

Ao retornar ao Urca de Lima, foi de encontro a Charlotte.
- Essa outra cultista está em Falldenghar, fontes seguras me disseram. - escorou-se em uma mesa.
- Iremos até lá.
Zarparam.
Após seis dias, alcançaram o seu destino.
Agradeceu por Urca de Lima ser um dos navios mais velozes que já vira em sua vida.
Ao aportarem, Celine observou o local. Era uma densa floresta, do tipo que as pessoas evitam adentrarem sozinhas.
- Você vai comigo, não é? - indagou a Gery.
- Nem pensar. - respondeu.
- O quê?! - disse incrédula - Você vai me deixar ir sozinha? Que injusto.
- A missão é para você, além de que tenho muitas tarefas aqui. - sorriu como quem diz "boa sorte".
- Que seja. - se despediu e saiu, se perguntando o que faria em seguida.
- Ei! - viu Charlotte correndo em sua direção - Conheço um senhor, ele transporta pessoas, talvez ele te ajude. Boa sorte, garota!
A morena caminhou junto do cachoro até encontrar o homem, que lhe ajudou a atravessar a floresta.
Em certo ponto, Celine ouviu uma música ecoar. Sons de flauta. Uma doce e intrigante melodia. Mas logo esta cessou.
Celine sentiu seu corpo pesar e suas energias serem sugadas, logo apagara.

A garota se viu mais nova, vestida com um longo vestido branco, próximo de si, um homem alto e forte com cabelos longos, indo até suas costas, e moreno. O rosto não lhe era familiar.
- Por que está tão brava assim? - o homem lhe perguntava.
- Não gosto de vestidos. - olhou para si mesma - Estou ridícula. Não sou o tipo de garota que usa vestidos.
- Mesmo seu pai lhe comprando os mais finos trajes, você continua usando seus trapos? - lançou-lhe um olhar repreensivo.
- Ah. Não tenho culpa se meus trapos são melhores que as roupas que meu pai me compra. - fez bico.

A consciência voltara à seu corpo. Não estava mais desmaiada.
- Quanto tempo se passou? - perguntou, ainda esfregando os olhos para que sua visão voltasse ao normal.
- Por volta de uma hora. - a morena se surpreendeu, pois jurava para si mesma que se passara, no máximo, cerca de seis minutos.
Voltaram a caminhar.
O homem avisou que haviam chegado ao seu destino e retornou ao caminho por onde vieram.
Celine avistou um idoso caído junto a uma carroça quebrada no meio das árvores.
Correu até ele.
- O que aconteceu? - tentou ajudar a levantá-lo.
- Eu estava levando algumas mercadorias até o mercado quando fui atacado por alguns trombadinhas. Já não estou em minha melhor forma para conseguir fugir, criança. - soltou um riso soprado.
- O senhor quer ajuda? - disse, mesmo imaginando a resposta.
O mais velho aceitou a ajuda e logo a jovem se despôs a levantá-lo, recebendo um agradecimento.
- Onde o senhor mora? - perguntou.
- Em uma fazenda não muito longe daqui. Não quero abusar da sua gentileza, mas pode me ajudar a levar essas coisas até minha casa? Não tenho mais condições de levá-las até o mercado. - sorriu de canto.
A morena prontamente concordou.
Pegou os dois cavalos que ajudavam-no a puxar a carroça e montou-o em um e logo subiu em outro.
Ao chegar em sua fazenda, Celine deixou os animais no estábulo e se juntou ao idoso.
Quando se aproximou, o homem lhe estendeu uma moeda, a jovem recusou, afinal, havia feito tudo de boa-fé.
O ancião insistiu.
Contrariada, a mais nova aceitou.
Esta moeda era diferente.
Era uma moeda de ouro, seu tamanho era duas vezes maior do que o de uma moeda normal, de um lado estavam uma espada e um cavalo, do outro, o rosto do idoso.
Sem ter tempo de perguntar nada, Celine apenas guardou a moeda e seguiu até o castelo do reino.
- O que deseja? - o mais baixo dos guardas perguntou.
- O rei está em perigo. Me deixem ajudar!
Os guardas se entreolharam e gargalharam.
- Não nos conte piadas agora. - destas vez o outro quem falou - Perigo? Aqui? Garota, este é o castelo mais bem protegido de toda Falldenghar. Agora vá e não nos amole mais.
Contrariada, se dirigiu para a taverna mais próxima.
O local estava relativamente limpo, em comparação com as outras onde esteve recentemente. Apesar do som alto das várias vozes falando ao mesmo tempo, não deixava de ser um ambiente familiar para si.
O dono do lugar era alto e gordo, barba ruiva, cabelos longos, amarrados nas pontas e com tranças nos lados.
Questionou ao taverneiro se este conhecia a jovem que procurava, lhe dando todos os detalhes possíveis que estavam ao seu alcance. Porém não conseguiu resposta alguma, o homem sequer mediu esforços çara ajudá-la.
De repente, viu uma figura diferente entrar.
Um homem completamente armadurado, com uma capa negra cobrindo todo o seu rosto, o que deixou Celine ainda mais intrigada.
Se sentou ao seu lado e pediu uma cerveja.
Aproveitando a oportunidade, a jovem perguntou-lhe sobre a sua procurada. O maior lhe olhou de canto e deu um sorriso, pegou seu saco de moedas, deu uma para o taverneiro e saiu.
Contrariada, se levantou, chamou Billy e o seguiu.
Quando menos esperava, viu-o chegar em uma fazenda, a mesma onde estivera com o senhor.
Se manteve do lado de fora, na janela, apenas observando os passos do outro.
O homem entrou e deixou sua capa de lado. Por um segundo Celine se distraiu observando a aparência atraente do mesmo. Este era loiro, de olhos azuis.
Continuou observando.
De repente, viu uma cena que jamais esperaria.
O homem retirou sua face e, com naturalidade, a jogou em um canto qualquer e foi para a cozinha, não permitindo que visse seu rosto.
Curiosa, a morena entrou silenciosamente na casa, conseguindo passar despercebida.
Não encontrando nada, resolveu sair.
Sem saber o que fazer, estava prestes a seguir a estradinha por onde viera quando ouviu uma voz grave atrás de si.
- O que leva uma pessoa a seguir outra e investigar sua vida?
Sentiu seu corpo gelar.
Olhou para trás e viu o mesmo homem loiro.
"Puta merda", pensou.
- Devo repetir a pergunta? - olhou sério.
- Eu só te segui porque achei meio suspeito.
- E por isso resolve tomar a liberdade de espionar a vida alheia? Seus conceitos são bem diferentes.
- Que seja! Me diga então, quem você realmente é? - tentou parecer valente.
- Sou um simples homem. Apenas isso. - recebeu um erguer de sobrancelhas - O que quer neste reino, além de estudar a vida dos moradores?
- Vim proteger o rei. - projetou um sorriso vitorioso.
- O rei não precisa de proteção.
- Precisa sim. Ele está em perigo.
- Não, não precisa. Falldenghar tem a melhor segurança que você verá enquanto viver.
- Ele está em perigo! - insistiu.
- Por que toda essa insistência? - sua voz parecia derrotada.
- E qual todo o seu interesse na vida do rei?
Por um segundo, Celine reparou que estava escurecendo.
- Sou um conhecido. Não tão conhecido quanto deveria, mas, ainda assim, conhecido.
- Quem é você? - insistiu.
A azulada viu o homem levar sua mão até o rosto e puxá-lo, fazendo com que descolasse de sua face, e jogando-o no chão.
Quando pôde reparar, viu um homem negro com metade do rosto queimado, porém isso não impedia que fosse bonito. Seu rosto tinha traços firmes, como se fosse cuidadosamente desenhado. Era careca e aparentava ter, no máximo, vinte e quatro anos. Com aproximadamente um metro e noventa de altura.
- Posso tocar? - foi a primeira coisa que viera em sua cabeça.
O rapaz assentiu.
Celine levou seus dedos cuidadosamente ao seu rosto, tocando e analisando cada detalhe, cada relevo e cicatriz que a dor e o calor haviam deixado ali.
- O que é isto? O que aconteceu? - a curiosidade lhe tomava conta novamente.
O mais alto suspirou.
- Quando eu era criança, eu e meu irmão mais velho estávamos brincando ao redor de uma fogueira, para mim era só mais um dia normal, eu estava feliz. De repente, meu irmão simplesmente me jogou em direção ao fogo. - contar isso parecia feri-lo novamente - Queimei metade de meu rosto, como você pode ver, e graças ao mago do reino não perdi a visão também. - esboçou um sorriso fraco no canto dos lábios - Agora uso isto. - indicou a máscara, que agora era de madeira - É magia Doppelganger. E vivo naquela fazenda abandonada.
Celine lhe explicou a história da garota que procurava, para tentar aliviar a tensão.
- Vou te ajudar a encontrá-la, afinal, por que não acreditaria em uma baixinha de cabelos azuis que acabei de conhecer enquanto ela me perseguia? - sorriu vendo a careta que a jovem fez quando ouviu sua descrição.
- Meu nome é Celine. - sorriu e esticou a mão para o rapaz.
- Gerath. - retribuiu o aperto de mãos.
Sentiram algo pingar sobre suas cabeças. Estava garoando.
- Me siga.
Caminharam até uma casinha, onde morava uma idosa de aparência simpática, que se despôs a cuidar do cachorro.
Gerath logo fez outras duas máscaras, colocou uma e entregou a outra para Celine, que fez o mesmo.
A senhora lhe entregou um vestido de festa longo e branco, com detalhes em dourado.
Olhou para o rapaz, que agora estava com o rosto de um homem belo e de cabelos negros, digno de um nobre.
- O que eu ganho com isso? - a morena indagou.
- Vai ser assim. Não reclame, pois só assim conseguirá entrar naquele palácio. - torceu o nariz.
Celine concordou e ambos seguiram para o castelo.

O Culto e a AliançaWhere stories live. Discover now