Gery

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Jonathan sangrava em grande escala, sua respiração estava pesada, como se sua vontade de respirar fosse menor que sua energia para o fazer, Celine supôs que seus batimentos estavam cessando, o medo de perder alguém novamente tomou conta da garota.
Apesar de estar aterrorizada por ser ciente da força do ferido, Celine ainda mantinha a fé de ter uma boa porcentagem de change do homem sobreviver.
Antes que pudesse pensar no que fazer, viu Gery saltar em direção ao homem encapuzado, martelando seu braço e arrancando-o.
Mesmo com a dor insuportável, o homem tentou revidar, errando o golpe e caindo. Celine arriscou atacar, também errando o golpe. Aproveitando a oportunidade, o encapuzado, que portava um punhal, passou-a pela perna da garota, deixando ali um corte, que fez com que a morena praguejasse de dor.
Rapidamente Gery acertou a cabeça do sujeito com seu martelo, vendo-o caminhando lentamente até a morte.
Celine correu com dificuldade até Monspiet, ajoelhando ao lado do corpo. Tornou a executar as magias de cura que estavam ao seu alcance, neutralizando a dor que o rapaz sentia.
- O anel... - o meio-gigante se pronunciara.
- Eu havia esquecido. - Celine retirou-o do dedo, porém, antes que pudesse agir, viu o objeto se partir em pedaços.
- Não pode ser usado por alguém que não seja seu condutor, é óbvio. - o homem comentou alto consigo mesmo - Vamos embora.
Gery recolheu o rapaz eu seus braços e caminharam até a passagem de pedra por onde entraram. O meio-gigante colocou o corpo para baixo, em seguida ajudou a garota a descer e antes que pudesse ir, ouviu barulhos estranhos, como corpos se arrastando rapidamente, retirou um envelope de seu bolso e o jogou para Celine, que logo observou ser uma carta. Quando a garota abrira a boca para perguntar o que era, Gery jogou a pedra ao seu lugar de origem, tampando a passagem.
- Vá embora! - foi a última coisa que a morena pôde ouvir.
A garota deu o braço para Monspiet, para que pudessem sair dali.
Logo que avistaram a floresta, Celine viu o caminho à frente balançar, embrulhando seu estômago e fazendo sua cabeça doer. Sentiu seu corpo enfraquecendo, apesar de lutar para se manter em pé, caiu.
- Porra, garota! - Jonathan resmungou, agarrando Celine com dificuldade, por conta da dor que ainda sentia - Isso é hora de cair?
Vendo que Celine morria aos poucos, Monspiet levantou-a em seus braços e caminhou o mais rápido que conseguia até sua embarcação.
Chegando lá, deitou a garota em sua cama, procurou algo em suas gavetas, em meio suas roupas, entre suas garrafas de vinho.
Quando olhou em direção a cama, viu uma águia ali pousada, Ikaros, pássaro de Connor, tripulante do Urca de Lima. A ave carregava em suas garras um pequeno frasco.
Ainda levemente confuso, Monspiet pegou o frasco, retirou a rolha, virou metade do líquido na boca de Celine e, o restante, no corte da mesma.
Logo a garota já estava restaurada e de volta aos seus sentidos.
- Fique aqui e descanse. - Celine disse à Jonathan e levantou-se - Tenho que voltar à minha embarcação. - deu um sorriso de canto e saiu.
Ao adentrar o navio, olhou ao redor. Era bom estar ali novamente.
- Celine! - Charlotte veio ao seu encontro, acompanhada de Connor.
Charlotte era uma das tripulantes do Urca de Lima. Com vinte e sete anos de idade, sua maturidade era mais do que adequada. Possuía cabelos loiros que combinavam perfeitamente com seus olhos azuis espetaculares. Fora encontrada por Gaythan após sua família abandoná-la, logo se tornando braço direito do capitão. Não demonstrava muitas emoções, seu olhar era sempre algo neutro, não de maneira fria, mas algo que transmitia uma sensação de receio ao se referir à moça.
- Cadê ele? - Connor olhou para a entrada do navio procurando por alguém.
- Onde ele está, Celine? - o tom de Charlotte era apreensivo - Onde o Gery está?
A morena sentiu sua garganta apertar.
- Eu... - sua voz já embargada pelo choro, as lágrimas quentes escorrendo por suas bochechas.
Celine correu e abraçou forte a loira - mesmo sabendo o quanto a outra não gostava desse tipo de demonstração afetuosa - que retribuiu ao perceber o nervosismo da menor.
- Gaythan... - disse - Gaythan está morto e agora Gery está em apuros enfrentando sabe-se lá o que. Vão ajudá-lo!
Ainda em choque, os outros tripulantes seguiram até o local onde Celine indicara e a mesma foi para seu quarto, deixando a carta que recebera de lado e se deitando.
Ao acordar, saiu de seu quarto, dando de cara com Riu.
- Olha só. Pensa que não ia mais acordar. - riu.
- Quanto tempo eu dormi? - a garota perguntou confusa.
- Dois dias. - disse e seguiu seu caminho.
Desacreditada e cheia de esperança, procurou por Gery.
Foi até a cozinha, mas não achou ninguém. No canto da parede apenas estava Ritha, o martelo, pendurado.
Procurou por outros lugares do navio, não encontrando ninguém e sentindo seu peito apertar.
Voltou até a cozinha e se sentou no chão. Pensou em tocar no martelo, pois sabia o quanto o homem odiava aquilo, talvez isso o fizesse aparecer.
Fez, mas nada aconteceu.
Resolveu ir até o convés, lá encontrou Charlotte, que a abraçou. Com a ação, Celine chorou de maneira inincontrolável.
- Onde está ele? Vocês não o buscaram? - se debatia em desespero.
- Sinto muito. - a mais velha respondeu.
A morena caiu de joelhos, com as lágrimas escorrendo por seu rosto e seu coração cada vez mais apertado.
Com os olhos embassados, viu um vulto parar à sua frente tampando o Sol.
Sentiu a pessoa a segurar pelo ombro e deixá-la em pé.
Ainda de cabeça abaixa, a garota teve seu corpo suspenso e colado ao outro em um grande e caloroso abraço. Um abraço familiar, mas apenas de um lado.
Gery.
- Eu não acredito! - Celine o abraçou ainda mais forte - Você está bem? - secou suas lágrimas.
- Estou sim. - sorriu.
- Tem certeza? - a garota apontou para seu braço, que já não estava junto do corpo.
- Fiquei com inveja. - riu - Você leu a carta?
- Não. - Celine sorriu amarelo.
- Ufa. - disse em alívio, passando a mão na testa.
Curiosa, a morena pulou de seus braços, deixando Gery com uma expressão de espanto, correu até seu quarto e procurou pelo papel.
Leu.

"Para você, que sempre considerei uma filha, lhe confio meu maior tesouro. Eu o daria para minha filha, para que continuasse a tradução de minha família. Eu lhe entrego o Ritha, meu martelo. Cuide dele e nunca desista de nada. Você não tem meu sangue, mas é como se tivesse. Siga sua vida comigo ao seu lado. Para todo o sempre lembrarei de você...filha."

Celine olhou para trás e abraçou o meio gigante.
- Calma, ele ainda é meu. - Gery riu, retribuindo o abraço.
Inesperadamente, sentiu algo molhado encostar em sua perna.
- Ah não! Um cachorro no navio, não! Sai daqui! - o homem espantava o animal enquanto Celine tentava acariciá-lo - Eu limpei aqui não faz nem uma semana. - se justificou.
Viram o cachorro correr até sua dona.

O Culto e a AliançaWhere stories live. Discover now