Capítulo 18

64 5 1
                                    

Vou dedicar esse capítulo para a princesa que me apoia sempre ❤ RafaellaArroio
🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟

Sophie


Vovó estava aos prantos quando entrei no quarto. Eu nunca a vi assim. Quando minha mãe costumava chorar, era por algo que ela não falava. Vovó até agora, enquanto estávamos na sala de estar, ela não abriu a boca para nada.

O vovô estava ao lado dela conversando com o Sam, falavam sobre quando a vovó chegou no hotel. Vovô estava sorrindo enquanto contava sobre os seus dias de luta no México. Quando chegou a parte em que interessou a minha avó ela ficou atenta a conversa mas ainda com os olhos fechados.

- Passei uma noite no Rio Grande com… - ele parou de falar quando a vovó abriu os olhos e saiu correndo para o banheiro. Olhei para o meu avô e fui atrás da minha avó.

Parei na porta do banheiro e a olhei lavando o rosto com a cabeça baixa. Ela secou o rosto e arrumou a maquiagem borrada. Ela se virou e notou a minha presença, abriu a boca e a fechou novamente.

- Eu preciso te falar uma…… - colocou a mão na boca e olhou para o nada. - Esquece, querida, está tudo bem! - ela me abraçou apertado, com saudade, com carinho, como se nunca tivéssemos mais tempo para isso.

- Vovó, o que está acontecendo? - falei enquanto a soltava, sai com ela do banheiro e me sentei em uma das cadeiras no corredor. - Primeiro, hoje de manhã, a senhora estava em prantos e agora está vomitando. - ela olhava para as minhas unhas e me encarou.

- Está tudo bem, Soph, ou melhor, vai ficar tudo bem! Essa coisa vai passar, ok? Você vai ver. - ela beijou a minha testa e voltou para a sala de estar graciosamente.

- Querida, o que foi? - meu avô pediu e pude ouvir ela responder que estava tudo bem. Estava voltando para a sala, olhando pela janela e encontrei uma porta ao lado da escada no caminho para a piscina. Olhei para o pessoal reunido na sala e para a porta.

- Eu já volto. - passei pela sala como um foguete e fui para o jardim. Olhei para os lados e encontrei uma estradinha escondida entre flores que davam para a porta. Eu queria ver o que era aquilo.

Quando abri a porta, vi a minha avó entrando no carro para ir ao estúdio, ouvir a nova música dela. Essa composição era secreta, nem nós, da família, sabíamos qual era essa música. Ela queria surpresa.

Encarei a sala que havia dentro da porta, tudo arrumadinho, havia uma mesa cheia de papéis em cima dela, havia envelopes e canetas. Eu estava chegando perto na mesa e olhei para a parede com uma foto da vovó e da minha mãe. Elas sorriam para alguém atrás da câmera.

Sorri muito ao ver as duas mulheres mais importantes para mim em uma única foto. Procurei mais alguma coisa naquela sala que fosse delas ou para elas. Pelo o que percebi durante esses meses que estávamos em Malibu, a vovó deixava tudo no porão exceto as fotos e desenhos que a mamãe fazia para ela quando tinha apenas 8 anos.

Olhei para a mesa a minha frente e sorri ao ver a caligrafia da vovó tão perfeita em um pedaço de papel, como uma carta. Era isso. A vovó estava escrevendo uma carta, mas para quem?

Me sentei na cadeira confortável que havia lá e peguei a carta. Você deve estar me achando uma chereta não é mesmo, querido leitor, mas eu precisava saber o porquê aquele lugar ser tão escondido assim. Vovó parou de esconder coisas para nós, mas eu tenho certeza que aquele lugar era dela. Dela e da Mamãe.

           "Beverly Hills, 25 de julho de 1989.

Donna, minha querida filha,

É cada vez mais difícil esconder e lidar com esta saudade, filha. Sinto que ela está se apoderando do meu corpo, da minha forma de enxergar a vida e os outros. Eu sinto tanto sua falta, meu amor, que consigo até escutar meu coração chorar.

Eu não desejo essa sensação a ninguém. Acho, na verdade, que todo mundo deveria jamais ter de lidar com esta tristeza que me consome desde a trágica e fatídica hora do sua viagem. Filha, preciso tanto de você!

Todos os dias fico imaginando como seria minha vida se tudo fosse como um dia já foi. Eu acredito e aguardo ansiosamente pelo nosso reencontro. Não há um dia que acorde sem pensar em você. E nunca adormeço verdadeiramente descansada, filha. 

Eu só espero e desejo que você esteja se sentindo bem. Na verdade, só isso é importante agora. Eu prometo que mesmo longe estarei perto de alguma forma. O que temos é amor e o amor vence tudo.

Eu sei que um dia, mesmo que demore muito tempo, chegará o momento do nosso reencontro. E confesso que não paro de sonhar e imaginar esse instante tão belo e ansiado. Te amo, filha! Até um dia.

Assi: Mamãe, Ruby!"

Por quê? Por que a vovó não enviou essa carta para a minha mãe? Se cada palavra que estava escrita aqui era verdade, por que ela não enviou?

Eu estava saindo da sala quando vi os meus avós no jardim mais a frente. Sorrindo. Algo estava tão radiante para a vovó agora. Ela estava sorrindo até para o vento. Literalmente. O que aconteceu com a melancolia de Ruby?

Eu os olhava abraçados e sorridentes. Estava procurando algo que estivesse no meu alcance para entender aquela atitude. Vovô beijou a testa de minha avó e sorrindo voltaram para dentro de casa, eu entrei logo depois mexendo no meu celular e encarando a nossa foto juntos. Família.

Muitas vezes, a noite eu encaro o céu e sorrio vendo as estrelas brilharem e o vento cantar nas janelas. Aquela sensação sempre de deixou tão calma, serena. Gostaria que sentisse isso, meu querido leitor, mas sei que de alguma forma você imagina isso. Como eu imagino a minha mãe ao meu lado sempre.

Quando anoiteceu, estávamos a caminho de um restaurante para comemorar alguma coisa que eu não dei tanta importância. Estávamos todos no segundo andar do restaurante, nossa mesa era a única ali, organizada perfeitamente e cheia de riquezas.

- Atenção, por favor! - vovó levantou-se e nos olhou sorrindo. - Gostaria de agradecer à todos por estarem compartilhando isso comigo. - ela sorriu em minha direção e tornou a olhar para todos. - Gostaria de dizer também que meu novo álbum está pronto, com músicas que eu nunca imaginaria que eu mesma as botaria no papel. - ergueu a taça e propôs um brinde. Então era isso, vovó estava com um novo trabalho.

Isso me deixou tão, mas tão feliz que eu levantei e corri para abraça-lá. Eu me orgulho da minha avó, ela está sendo uma pessoa bem melhor agora. No passado, eu a considerava a Vovó Ruby, bruxa. Podem rir, é verdade. Depois que ela se mostrou arrependida e me trouxe com ela para cada cantinho que passava as vezes sozinha, eu me orgulho dela de mais.

Vovó me recebeu de braços abertos, acariciou meu cabelo e me segurou como uma verdadeira mãe. Suspirei quando o perfume dela entrou no meu nariz e a encarei. Eu conhecia aquele perfume, me lembro que a mamãe tinha o mesmo cheiro. Sorri com os olhos cheios de lágrimas e senti o beijo dela em minha testa.

- Temos sete gerações de Sheridan's presente em nossos corações, meu amor. Nunca esqueceremos das nossas raízes, meu anjo. Espero que você, nunca se esqueça de mim! - ela me olhava sorrindo e deu uma espiada em todos da mesa que conversavam depois do pronunciamento. - Somos Sheridan's, as mulheres que nunca deixaram-se abalar por nada. Esse novo álbum é para marcar a nossa reconciliação, das duas vidas que tecem o tempo da primavera! - ela sorriu e piscou para mim.

🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟🌟

Botei essa música da minha minissérie favorita, porque ela me ajudou a ver o comportamento das mães e filhas na época de 1835, quando aconteceu a Guerra dos Farrapos aqui no Rio Grande do Sul. A Casa das Sete Mulheres, assistam, muito boa ❤

México, 1959!Where stories live. Discover now