Capítulo Nove: A Velha Flor Fala

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Só queria dizer que Bizarrodale é o melhor episódio desde a primeira temporada, falo com tranquilidade. Mal posso esperar pra começar a escrever sobre as Pretty Poisons (mesmo que, tipo, o nome seja feio pra porra jfkasdfa)




 Desagradava profundamente à Cheryl a ideia de ter de se sentar à mesa toda manhã para compartilhar de uma refeição com as tais pessoas nefastas que eram seus inclementes e impiedosos pais. Cada segundo passado em suas presenças odiosas poderia ser equiparado a uma eternidade ardendo até os ossos no fogo do inferno. Ou, talvez, o inferno pudesse ser ainda menos doloroso.

Lembrava-se vividamente de que na infância só o fazia após Jason acomodar-se, e quando o fazia era apenas ao lado do gêmeo. Sua presença a confortava. Depois que ele se foi e ela ficou, o grande tornado de desconforto e cólera que crescia em seu estômago toda vez que se dirigia à enorme mesa de madeira de lei somente quadruplicou de tamanho. Ficar entre os pais era, para ela, como ficar entre duas cobras venenosas que apenas aguardavam o momento certo para dar o bote final.

Podia mesmo ver o veneno escorrendo de seus lábios gelados, e senti-los como um câncer que a destruía por dentro, sempre à espreita para sugar sua aura, sua fonte de vida.

Cheryl nunca teve muito o que conversar com o pai que era distante e indiferente à sua existência, e mesmo que a mãe sempre deixasse claro que jamais a suportara ou nutria por ela quaisquer sentimento afetivo que fosse, ainda havia a maldita insistência de serem ao menos cordeais uns com os outros perante a mesa de jantar, para fingirem que mesmo com seus próprios demônios e segredos perversos, os Blossoms ainda eram uma típica família americana. Utilizavam de seus guardanapos caros e excêntricos para encobrir as mãos sujas de sangue inocente. Sangue de sua neta e seu filho.

Naquela manhã, após despertar antes mesmo do sol invadir as frestas de suas janelas, e ficar por pelo menos uma hora tentando criar das cinzas de seu fogo liquidado a coragem para viver mais um dia, a jovem Cheryl aplicou no rosto de traços da descendência francesa dos Blossoms a pouca maquiagem que lhe era de costume, e vestiu-se apenas com as roupas de marca que ninguém mais naquela escola poderia bancar. Impecável e indestrutível, estava pronta para liderar nos corredores de cabeça erguida, mesmo que sozinha e fora de vista, estivesse sempre se desabando em lágrimas.

Nos lábios de botão de rosa, o mesmo tom rubro que também se fazia presente nas unhas compridas em formato de mortíferas navalhas afiadas. Uma deusa da beleza viciada em nicotina. Uma adolescente que teve seu mundo destroçado pelo sentimento de culpa. Uma garota fragilizada escondida por de trás de uma visão distorcida de si mesma, implorando de joelhos para que parem de feri-la tão mortalmente.

Antes de pisar no último degrau da extensa escadaria principal, Cheryl imaginou que talvez só pudesse fazer isso após um cigarro matinal. Só poderia enfrentar a própria mãe se tivesse nicotina correndo por suas veias.

"Bonjour mamãe. Nana Rose." A garota depositou um beijo afetuoso no topo dos cabelos brancos da decrépita avó sentada em sua enorme cadeira-de-rodas, mas sabia que jamais poderia o fazer com sua bestial figura materna que, como de costume, nada respondeu ao seu cumprimento.

Penelope Blossom, figura ruiva autoritária como a filha, elegante e charmosa ao mesmo tempo em que conseguia ser funesta e traiçoeira, apenas servia-se de um leve chá de ervas numa xícara importada de porcelana inglesa, enquanto em seu prato estava uma torrada coberta com geleia de morango. Mal importou-se quando Cheryl puxara uma cadeira para se sentar, ao outro lado da mesa. Continuava agindo como se a garota não estivesse ali.

marlboro. |choni - intersexual|Onde histórias criam vida. Descubra agora