Capítulo Vinte e Quatro: O Desabrochar da Pequena Flor

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man,  eu juro pra vocês, eu tô tão afetada por esse capítulo lakfjaskldflk sério, lágrimas, só lágrimas



 O arco de borracha dos pneus se afloravam, como ávidos cães de caça de penugem escura, pela faceta astrosa que compunha o asfalto de superfície efervescente. Assim se apascentava, numa quilometragem fleumática, o sempre tão fiel conversível vermelho-cereja pela epopeica extensão da ponte Anthony Wayne – um tributo ao general revolucionário de mesmo nome –, a qual sua estrutura percorria, prorrompendo de dentro d'água as suas enormes pilastras de ferro, o Rio Maumee, no estado de Ohio. O início do período da tarde descera dos céus desanuviados com um mormaço soalheiro em sua companhia, um vago clima tropical a se assenhorear pelo Condado de Lucas, que, por sua vez, guardava Toledo em seu âmago, como um pássaro em uma gaiola. Toni tamborilava o coruto das unhas esmaltadas pelo couro do volante conforme seguiam as notas musicais de Nirvana no rádio do carro, mas a visão periférica do olho sempre tão zeloso por sua namorada percebeu que Cheryl acendia um Marlboro (o quarto em sua própria sequência imaginária) no banco do carona, e que havia tragado dele até que a carne das bochechas de marfim se afunilasse no crânio, os tremelicosos dedos esquerdos penteando os feixes de cabelos arruivados para trás das orelhas aristocratas – sem que houvesse a necessidade de o fazer, pois a mesma ação vinha se reincidindo havia um punhado de minutos e Cheryl tornava a repeti-la em uma quantidade excedente, explicitamente atormentada por um espectro invisível (e Toni sabia, sabia que o tal espectro portava o nome de Cherie Topaz).

A menina (sua menina, sua criança) estava tão próxima de seu toque quanto jamais esteve, e este ansioso aguardo pelo inesperado compactuava para que o sistema assoberbado de sua namorada demandasse, como um tirano viciado, por nicotina corrente em seu sangue, regurgitada em suas veias como um alto teor de açúcar – uma tentativa de lidar com a realidade exorbitante sem que se depauperasse em seus próprios pensamentos fatíloquos; o fumo, ali, para a atenuar e a amparar para longe de seus demônios internos.

"Você está nervosa, amor?" Foi o que perguntou a apaixonada Toni Topaz, plácida em sua oratória mansa, pelo mais que a resposta já soubesse logo assim que observou os traços do rosto da namorada.

Cheryl crispou os lábios pintados de carmim, aspirando mais do cigarro de modo um tanto quanto duro e minucioso. Um caminhão emergiu próximo à elas, transportando toras de madeira em sua caçamba. "Bem... E você não está?"

Seus dedos castanhos se encalcaram pela circunferência do volante e, de algum modo, sua mente não mais captava a voz caliginosa de Kurt Cobain cantando sobre orquídeas carnívoras no rádio. Antes de respondê-la, Toni mastigou o lábio inferior por um bocado de segundos, ponderando em seu pensamento. "Claro que estou. Quero dizer, depois de tudo o que nós passamos... É quase como se fosse impossível pensar que finalmente nós vamos encontrá-la. Sinceramente, eu quase não consigo-" Suspirou. "É difícil de acreditar que é real."

"Então, TeeTee" Ela se ajustou ao assento, o cigarro queimando por entre os dedos agastados, o nariz rebuscado apontando em direção à sua namorada "Eu não sei, e se não for... E se não for dessa vez? E se nós realmente jamais viermos a encontrá-la?"

De sobrancelhas franzidas, a mão direita migrou do volante para o pulso fino de Cheryl, que tragou mais de seu cigarro – e desferiu, ali, um aperto coloquial, transpassando complacência em seu toque morno perante a pele álgida. Ela esbanjou um sorriso diminuto nos lábios carnudos. "Nós vamos encontrá-la dessa vez, Cher. Vai dar tudo certo, eu prometo. Daqui algumas horas seremos só eu, você, e a nossa Cherie. A nossa família."

Cheryl piscou em sua direção, e então, sorveu mais do filtro do cigarro.



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