Fim das mentiras

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As festas de fim de ano estavam chegando. As ruas de Portland ficavam lindas com toda a decoração de Natal.
Esse seria o meu primeiro Natal com Andrew então decidi caprichar na decoração. Comprei um grande pinheiro e varias luzes.
Ele me ajudou a montar a árvore.
- Lindy, posso te pedir um favor?
Achei incomum.
- Claro, o que é?
Ele olhava para a grande árvore com um sorriso doce.
- Posso fazer upload da minha memória para a Cyberlife agora?
Que coisa estranha de se pedir. Obviamente fiquei curiosa.
- E porquê isso?
Ele me olhava docemente. Senti uma espécie de sentimento estranho. Um aperto no peito.
- Quero guardar essa memória para sempre!
Estranhamente, ouvir isso não aquietou o tremor no peito. Mas deixei passar e voltei para os preparativos.
O telefone toca. Ouço do outro lado da linha uma voz familiar, mas não querida.
- Olá, Bricks.
- Kamski. O que quer?
- Feliz Natal para você também. Na verdade estou estranhando um upload da sua unidade a pouco. Algo de anormal?
- Não. Ele me disse que queria ter uma lembrança então eu fiz o upload.
- Não notou nada de diferente no seu comportamento em todo esse tempo? Digo, por que observei os parâmetros do sistema...
- Quer saber? - interrompi bruscamente - Não estou interessada nisso, nesse momento. Se você é um workaholic sinto muito. Mas no momento estou um pouco ocupada, então se me der licença, um feliz natal!
De volta aos meus afazeres, vejo Andrew sério, olhando para mim.
- O que foi?
- Era Elijah Kamski?
Fiquei um pouco apreensiva.
- Sim, ele queria saber sobre o upload que você fez. Mas a preocupação é por que você é um protótipo.
Ele sorriu-me docemente. Se aproximou de mim e passou a mão no alto da minha cabeça.
- Hey, mas o que é isso?!
Ele riu alto. Eu ri alto.

A noite, após o jantar decidi contar a ele sobre o papo de divergente que o Kamski acreditava que poderia estar acontecendo.
- Ele acha que se um sistema se torna ciente da sua existência como um indivíduo, ele adquiri consciência.
Enquanto eu falava ele me olhava com atenção fixa. O led piscando entre amarelo e vermelho. 
- Não é só ele que acredita nisso. - falei baixando os olhos e a voz. - Também penso que talvez, só talvez, tenha se tornado um indivíduo.
Ele se levantou e caminhou em direção a sala. Parecia distante.
Eu fui atrás dele.
- Andrew, você está bem?
Ele me olhou e sorriu, como sempre fazia.
- Preciso decidir alguma coisa por mim mesmo, para que eu seja um indivíduo.
- Bom, você pode decidir continuar sendo o meu amigo.
Ele se aproximou devagar e cuidadosamente me cercou com os braços abertos. E fechou em um abraço.
Todo o medo que eu estava sentindo simplesmente desapareceu. Estranhamente, com o rosto colado em seu peito, eu conseguia ouvir os batimentos de seu coração.

Atrás da tela azulWhere stories live. Discover now