Phoenix

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Era o ano de 2032. Eu estava com meus 18 anos e retomava a vida, no meu ritmo.
Havia decidido que deveria viajar e conhecer lugares e, talvez, pessoas.
Naquele dia 22 de dezembro fui fazer uma grande fênix nas costas, em cima da cicatriz. Seria o símbolo do meu renascimento. Nunca mais deixaria a dor me consumir, já que as chamas não conseguiram.
Enquanto caminhava pela rua notava vários "assistentes". Alguns acompanhavam pessoas, outros parados nos "estacionamentos", como eu chamava.  Comecei a presenciar a segregação que havia entre humanos e andróides e aquilo me incomodava bastante.
Já no estúdio de tatuagem, estava deitada de bruços na maca e o tatuador olhou para as minhas costas de maneira carinhosa.
- Obrigado por confiar em mim algo tão importante.
- Não tem de que! Você é que está fazendo uma coisa muito importante para mim.

Alguns meses se passaram desde a minha resolução. Estava em Casablanca, no Marrocos passando uma temporada de conhecimento. Comecei a me dedicar a aprender línguas e tentar entender as pessoas. Sempre pensei que não iria me encaixar na humanidade. Notei que fazia parte se um grande contexto. Sentia que em breve pertenceria a esse mundo.

Naquela tarde quente, eu tomava o meu chá e olhava as mulheres em seus sáris coloridos, rindo e falando na sua língua. Era muito bonito.
'Como eu nunca vi isso antes?'
Pensei em quantas coisas mais eu poderia ver.

Passei os anos seguintes viajando por lugares distantes tentando entender uma coisa. E só me dei conta que entenderia do que se tratava quando decidi voltar para a América. Não pretendia voltar para Portand. Estava pensando em Nova York.
Andava pelas ruas olhando ao redor. Onde eu estava haviam vários assistentes. Notei uma senhora esbravejando, em japonês, com o seu assistente que estava parado, na calçada, com um olhar vazio. Vi quando ele deixou a bolsa da mulher no chão e saiu andando, ignorando totalmente os gritos. Que estranho!
Já havia notado outros problemas em andróides, mas comecei a perceber que estavam ocorrendo com mais frequência.
Quando, no hotel que eu me encontrava hospedada, em Osaka, no Japão, eu liguei a tv no canal internacional e a primeira coisa que apareceu na tela foi um comercial da Cyberlife. Estava em japonês, e eu ainda não era muito fluente, mas parecia ser o anuncio de um novo modelo de androide. Era uma mulher, possivelmente uma assistente doméstica.
Meu peito apertou um pouco. Acho que senti saudades. Ou medo, não tinha certeza. Apenas sentia que algo estava errado e que possivelmente eu poderia ter influenciado indiretamente essa situação.
- Acho que vou para Detroit.
Disse para mim mesma, sem muita convicção.
Naquele ano, 2038, eu iria fazer 24 anos. E não sabia que tudo iria mudar. Ainda bem que sou uma fênix. Sempre renasceria das cinzas.

Atrás da tela azulWhere stories live. Discover now