Vida Comum

989 44 20
                                    

Saio do estabelecimento onde trabalho, correndo com a mochila sobre a cabeça pois, está caindo o mundo e novamente esqueci meu guarda-chuva em cima da cama. Chego ao ponto de ônibus do outro lado da rua já com o corpo e bolsa totalmente ensopados apenas com essa pequena distância percorrida e assim que o ônibus também chega, joga toda a água do meio fio em mim. Meu dia não estaria completo se não houvesse uma má sorte no meio.

Me desequilibro com o movimentar do transporte até que consigo um lugar ao lado da janela bem lá no fundo. Durante todo o trajeto, fico olhando através das gotas do vidro e o único pensamento que vem em minha mente é sobre até quando terei que me submeter a essa rotina árdua, com somente três horas e meia de sono por dia, com tempo só para café da manhã e almoço porque chego tão exausta em casa que não tenho ânimo algum para me alimentar. Mal tenho tempo para ligar ou conversar com amigos e até mesmo minha família... E isso tudo para alcançar um objetivo que parece cada vez mais longe a cada passo que dou.

Fico tão imersa nesse turbilhão que quando me dou conta, preciso sair correndo para conseguir descer no ponto certo. Passado esse tempo, a chuva já está mais fraca e permite que eu corra até às escadas da varanda da minha casa, onde moro sozinha há dois anos. Entro e deixo o par de tênis na sapateira ao lado da porta e olho no relógio, como sempre, já são 00h30.
Dirijo-me até o sofá, jogando a mochila no tapete que toma quase que toda a sala já que ela é pequena e deito como quem desmaia.

- Finalmente em casa... AH DROGA, por que fui deitar logo agora? Preciso tomar banho. - Resmungo manhosa como uma criança birrenta.- Mas agora estou com preguiça de levantar e estou sentindo meu próprio odor, eu NECESSITO tomar banho. - Termino a frase praticamente com um grito e levanto num pulo indo em direção ao quarto pegar roupas limpas.

Quando já estou despida no banheiro, olho-me no espelho no qual consigo ver até altura de meus quadris e noto o quanto emagreci, o quanto as olheiras aumentaram e mesmo aos 20 anos, meus seios não cresceram como eu queria. Porém, esse pensamento vem seguido de um grande FODA-SE, ainda estou linda e ninguém tem nada a ver com isso. E sobre as olheiras... Só mostram o quanto estou lutando pelo o que quero e ainda assim, o principal está divino que é claro, meus cabelos longos e cacheados estão brilhosos e hidratados.

Assim que essas paranóias dão uma pausa, dou risada de mim mesma e percebo o quanto gosto de estar sozinha e aproveitar esses momentos comigo.

(...)

Levanto novamente às 4h00 e me preparo para ir à faculdade vestindo uma legging preta acompanhada de um moletom cinza, uma camisa branca e um par de tênis brancos. Saio de casa levando apenas uma garrafa de chá gelado e minha mochila com os materiais. Assim que avisto o ônibus, corro para o ponto sem nem mesmo olhar para os dois lados e quando estou bem no meio da rua, ouço uma forte buzina soar me assustando e me fazendo dar passos rápidos para o lado. De imediato pensei que o motorista fosse esbravejar comigo pelo meu erro mas ele não o faz. Olho para dentro do carro pelo vidro do pára-brisas, ainda com o corpo encolhido pelo susto e vejo uma imagem meio escurecida de um homem de cabelos lisos castanhos com um corte desfiado que faz com que a franja caia levemente sobre sua testa de pele clara, tem um rosto fino e retangular, mas não de um modo esquisito. Não consigo ver seus olhos pois ele está com óculos escuros, mas sua boca é rosada sem exageros e tem um formato perfeito. Fiquei pasma com tanta beleza, e já faz 5 anos desde que não me sinto tão atraída por um cara como fiquei de primeira agora.

Fico estagnada por mais um tempo, ele buzina novamente e eu volto a realidade, saindo da frente do carro. Ele passa devagar ao meu lado lançando-me um olhar pesado mas que ao mesmo tempo não parece ter expressão se raiva. Aceno com a cabeça em forma de agradecimento por ele não ter passado por cima de mim como algum outro poderia fazer e fico parada olhando o carro se distanciar. Quando já havia sumido de vista, percebo que o ônibus também se foi mas outro chega em seguida.

LÓTUS // Jung Hoseok Onde histórias criam vida. Descubra agora