Meias verdades

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Não quero acreditar no que acabei de ouvir, não posso acreditar. Eu não me lembro exatamente a partir de qual momento, mas há uns anos eu passei a ter tamanha aversão por mostrar sentimentos por alguém ou até mesmo deixar que uma pessoa mostre ter sentimentos por mim. Por que? Não sei, também não me recordo. Tudo o que sei é que quando permito que tais coisas aconteçam, me sinto desequilibrada de todas as formas possíveis. Me sinto frágil, aflita e acima de tudo... Esse modo de afeto me traz essa mesma sensação de desespero que estou sentindo agora, aqui, abaixada nesse asfalto gelado como o frio da noite.

- Você é sempre tão arrogante, tão cheia de si. Sempre tem uma resposta na ponta da língua para me desafiar, mas agora está aí como uma criança medrosa. Ah querida, não vai me dizer que... Você está com medo? De mim? - Paul solta uma risada alta e irônica. Num movimento rápido, se abaixa para ficar da minha altura.

- P-por favor, Paul vá embora. Me deixe em paz, eu prometo nunca mais voltar lá. - Digo tão baixo em meios aos soluços abafados que não sei se foi possível ele escutar.

- O que? Não querida, não irei te deixar só. - Ele passa a acariciar meus cabelos e se aproxima da minha orelha. - Você é tão delicada que me faz querer toca-la cuidadosamente mas é tão valente que me faz acreditar que é muito resistente. Nós dois ficaríamos muito bem juntos, aliás, iremos ficar bem juntos.

Eu perdi quaisquer vestígios de esperança de que Yoongi irá aparecer ou de que Hyunjae veja o número absurdo de ligações em seu celular e venha correndo para cá. O que me resta agora é ficar entre o medo e a coragem, me forçar a reagir ou permanecer paralisada. Tudo que consegui até o momento foi chorar silenciosamente, segurando firme os joelhos.

- Você vai ficar comigo e vou te mostrar que posso ser um cara bom para você. Vem, vamos entrar e conversar melhor. - Me ergue indelicadamente por um dos braços e o aperta, sei que isso irá deixar hematomas. Ele me arrasta e paramos em frente a minha porta. - Abra.

- O que?? Não, por favor, não. Vá embora, eu te imploro... - Quando pensei que meu desespero não podia ser maior...

- Como é? ABRE A PORRA DA PORTA LOGO, PARK YEON JIA! Olha amor, você está começando a me deixar nervoso... Mas pode continuar, está até um pouco excitante essa dificuldade. - Ele segura meu rosto com uma de suas mãos e aperta machucando minhas bochechas. Suas mudanças de expressão são assustadoras, como se estivesse sofrendo com transtorno de personalidades.

Nesse momento parece não haver mais saída. Meu desespero se transforma em pânico, seu rosto começa a parecer meio turvo para mim e o chão começa a perder a estabilidade. As luzes da rua, que antes doía meus olhos, agora ficam mais escuras a cada segundo que minha respiração fica mais descompassada, até que se apagam por completo e não vejo mais nada.
Sinto suas mãos me erguendo do chão e me apoiando em seu peito. Num feixe de luz vejo a porta de casa ser aberta e logo fechada novamente. Ele deita meu corpo em algum lugar. Outro feixe de luz, vejo um cinto sendo afrouxado... Não... Por Deus, não...

- Você está tão fragilizada agora, como uma mocinha indefesa. Eu não queria fazer isso mas acho que depois de tantas das suas provocações, você até que merece. Prometo que irá gostar. - Mesmo parecendo desacordada, ainda ouço sua voz e entendo o que diz. Eu quero gritar mas não consigo e fico angustiada pois sei o que vem a seguir e não poderei fazer absolutamente nada.

(...)

Não sei quanto tempo se passou. Eu não esqueci de tudo como acontece nos filmes com as pessoas que desmaiam, eu lembro de cada parte mas talvez, só por hoje, eu desejaria que ninha vida fosse como em um desses filmes. Eu não sei o que realmente aconteceu comigo, não sinto meu corpo doer como imaginei que seria, não sinto nenhum incômodo também, mas minha cabeça ainda pulsa como se dessem marteladas nela, talvez por todo nervoso e desespero que passei. Ainda me sinto um pouco fora de órbita então não abro os olhos e continuo deitada, sem mover um músculo se quer. Começo a ouvir uma conversa que parece num outro cômodo não muito distante.

LÓTUS // Jung Hoseok Onde histórias criam vida. Descubra agora