memórias esquecidas do viajante.

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Memórias esquecidas do viajante

"Diga-me para onde vais, solitário
com suas estrelas desordenadas
E a mente desnorteada
O caminho apagado
Apegado ao tempo

Para onde vais, viajante?
Com suas faces joviais
E todo esse peso inconstante
Em seu poder inconsciente

"Seguir-te-ei até aquele castelo
Descansando singelo
Sonego sob a colina"
Profere o viajante

E eu observo em seu rosto rubro intenso
E seus olhos determinados
Um ferimento profundo
Em seu espírito cigano [...]"

   

Rodopio mais uma vez na cadeira de meu escritório, encarando o teto decorado com manchas sutis de mofo e infiltração, enquanto um lápis pendia no canto de minha boca, pulando para cima e para baixo em um nervosismo que lhe era passado por mim. Esta é uma das não tão raras vezes em que meu cérebro me trai e dá um pequeno "curto-circuito", e ao invés de estar tentando escrever algo, emergir no meu mundo das ideias, tentando atravessar o maldito muro do bloqueio mental, ou até mesmo fazendo algo "útil", eu estava sentindo um extremo tédio. Daqueles em que a cada dez segundos o indivíduo, no caso eu,  já havia soltado uns cinco bocejos, com direito a lágrimas formando nos cantos dos meus olhos.

Mesmo estando habituado a essas crises de tédio extremo, eu ainda me sentia estranho quando elas me atacam dessa forma tão repentina e até agressiva. Mesmo não sabendo qual direção tomar, ou se existe alguma direção a se tomar nessas situações, eu costumo ficar agitado e hiperativo fazendo inúmeras tarefas sem sentido inúmeras vezes, como: levantando da cadeira dando uma volta na minha sala, saindo, buscando um copo de água — mesmo estando sem sede alguma —, voltando, olhando pela janela... enfim. Eu não sou o tipo de cara muito elétrico ou animado, mas também não sou um molenga. Eu gosto de me ocupar de alguma forma e, principalmente quando estou entretido com a escrita, o tempo, para mim, passa em um piscar de olhos.

Normalmente meus pensamentos constantes me ajudam a me distrair, me carregando até as profundezas da minha imaginação e criatividade, e fazer o tempo passar mais depressa, mas nestes momentos eu sinto apenas como se uma das manivelas presentes em meu cérebro estivesse emperrada e não permitia nenhum pensamento interessante surgir. Eu me sentia somente um grande pedaço de carne consciente naquela cadeira que parecia se afundar em areia movediça comigo ali presente. Quase como se meu cérebro estivesse tentando me matar de uma forma lenta e agonizante.

Sem contar que o tempo também dava a terrível impressão de passar de forma estranha naqueles momentos e isso consegue me estressar bastante pela dificuldade e demora para me livrar de todo aquele peso extra e sem função em minha costas. A cada dez minutos eu miro o relógio disposto em minha mesa e vejo que havia se passado pouco mais de quatro minutos e observo enquanto os ponteiros se arrastam por um caminho sinuoso e de forma lenta, atrasando meus pensamentos. Durante esse tempo tedioso, tive de me habituar e aprender a controlar o desejo gritante de simplesmente pegar o objeto qualquer e atira-lo pela janela.

Três batidas rápidas na porta do escritório me fazem retornar ao mundo normal, me tirando dos meus devaneios entediantes, e eu olho para o lugar de origem do som, meio tonto pela quantidade de rodopios que eu havia completado naquela cadeira. E a visão que tive quase me fez pular de alívio, mesmo que o meu exterior provasse o contrário. Pelo vidro disposto na porta, vejo Taehyung, com seu belo sorriso quadrado, acenando para mim e balançando dois sacos de papel de forma animada. Ele parecia entusiasmado e era quase possível sentir sua empolgação trespassar a porta e inundar a sala. Dou um sorriso discreto com isso.

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