porão da alma.

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"Durmo no porão da alma
Esperando a fala, a calma
Do porão d'outra alma penada
Lamentando por suas armas baixadas

Em algum lugar
Palavras se proferem
Tagarelando até se silenciar
Indo e vindo, insistem
Tentando me alcançar

Uma porta se abre
Um feixe dourado ilumina o adro
E eu me mantenho sob a penumbra
Entre a luz acolhedora
E a escuridão perturbadora

As vozes gritam, clamam, lamentam
Suas mãos invisíveis tentam
Alcançam meus punhos
Mas eu não os cubro
E seus toques me cunham
Marcando meu corpo curtido [...]"

Apesar de a linha do futuro ser totalmente imprevisível, se você usufruir da própria imaginação e se vestir como um detetive ordinário, poderá perceber como certos acontecimentos podem ser, na verdade, bem previsíveis. Normalmente costumamos ignorar e nos tornar alheios à tais pistas sobre o futuro, tomando-as como coincidências fúteis ou meramente como algo "estranho". Apesar de ser um pouco cético sobre assuntos específicos e que não possibilitam uma conclusão empírica — inclusive esse próprio —, acredito, tomando como base a ciência, que o futuro é pré-planejado, podendo se alterar com facilidade dependendo de algumas ações ou decisões.

Acredito que, metaforicamente, o futuro seria uma tela branca, com filetes invisíveis de água cortando-a. A linha do destino seria formada a partir do contato entre uma gota de tinta e a água, espalhando-se por toda a tela, formando ramificações infinitas, podendo variar em seu tamanho e segmento. Todo e qualquer ponto grafado ao longo daquela linha fina e ociosa, está fadado acontecer, independente das ramificações que podem surgir ou se apagar em decorrência de alguma situação. Um novo futuro pode ser criado, assim como o usual pode ser seguido ou desaparecer.

Tomando em conta essas teorias, eu costumo me atentar à todos os pequenos detalhes, seja o canto suave e melodioso de um pássaro, até uma interação mínima com um humano, como cumprimentar um vendedor de manhã. Qualquer um destes pequenos fatos permitem uma boa leitura de um possível futuro, de um dos caminhos possíveis dessa linha ociosa. Algumas pessoas afirmam que qualquer fato mínimo, como o que escolher para o café da manhã, poderia dizer sobre o futuro ou alterá-lo enquanto outras afirmavam que seria necessário um acontecimento marcante para que a linha seja alterada. Quanto a mim, eu acreditava fielmente tanto em uma quanto em outra, desde que fosse possível eu me divertir me ocupando da leitura das dicas sutis.

Carregando esse pensamento em mente, a semana que se seguiu foi estritamente relacionada a essa teoria básica e a essa caçada não tão árdua. Cada detalhe mínimo não passou despercebido, cada um me permitiu uma leitura pouco precisa, mas ainda plausível.

E durante esses últimos sete dias de "investigação", conclui que Kim Taehyung entraria em colapso a qualquer momento.

Exatamente uma semana se passou desde o chamado que recebera, e quatro desde sua entrevista/jantar com o respectivo jornal que, possivelmente, iria empregá-lo. Com isso, essa passagem de tempo, que para ele era semelhante a uma eternidade, tem sido uma tortura psicológica dolorosa para Tae. Desde as primeiras horas após o evento, o homem mal conseguia conter a própria ansiedade extrema, se mantendo inquieto e eufórico, atropelando sua personalidade usual calma e divertida.

Em nossa relação um pouco atípica, Taehyung, normalmente, é o responsável pela calmaria após a tempestade. Se mantendo sempre estável, e nunca transbordando demais, o homem, o oposto a mim, seria como uma base para o meu ácido — uma comparação bem brega —, neutralizando qualquer comportamento corrosivo e me ajudando a ser mais "convidativo" aos outros. Poucas exceções na vida contradizem seu comportamento, fazendo com que exagere na quantidade de sentimentos que ele se permite usufruir.

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