seven.

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O anoitecer de Londres era um estalar de dedos. No frio, a sensação parecia infinitamente maior. A sensação que eu tinha era de envelhecer apenas no inverno – quando mal via o dia raiar e, no segundo a seguir, já era noite e ele acabara. Suplicava toda santa hora pelo verão.
Porém, algo que não se negava em nenhuma circunstancia era o tanto de lugar que se encontra para comer o que você estiver imaginando. São centenas de cafés, bares com pequenos shows, pub's lotados, uns nem tanto. Restaurante de todo tipo de gosto. Era coisa demais. Pra quem é indeciso, torna-se até dolorido.

Confirmei essa teoria quando mirei uma Ana Clara totalmente vislumbrada com as ruas, enquanto caminhávamos com curtas passadas até o japonês que eu já estava acostumada. Normalmente, á esta altura do campeonato, já estaria em casa, jantando e até fazendo a digestão... Já que o carro ficou estacionado há poucas ruas. Mas, era muito empolgante acompanhar uma turista como Ana. Ela sorria para si, enquanto olhava para todos os lados...
Do céu, ao chão. Os olhos brilhavam pela quantidade de luz que haviam espalhadas pela rua.
A neve contrastava com o tom mais escuro do entardecer. As pessoas passavam caladas, com suas inúmeras camadas de roupa. Pessoas que saiam de um dia puxado num escritório, mães atoladas de responsabilidade indo ao encontro dos filhos, médicos saindo e entrando em plantões, jovens cansados da rotina acadêmica, casais entediados de suas próprias companhias... Todo e qualquer tipo de pessoa andavam apressadamente pelas quadras da cidade. Todos buscando um passo rápido até chegar em casa. A pressa ardia ali...

Mas não conosco. Éramos a dupla mais calma da cidade naquele momento.
E provavelmente, as únicas.

– Clarissa, isso aqui é muito incrível! – Exclamou sem tirar o olhar das ruas.
Ri baixo.
– Gostaria de concordar... Mas, pra mim é só mais do mesmo.
– Ah! Não seja ranzinza! – Me olhou, empolgada. – Quero dizer... – Ficou tímida de repente, como se estivesse "caído em si".

Ana sorriu e me olhou de lado. Tive a impressão de que ela diria algo, mas nada saiu.
Caminhamos mais um pouco e o silêncio novamente nos rondava. Mantive as mãos enfiadas nos bolsos do moletom. Comecei a cantarolar mentalmente uma música aleatória...

Minto. Era a maldita música do Justin Bieber.


– Aqui é tão lindo! E eu só estou indo a um sushi bar! – Colocou a mão na boca, em forma de surpresa.
– Sushi Samba. – Corrigi.
– Como é?
– Não é um mero "sushi bar"... – Parei em sua frente, apontando para o letreiro. – É o SUSHISAMBA! É aqui que comemos a melhor comida japonesa do universo!

Percebi ela fazer uma careta, até ler o nome.

Entramos caladas. Fui na frente já sabendo o local onde pegaria a nossa encomenda, até me dar conta que a garota não estava ao meu lado. Ótimo. Não bastava estar dando uma de babá e guia turística no mesmo dia, ainda teria que reportar ao meu irmão que perdi sua namorada.

Passei a vista adiante e não enxergava o topo de sua cabeça. O lugar começava a encher, e pessoas aleatórias tomavam seus lugares á mesa. Outras sentavam no bar e aguardavam alguém. E eu, perdida no meio do restaurante, com a nota da senha nas mãos.

– Mas isso aqui é de brasileiro? – Questionou, de repente.

Meu coração foi á boca no mesmo instante.

– Que susto, Ana Clara! – Senti a alma voltando ao corpo.
– Oxe. Susto de quê?! – Falou, simplesmente. – Viu alguma coisa?
– Pensei que tinha te perdido Londres á fora. Você pode por favor ficar ao alcance dos meus olhos? – Sussurrei, séria.

Ela revirou os olhos e resmungou baixo, como criança que acabara de receber uma bronca.

– Podíamos ter vindo para comer aqui, né? – Dizia ela, acho que mais pra si, olhando em volta a vista enorme que havia por trás das mesas. – Seria muito mais prazeroso do que uma balada.
– Infelizmente, não posso concordar com você. – Sorri, pegando a comida. – Vamos?

no control.Where stories live. Discover now