nine.

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O celular tocava músicas aleatórias enquanto finalizava a maquiagem. O mais natural possível, uma vez que tinha nervos em amanhecer parecendo um panda. Havia aderido aos tons "nudes" havia um tempo e, desde então, não os largava com facilidade. Alguém bateu a porta.

– Clarissa?!

Apaguei a luz do banheiro e apareci no quarto, indo ao espelho pela quinta vez.

– Entra. – Meu olhar foi até a porta, e encontrei Mike parado, me observando. – Quê?

Droga! No mínimo a namorada foi reclamar que fui grosseira. Mas é óbvio que não foi de graça. Mania das pessoas acharem que só eu tenho culpa no cartório. Preciso me defender.
Preciso pensar no argumento. "Ah, Mike. Mas ela quem começou".

Tá, era ridículo e infantil. Mas não deixava de ser verdade.

– Você está linda! – Sorriu, vindo até mim. – Só vim agradecer por estar indo comigo á algum lugar bacana na cidade. Já que sempre odiou. – Riu, sem humor.

Ele estava tentando ser amável, já com uma cota de ressentimento. Para variar.
O ponto melhor da questão é que Ana não comentou nada sobre o que rolou mais cedo, se não, já estaria a família toda aqui – incluindo vovó, vovô, tia Arlete, cuja participava de todos os barracos, mamãe e papai, e se bobear, até a polícia. Porém, não... Ana não falou nada.

– Não é questão de odiar. Mas você dedurar tudo o que faço aqui em casa, nunca foi uma das suas melhores qualidades, digamos assim. – Sorri pra ele, que me jogou uma almofada.
Vai, seja bacana uma vez na vida com sua irmã caçulinha. Qual blusa?

– Clarissa, você vai com calça preta, bota preta... e suas duas opções são duas blusas pretas?
– Vai Mike. Não é muito difícil, estou facilitando pra você. – Revirei os olhos, impaciente.

Mike saiu uns minutos depois, contrariado por eu ter pedido sua opinião e não ter acatado. Mas não é minha culpa se ele não sabe combinar nada!

Mamãe e papai essa hora já dormiam e ressonavam. Nós dois fomos para o minibar, próximo á entrada de casa, enquanto esperávamos Ana descer. Eu tinha um copo de vodca com tônica, enquanto Mike dava goles em uma garrafa de cerveja – homens, amadores.

Eu gargalhava baixo com Mike contando algo sobre os clientes ricos e bregas do escritório, quando o vi olhar abobalhado para a escada. Sem me lembrar do que poderia se tratar, meu olhar fez o mesmo movimento que o dele... Até encontrá-la.

Já no meio dos degraus, Ana Clara descia com um sorriso envergonhado nos lábios. Tinha os cabelos soltos e a maquiagem só evidenciava seus olhos grandes e vivos. Na boca, um batom mais escuro entregava um pouco de ferocidade que ainda não havia notado existir. Ela vestia um macacão comprido preto, com os braços á mostra, mostrando que o pescoço estava exposto...

E ela sorria, de uma forma que os olhos sorriamjunto.
Notei seu olhar desviar para o chão, no momento em que nos encaramos.

– Vamos??? – Mike me olhava, como se fosse a quinta vez que perguntava. –Clarissa? Já está alcoolizada?

Ele riu, me fazendo despertar de um breve transe que ainda tentava entender.

– Vão indo. Eu preciso pegar meu documento, deixei lá em cima.

Mentira. Só não queria que fossemos juntos.

no control.Where stories live. Discover now