Vidas Feridas (Repostando)

Capítulo Dois

Cidade de Mellen, Ano de 1980.

O garoto ao presenciar tal cena, acabara de ficar sem reação. Lágrimas se escorreram pelos seus olhos, a sua mãe estava ali morta, o sangue escorria por todo o carpete.

Pensou em como contaria a sua irmã o que acontecera, simplesmente não teria forças para enfrentar tudo isto.

- Papai, o que você fez.. - o garoto suspirou, pensou alto. - Onde está você, papai?

O garoto embarcava o seu olhar para todos os cantos de sua residência. A pequena Clara, assustada em seu quarto pensava em sair, mas o seu irmão mais velho a ordenou para não mover um só dedo.

O garoto realizava espaçamentos curtos sobre os seus passos, os seus pés imprecisos e cambaleantes sobre o carpete de feição veluda. Colocou sobre a cabeça de sua mãe as suas mãos, a envolvendo totalmente em seus braços e seu colo. Chorou, chorou de um modo que não fosse capaz de assustar a sua pequena irmãzinha.

- Eu te amo mamãe, o que farei agora? Como cuidarei dela completamente sozinho? - o garoto chorava, aos prantos ordenando que a sua mãe morta voltasse.

A casa suja, com resíduos de objetos a todo o canto. O sangue em toda a superfície. Clara chegara na porta do quarto, de modo que não era possível observar tal cena e com o seu urso de pelúcia favorito implorou ao irmão.

- Kleber, volta..

- Eu já irei, minha irmã. - o garoto tentava manter o choro. - Vamos lá. - disse gagueijando.

Se levantara, como poderia ligar para alguém naquela situação? Ninguém vinha.

Tentava pensar em um jeito de esconder o corpo. Um adolescente de 15 anos sozinho, naquela situação.

O pai agora seria um fugitivo da policia, ele denunciaria o próprio pai?

Ele teria que pagar pelo que acabara de fazer. Destruiu a sua família, ao ingerir bebidas alcoólicas. Passou a mão dentre oe seus olhos, repletos de lágrimas e respirou fundo.

- Coragem, Kleber. Você irá precisar. - pensou para si mesmo.

A dúvida constante agora seria: Como sustentaria a sua irmã, e a si mesmo?

A década de 80, foi marcada por características de grande desemprego, estagnação da economia e índices de inflação extremamente elevadas. Houve também, na década perdida, perda do poder de consumo da população. Na década perdida há um aumento da dívida externa fazendo que aumente o déficit fiscal.

Com todas essas informações, Kleber estava perdido e atordoado. Que passo seguir? Esconder o corpo da sua mãe, e fingir que nada acontecera?

Contar a polícia o que presenciou, juntamente a sua irmã?

Ir atrás do seu pai?

Suspirou fundo mais uma vez, a sua mão agora repleta de sangue que escorria provindo do corpo da sua mãe desfalecida.

- Me desculpa mamãe, eu terei de fazer isto. - disse, aos prantos.

O garoto com o corpo agora totalmente ensanguentado, por carregar em seu colo a sua mãe pela última vez, arrastou o corpo da sua mãe em direção a cozinha.

Seus passos eram imprecisos, carregava consigo uma mistura de sentimentos. Algo entre dor, nojo e medo.

Fazia esforço total, ao carregar a sua mãe desprovida da sua vida. O seu pai certamente naquele momento, fugira para longe, bem longe e agora, bêbado.