My Destiny - Thabie (Concluída)

Afastar-se

Três semanas.
Três semanas que eu não via a Gabie, não falava com ela e não fazia a menor questão de responder nenhuma de suas mensagens.
Rafa estava certo, era melhor eu me afastar antes de me magoar mais.
Mas se ele estava certo, porque doía tanto?

Minha pequena Ash era tudo que me trazia alegria.
Ela e aquela bola de pelo, que recebeu o nome de Hope.

Tirando isso, nada era capaz de me animar.
Eu não queria ter me apaixonado por uma mulher que não sabe ter um relacionamento monogâmico.
É, eu estou apaixonada por ela. Dói assumir, porque eu levei anos pra me apaixonar por alguém.
Colocar na minha cabeça que ela não vale a pena, é muito difícil. Porque cada pedaço de mim sente saudade dela.

Mas naquela tarde de quinta feira, ela já tinha ligado 19 vezes. E algo me dizia que talvez eu devesse aceitar a ligação. Eu encarei o telefone com o nome de Gabie brilhando na tela, até que ele desligou.

20 segundos depois, ouço uma batida na porta.

-Thalita, a Gabie pediu pra você atender o telefone, porque ela precisa falar sobre o processo da Ash.

E foi assim que eu entendi o porque daquele sentimento.
Respirei fundo e me preparei para ouvir a voz dela ao telefone depois de tanto tempo.
O telefone tocou e então finalmente atendi.

-Alô?- eu fiz a voz mais fria que consegui.

-Thalita, você precisa vir até o escritório com urgência, saiu uma liminar do processo dela, e tem uma coisa muito ruim acontecendo.

-Ruim? O que foi, Gabie? Fala de uma vez!

-Não posso falar pelo telefone. Você aceita vir até aqui?

-Tá bem. Vou sair daqui agora. Dez minutos eu to aí.

-Ok, te aguardo.

E ela encerrou a ligação.

Meu coração estava na boca. Notícias ruins me assustavam.
Eu estava tão desnorteada, que nem sei como cheguei ao escritório. A recepcionista me deixou entrar direto.

-Thali, você está pálida! Senta um pouco aqui. -Emmanuel falou.

Eu sentei e em segundos a porta se abriu e uma Gabie cheia de papéis entrou. A cara dela não era nada boa.
Ela andou até mim.

-Gabie, fala de uma vez. Eu não sei lidar com suspense. - eu fui dizendo.

-Thali, o juiz ordenou que a Ash volte para o orfanato. - ela foi direta.

-O QUE? PORQUE? - eu gritei em histeria. -ISSO NÃO É JUSTO! GABIE, DIZ QUE É MENTIRA!

Eu continuei a gritar.

Ela correu até mim e me abraçou. Eu chorei. Chorei por tudo. A vida não podia estar sendo mais filha da puta comigo.

E Gabie permaneceu ali, abraçada a mim pelo que pareceram horas, até eu me acalmar.

-Me explica direito o que aconteceu, por favor? - eu pedi baixinho.

-A senhora Welder aconteceu. - ela suspirou com raiva. - Durante as investigações de violência contra o marido dela, ela fez uma denúncia a você. Alegou que não é possível que seja mais saudável pra Ash crescer com uma mulher lésbica e solteira, do que com a família estruturada dela.

-É O QUE? FAMÍLIA ESTRUTURADA? ELES ABUSARAM DELA! - eu voltei a gritar, me colocando de pé.

- A senhora Welder está alegando que você está mentindo, pra ficar com a criança. - ela sacudia a cabeça.

-E o juiz está concordando com essa maluquice? -perguntei me sentando novamente.

-Não. Mas infelizmente pela lei é assim. Se existir um conflito na casa que quer a adoção, ela precisa ser avaliada.

-Quanto tempo ela vai precisar ficar lá?

-Até a audiência. - ela respondeu acariciando minha mão.

-E quando é isso?

-Se tudo der certo, na terça que vem. Mas eu aleguei que ela tem aula até sábado e domingo é o dia de sair do orfanato pra visitas. Então ela só precisa ir pra lá na segunda.

-Eu queria que não precisasse ir dia nenhum.

-Eu sei, Thali. Mas eu juro que to fazendo tudo que posso.

-Não é culpa sua, Gabie. Eu sei que esse sistema é uma grande merda. Eu só to tão cansada...- eu podia sentir minhas lágrimas voltarem a cair.

Gabie segurou minha mão e com o polegar, acariciou meu rosto.

-Queria que esse não fosse o motivo pra você finalmente falar comigo. - ela sussurrou.

- Por favor, Gabie. Agora não é hora pra isso. - eu falei afastando meu corpo.

-Eu só queria entender o que aconteceu. Você simplesmente começou a me ignorar e isso não fez muito sentido pra mim. - ela disse simples.

-Desculpa Gabie, mas eu não sei dividir. Foi isso que aconteceu. - eu falei já me levantando. - Preciso ir buscar Ash na escola. - continuei antes que ela começasse a falar de novo - Me mande um e-mail com o passo a passo do que tenho que fazer com ela, por favor.

-Pode deixar. - ela respondeu seca. - Eu faço isso.

-Obrigada. - eu respondi.

E então saí do prédio, chorei mais um pouco no carro e dirigi até a escola de Ash. Não seria nada fácil contar a pequena uma mudança tão grande na rotina dela.
Minha casa ia ficar tão vazia sem ela...
Era isso então? A porra do meu destino envolve ficar sozinha.

-Tia Thali, você tava chorando de novo? - Ash perguntou assim que abriu a porta do carro.

-Estava, pequena. Como foi a aula hoje? - eu perguntei desviando o assunto.

-Foi ótima. Temos um trabalho pra entregar na semana que vem, mas eu não tenho problema algum com isso. Vai me dizer porque está chorando? - ela perguntou.

-Primeiro, quero que você escolha onde quer comer. Qualquer lugar, pode ser qualquer coisa. - eu falei.

-Numa quinta? Está me deixando escolher o jantar, numa quinta feira? O que aconteceu, tia Thalita?- ela ficou bem séria.

-Nada meu - eu comecei.

-Não responda que não é nada. Eu sei sei quando a senhora está mentindo pra mim. - ela me cortou.

Eu dirigi em silêncio até a orla da praia. Ash gostava daqui, ela ficava calma.
Andamos pela areia em silêncio por alguns minutos, até que ela segurou minha mão.

-Hey, olha pra mim. - ela disse parando de andar.

-Diga, pequena. - eu respondi.

-Eles querem me levar de novo, não é?

-Sim...- eu sussurrei.

Senti uma lágrima quente voltar a escorrer, enquanto eu caia na areia da praia.

-Não chora, por favor. - ela segurou meu rosto entre suas mãos, me fazendo olhar pra ela - Olha pra mim.

E eu olhei. Encarei aquele verde lindo.

-Eles nunca vão conseguir realmente me tirar de você. Você é a única mãe que eu conheço e a única que eu quero ter, está bem? - ela falou.

Aquilo me fez chorar ainda mais.

-Você me cha- chamou de de mãe? - eu perguntei entre os soluços.

Ela apenas sorriu pra mim. E aquele foi o melhor presente do meu dia.

Nada no mundo seria capaz de me fazer parar de lutar por ela.
Ash é minha filha. Minha.

E ninguém vai tirá-la de mim.

Não esqueçam de me contar o que estão achando do capítulo, ok?
Beijinhos!