6 | MACARRÃO INSTANTÂNEO

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A manhã de segunda-feira estava triste e cinza.

Quando sai do meu alojamento em direção à aula, ao lado de Daphne Cowill que havia aceitado meu convite de passar o final de semana comigo, diversos cartazes do acontecido de sexta ocupavam os muros e os postes do campus. Uma Daphne chorosa e desesparada, repleta de tinta vermelha, aparecia na imagem com os letreiros logo em baixo dizendo: "Daphne, a Estranha".

Rasguei a maioria que encontrei no meio do caminho até meus braços estarem lotados de papel. Daphne tocou meu ombro, fazendo-me parar, pois a atitude era em vão; havia muitos cartazes espalhados.

— Não adianta — ela sussurrou com a cabeça inclinada para baixo.

Entrelacei meu braço no dela, apertando-a com firmeza. Era algo que havia aprendido com Mabel nos últimos dias que estivemos juntas: Apertá-la, impossibilitando que o sangue corresse de forma desenfreada, ajudava a controlar o colapso interior. Mabel havia me contado que seu irmão mais novo, que possuía Síndrome de Asperger, apenas se acalmava dessa forma. Pelo o que vi, ajudava Daphne também.

Eu e minha amiga tínhamos a primeira aula do dia juntas: Inglês com o professor Sinclair. Infelizmente a aula se demorou demais. Uma hora e meia ouvindo o professor idoso falando em tom monótono. Ele me fazia lembrar o professor de História da Magia de Harry Potter, mas eu duvidava que Sinclair fosse mais legal.

No próximo horário precisei aguentar a cara pálida de Seth Ayde me barrando no corredor para conseguir falar com Daphne, a qual se mantinha escondida em seu sobretudo escuro. Tentei afastá-lo, mas ele era muito insistente.

— Ei, Cowill. Saiba que estou contigo — falou sobre nossos ombros. Daphne sorriu em gratidão. — Cumberbatch, vejo você depois!

Saímos, possivelmente apenas eu estressada com a aparição do rapaz, para a segunda aula do dia. No término, que demorou para chegar, a fome já aparecia em nossas entranhas. Somente quando chegamos no refeitório que tive uma surpresa, de modo que lembrei o que havia acontecido na sexta-feira à noite, no meu surto dentro do banheiro com o notebook no colo.

Várias cópias do Talking to Hamish estavam bem distribuídas na mão de cada estudante. Uma delas chegou em minhas próprias mãos e eu li com júbilo o conteúdo para saber o porquê de tanto murmúrio pelo ambiente. Meu queixo caiu ao ver minha carta publicada e o e-mail falso exposto no topo. Eles haviam colocado na porra da primeira página!

Sem reação normal, precisei procurar uma cadeirinha para me sentar, pois minhas pernas haviam se tornado gelatinas. Daphne e Mabel rodearam os outros assentos, lendo atentamente as palavas impressas. Meus batimentos cardíacos tinham a mesma força que dez bombas atômicas.

— Alguém está maluco! — Daphne resfolegou. — Isso é uma guerra?

Mabel sacudiu o jornal na frente dos olhos, impressionada com o que havia lido.

— Meu Deus. É o fim do mundo. Esse merda está falando sério? Quem escreveu isso? — a morena de lábios grossas indagou alto.

— Ninguém sabe — Seth Ayde, intrometido, sentou-se perto da gente. Eu estava tão maluca com o jornal que não pensei em uma frase para mandá-lo embora. — A carta chegou pelo e-mail desconhecido. Pode ter sido qualquer pessoa de Hamish. Nós pensamos em não publicar, mas isso é novo e incendiante. Olha como o Talking to Hamish está movimentado!

— Vocês acham certo publicar uma ameaça contra os calouros? — Daphne praticamente esfregou o jornal na cara dele. Adorei a atitude.

— Não acho que seja uma ameaça, Daph. Eu sinto um tom de ironia nas palavras — falei, tentando passar despercebida nas suspeitas.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora