12 | SUPER-HEROÍNA

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Era fim de agosto e, para meu azar, meu "encontro" com Charlize Hancock estava marcado para dali dois dias, em pleno sábado de manhã, quando podia dormir até mais tarde.

Além do frio aterrador que o mês trazia, eu precisava ficar na mesma sala que a Elsa do Frozen. Será que o inferno era congelante? Eu tinha quase certeza que sim.

A única coisa que me animava era meu bate-papo recorrente com meu amigo Frankenstein. Eu e ele estávamos mais próximos, mas minha desconfiança era nítida. Eu havia me transformado em outra pessoa virtualmente: mais fria, mais reclusa e mais debochada. Frank não podia descobrir a minha real identidade, e, caso já houvesse me visto antes, não faria associações como eu mesma estava me deixando levar.

Embora a rotina de leitura estivesse maior — pois meus professores esqueciam que tínhamos outras disciplinas para estudar e passavam dezenas de livros — eu tentei ficar mais íntima de Seth Ayde. Meu bloco de notas com as informações de Frank, cada vez mais cheio, batia com o perfil de Ayde, porém eu já não tinha mais certeza. Ao longo dos dias, ele me parecia só mais um garoto comum do campus, sem nada extraordinário por trás.

Pelo menos, no meio disso tudo, havia feito algumas conclusões: Seth gostava de baseball e Frank me pareceu mais interessado em músicas — majoritariamente clássicas —, além disso, Seth era amante de livros de ficção policial, enquanto Frank, obviamente, preferia os clássicos góticos. E, para enriquecer ainda mais minha investigação, Seth era vidrado no Leonardo DiCaprio e Frank supostamente nunca havia assistido Titanic.

Eu estava na biblioteca e devia estar colocando minhas anotações em dia, mas não conseguia tirá-los da cabeça. Seria possível existir os dois lados distintos dentro de Seth Ayde, o galãzinho do Talking To Hamish que tinha uma queda por veteranas? Seria possível que Frankenstein, outrora tão simpático e sincero, estivesse mentindo desde nossa primeira troca de mensagens?

Frankenstein: "Acho que você deveria ler. Se eu perguntar o nome dos seus livros obrigatórios, seria uma DC?"

Meu celular praticamente saltitava quando uma mensagem de Frankenstein aparecia na tela. "DC" (e não era minha coleção de HQ's favoritas) significava "Dúvidas Comprometedoras", as quais não podíamos soltar nas nossas conversas, pois decidíamos que manter o anonimato por mais tempo era melhor, por mais que fôssemos claramente mais próximos.

Darkness: "Acho que sim, mas saiba que tenho muitos livros para ler. Se eu perguntar o que você vai fazer hoje, seria uma DC?"

Frankenstein: "Hoje vou visitar minha mãe. Só não posso dizer onde ela mora, senão você logo descobrirá minha identidade secreta de super-herói"

Sorri para sua mensagem. Ele sempre era muito direto; se eu estava na dúvida de algo, ele esclarecia sem rodeios. Mesmo quando o assunto era nossas "DC's", ele dava um jeito de não me deixar no escuro. Eu não tinha a habilidade, porque tudo o que pensava em dizer era comprometedor demais.

Darkness: "No meio da semana? Aconteceu algo sério?"

Frankenstein: "Não, na verdade. Eu só vou visitá-la. Eu consigo voltar a tempo"

Darkness: "Então é perto?"

Frankenstein: "Talvez"

Darkness: "Então é longe?"

Frankenstein: "Hoje você não vai saber meu apelido de infância, Darkness"

Darkness: "Mas não é Frankie?"

Frankenstein: "Sherlock Holmes perderá o posto de melhor detetive se você continuar assim"

Havia deixado completamente meus livros de lado e continuei digitando agilmente, esquecendo do mundo ao meu redor. As conversas com Frankenstein eram sempre muito envolventes. Eu ficava com medo de saber quem ele o era e ficar decepcionada no processo. Antes da interação, pouco imaginava que nos tornaríamos tão íntimos em pouco tempo, mas trocávamos tantas mensagens, durante dias seguidos, que era impossível não criar certa empatia.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora