11 | TRAGÉDIA GREGA

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Hill's Coffee era a lanchonete mais movimentada do campus.

O local recebia pessoas de todos institutos de Hamish e era conhecido por ser um ambiente pacífico, livre de intrigas entre calouros e veteranos, os quais eram a grande maioria dali.

Era a primeira vez que eu estava na lanchonete e senti-me bem, apesar de tudo. Havia muitos veteranos pelo espaço, e, justamente por esse motivo, minhas melhores amigas não quiseram me acompanhar naquela manhã de segunda-feira, antes do horário de aulas. Segui, então, minhas colegas de alojamento, depois destas reclamarem que eu nunca saía com as duas.

Eu estava incrivelmente ansiosa pelo o que enfrentaria no resto do dia, afinal esperava que o Talking To Hamish publicasse a minha carta. Novamente outra afronta aos veteranos e uma explicação do meu propósito ao escrever a primeira. Eu queria chegar na Literatura e ser recebida pela enxurrada de jornais nas mãos dos estudantes, a maioria empolgada para falar sobre a primeira página.

Era impossível me manter quieta naquele assento. Havia colocado uma bota com um mini salto e batia com firmeza no piso chapeado, causando certo barulho. A mesinha era típica de qualquer grandes fast-food, embora ali não tivesse especialidade em servir muitos alimentos calóricos. Eu bebia um capuccino com um pedaço de bolo suculento — ou pelo menos tentava. Meu nervosismo era tanto que eu não conseguia evitar de olhar para a janelinha do meu lado, como se esperasse que uma novidade viesse agarrada na perninha de algum pombo.

Nebraska Cobham e Shelby Colmer estavam sentadas comigo, mas pareciam muito distantes em seus celulares. O clima matinal era péssimo, porque todos ainda permaneciam com o pensamento no colchão macio nos nossos respectivos quartos. Piorava quando as pessoas que tentavam se fazer companhia eram tão diferentes umas das outras.

Eu me envolvia com pessoas diversas, porque sempre fui muito empática com todo mundo. Eu gostava de conversar e isso bastava para mim. Se a pessoa mantinha um papo, seja qual fosse o assunto, eu estava por dentro. Mesmo mal-humorada, conseguia manter a linha de conversa.

Mas minha colega Nebraska, por exemplo, não era um tipo muito sociável. Ela até conversava bastante comigo, mas eu a via ignorando demais Shelby, que era imensuravelmente falante, mas que se tornava muda ao lado da outra.

Nebraska era o tipinho rico que não se misturava com qualquer um, tendo estudado em escola caras e tocado violino na infância — Mabel Seymour e Daphne Cowill tiveram a mesma condição de vida, algo que mostrava que o caráter contava muito mais. Shelby Colmer, por sua vez, gostava da loucura e vida aventureira, pouco importando para fumo ou bebida, algo que sempre me impressionara, afinal ela era bastante resistente.

Tampouco entendia como Nebraska, fresca com milhões de coisas, aceitara Shelby no alojamento. Mas era bom que houvesse deixado a garota vir para a Sappho House, apartamento 13, senão eu me encontraria sozinha. Nebraska não era muito familiar ou amiga, embora houvesse me convencido a tomar café da manhã com as duas longe das minhas melhores amigas.

— Max, você é amiga do Precoce? — Nebraska perguntou de repente. Ela dava pequenos goles no seu milk-shake.

— Só temos a Elsa do Frozen como monitora em comum. Por quê?

— Não olha, mas ele está a alguns metros da gente e não tira os olhos da sua nuca. Acho que te deseja — Nebraska riu baixinho. — Patético.

Eu tive vontade de virar o pescoço e espantar o menino com um sorriso de dentes sujos de bolo, mas me mantive paradinha.

— Acho que ele está olhando para você, Nebraska Cobham — Shelby partiu seu sanduíche natural no meio.

Nebraska lambeu o canudo de forma sugestiva. Ela não olhava para Michael Gobberd, o único ruivo bonito da Literatura, mas sim para mim. Meus olhos se arregalaram diante do movimento dela.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora