10 | OLHOS CELESTIAIS

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Na manhã de domingo, acordei com uma figurinha balançando a cama.

Mabel Seymour estava com a maquiagem borrada e cabelos desengonçados, mas seus olhos brilhavam com alguma agitação desconhecida. Aos poucos, os últimos eventos apareceram devagar na minha cabeça, saindo direto de algum ponto escondido no meu subconsciente.

Percebi que não estava na minha cama mesmo, mas sim na cama de Shelby, o que me fazia perguntar em qual canto a garota passara a noite. Havia perdido a total noção de tempo ao ficar a madrugada pensando em Frankenstein. Adormeci em um piscar de olhos, perto de Daphne que descansava bem e aguardando ansiosa por uma resposta do meu amigo secreto — que infelizmente não veio.

Tampouco ali, pela manhã, meu celular vibrava com uma mensagem nova no e-mail. O que ele estava fazendo de tão urgente que não pudera me responder mais? Ergui meu corpo devagar, deixando que meu tronco fosse abraçado pela minha amiga, que não parecia ter dormido nada.

— Depois do Red Devil, fomos para a festa da Beta Sigma Tau. Eu e o Bill — ela suspirou, aninhando na cama um pouco mais. Sua voz estava baixa, pois Daphne ainda dormia na outra cama. — Você o viu no bar? Ele foi tão legal comigo, sabe? Está no segundo ano e conhece alguns veteranos do bem. Fomos para a festa e acabei que... que perdi minha virgindade lá.

Eu não esperava que o desfecho da história fosse daquele jeito. Minhas sobrancelhas subiram em outras proporções, pasma com a novidade. Dentro da minha percepção quanto a minha amiga, pensava que ela havia perdido a virgindade. Desde que nos conhecemos, não muito tempo atrás, ela estava em todo tempo se relacionando com alguém. Era uma pessoa que gostava de ser desejada e gostava de desejar. Não era difícil imaginar que ela poderia já ter entrado em outros contatos carnais.

A surpresa igualmente me trouxe à memória de quando perdi a minha própria virgindade três anos atrás. Embora tivesse meus dezesseis anos e fosse relativamente nova, o desconhecido prazer me transferira outras assimilações da vida. Havia sido em um dia tão quente quanto meu desejo sexual, e Florence era um amor de garota, que só me deixara mais tranquila em relação ao ato. Sem me tomar como satisfeita, no mês seguinte dormira com meu vizinho, Adam. Duas experiências mágicas, mas que não pude repetir nos anos seguintes.

Tecnicamente, eu era virgem de novo. Havia desaprendido a beijar, a tocar o outro com mais vontade, a flertar. Três anos eram o suficiente para apagar da minha memória as ações de pura luxúria.

— Essa é nova — reagi, boquiaberta. Deveria perguntar como acontecera? Eu gostaria de saber mesmo? — Como foi? — A pergunta escapuliu da minha boca.

Nos minutos seguintes, minha amiga narrou com detalhes excessivos sua noite cheia de prazeres. Às vezes alguns assuntos pessoais não precisavam ser expostos, mas ela estava à vontade para me contar sua aventura. Aproveitei para descansar a mente, pois ouvir sobre algo comum das nossas vidas aliviava o estresse impregnado do meu corpo.

— Eu acho que foi sexo casual — Mabel Seymour finalizou, ocupando todo o meu travesseiro. — Eu não sei como é sexo casual na prática para dizer. Quer dizer, agora eu sei. Mas acho que é isso.

— Você pode conversar com ele caso estejam abertos para esse tipo de assunto. Se você quer vê-lo mais vezes independente disso, então é bom tentar ver até onde podem ir — falei, o sono ainda rondando meus polos.

— Tem razão. Melhor tirar essa dúvida — Mabel fechou os olhos, bocejando. — Você se importa?

Eu neguei, pois sabia que ela precisava descansar depois de ter ficado a noite inteira em claro. Tirei meu celular do carregador e sai para fora do quarto de Shelby, encaminhando-me para o meu próprio. Ao chegar, percebi que minha cama estava uma zona, mas não me importei. Shelby devia ter dormido ali; pelo visto nós só trocamos os colchões. Joguei-me na minha cama e não notei quando peguei no sono novamente.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora