14 | METALICAMENTE

3.7K 439 509
                                    

Era a última aula de sexta-feira e minha ansiedade estava a mil, pois finalmente reveria minha monitora no dia seguinte.

Há dois dias, quando fui obrigada a dormir em seu apartamento depois do assalto, sequer imaginaria que nossos lábios se trombariam de maneira tão irreal. Eu não sabia o que fazer a respeito, se deveria conversar, se deveria repetir a ação, se deveria deixar quieto. Eu não conseguia ler sua segunda camada e dessa vez não era diferente.

Mas eu estava muito, muito ansiosa desde o beijo. Corrói-me por dentro toda vez que pensava a respeito, e mal conseguia ver filmes do Adam Sandler sem lembrar da noite enfática e aleatória que tivemos juntas.

Eu quase não reencontrei minhas melhores amigas no corredor para desabafar sobre o assunto, mas eu estava me corroendo para abrir a boca sobre quase tudo. Eu não falaria sobre Frank, obviamente, mas podia falar sobre minha monitora. Tudo bem que ninguém gostava muito dela, mas minhas amigas não me julgariam. Eu acho.

Eu não conseguia tirá-la da cabeça, e não tinha culpa nisso, após tê-la tão entregue e vulnerável nos meus braços. Além de tudo, ela me salvara no meio da chuva, oferecera-me roupa limpa, comprara pizza e deixara-me dormir na sua cama enquanto seguia para o quarto de hóspedes. Pela manhã, levara-me até a porta da Sappho House e despedira-se naturalmente, sem sua personalidade maluca me deixando irritada.

Caralho, era o combo perfeito para pedi-la em namoro!

Não, acalme-se, Maxine. Você definitivamente está passando dos limites. Todo mundo sabia que um beijo podia não significar nada, afinal as pessoas estavam interessadas em contatos carnais sem compromisso. Claro que meu lado canceriano não ajudava em nada para tirar as loucuras da mente, mas eu precisava ser forte. E não me apegar.

E Frank estava no encosto também: nossas conversas estavam mais recorrentes e intensas. Eu e ele já sabíamos bastante coisas sobre o outro, mas nada que pudéssemos usar para descobrir sobre a nossa identidade. As mensagens estavam mais sugestivas e eu sentia um clima pintando. Eu não sabia lidar. Era muita informação para mim.

Por isso, quando Seth Ayde me convidara para ir no cinema, aceitei sem relutar demais. Eu precisava saber mais, tirar minhas provas, distrair ou aliviar meus pensamentos. Se ele era ou não o Frank, eu tinha a necessidade de ficar ciente. Teríamos a última aula de sexta juntos, mas eu precisava evitá-lo até chegar a noite. Eu não queria que ficassem imaginando coisas sobre nós dois.

Acomodei-me perto de Gwen Archer, a qual se ocupava em escrever as anotações da aula. Eu estava muito inquieta, disposta a pular da minha cadeira e repassando mil vezes na imaginação o beijo com Charlize Hancock. Pouco me importava se eu e minha turma teríamos um trabalho maior de Morfologia para fazer, porque mal conseguia prestar atenção na aula. Eu deveria me atentar somente aos estudos, mas não conseguia.

— Você está bem? — Gwen sussurrou para mim.

Eu anotava roboticamente o que a professora Stewart escrevia na lousa. Eu não estava atenta nas palavras, mas copiava mesmo assim.

— Eu não sei. Tenho um encontro hoje. E amanhã. Com pessoas diferentes — falei a primeira coisa que brotou na minha boca.

Pensei que ficaria aflita de maneira ruim com meu "encontro" com Charlize Hancock, mas a realidade era diferente. Eu queria vê-la. Pouco sabia o porquê ela me chamara em um sábado de manhã, mas se ela me odiasse como eu pensava, ela teria só me abandonado no ponto de ônibus no meio da chuva. Ela não se daria o trabalho de cuidar de mim, tampouco me beijado daquela forma tão intensa no meio da cozinha.

— Cumberbatch! Você é assim? Eu nunca imaginaria — Gwen estava interessada. — Eu conheço as pessoas?

— Acho que sim — olhei a volta, mas não encontrei Seth Ayde presente. — Um faz essa aula. A outra faz Literatura Clássica comigo.

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora