Capítulo 39 - A morte do Cisne

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Sasuke fechou a mochila, a mente ainda estava longe, presa no limbo em que era seguro estar para não cair nem nas lembranças aterrorizantes nem nas esperanças tolas que os atos de Neji e Naruto lhe deram. O ensaio tinha sido cancelado obviamente, os bailarinos haviam sido os primeiros a deixar o teatro, mas Sasuke se demorava de propósito. Várias pessoas tinham postado os vídeos do que havia acontecido na internet, aquilo ganharia uma proporção além do esperado, e, ainda que isso fosse bom, para ele traria consequências com as quais não estava pronto para lidar. Seus tios veriam aqueles vídeos, e Madara o conhecia bem demais para perceber seu estado neles e juntar as peças soltas em cada discurso de Tsunade, Naruto e Sakura.

Apertou o celular na mão. Silenciado por medo de a qualquer momento receber alguma mensagem dos tios sobre o assunto. Passou os olhos pelo contato de Shikamaru e engoliu em seco por saber que o amigo também não era uma opção viável. Neji estava com a família, o tio dele conversava com os pais de Kiri, e Sasuke passou por eles de forma discreta, sem querer chamar atenção.

Manteve os olhos baixos enquanto os pés se arrastavam para o ponto de ônibus mais próximo. Havia uma ausência de sentimentos e pensamentos que nunca tinha experimentado antes, como se ele ainda não soubesse mesmo o que devia estar expressar diante de tudo. Ao mesmo tempo, sentia-se transbordando, como se finalmente a última gota atingisse a superfície lotada de um frágil copo e fizesse a água escorrer pelas laterais.

Parou de repente, na calçada. O anel preso na corrente em seu pescoço enfim se fez lembrar enquanto Sasuke observava Naruto ao telefone do lado de fora do carro. Queria se aproximar. Mas como? Queria falar. Mas o quê? Queria de volta Naruto porque sentia que estava deixando Orochimaru lhe roubar a melhor coisa que já tinha lhe acontecido!

Arrancou o anel da corrente. Era sua escolha. O que fariam, o que seriam, eram suas escolhas, e talvez aquela fosse a primeira vez que a decisão estava mesmo em suas mãos.

Atravessou a rua sem reparar em seus próprios passos, e as buzinas fizeram Naruto abaixar o telefone e olhá-lo enquanto se aproximava. Sasuke viu o arregalar de olhos e sentiu o puxão em sua camisa antes mesmo de ouvir a buzina alta e extremamente próxima da moto cujo motorista agora o xingava.

— Tá querendo morrer, Teme? — Naruto gritou afobado enquanto as mãos apertavam Sasuke e o puxavam mais para a calçada.

Quente e seguro. O abraço de Naruto trazia uma sensação inevitável de lar, os olhos azuis preocupados ainda o tragavam com a mesma intensidade de quando se permitiu arrastar para aquela tempestade que ele causava em si. Era como o cair dos escudos, o levantar dos portões, a queda de cada muralha que o cercava e protegia, a última muralha...

Apertou o corpo dele, correspondeu ao abraço e sorriu com o suspirar de Naruto ao afundar os dedos em seu cabelo. Não soube dizer quanto tempo permaneceram daquela forma, e os minutos não importariam, esperou o coração se acalmar, tolo por ainda acreditar que conseguiria isso quando Naruto estava por perto. Seu rosto se moveu ao ritmo do de Naruto, deslizando um pelo outro até que sua testa ficasse junto da dele, e os olhos tentassem achar as respostas que queriam ouvir dos lábios.

— Já tenho minha decisão — sussurrou.

— Por favor, que não seja você saindo de perto de mim porque eu nem sei dizer o quanto senti falta de te ter assim comigo, Sasuke... — Naruto respondeu baixo, o balançar da cabeça fazendo os lábios roçarem nos de Sasuke e o fazendo respirar fundo.

— Tem tão pouca fé em você assim? — Sasuke provocou, e o sorriso cretino fez Naruto rir baixo.

— Sabe como é... você sempre me surpreende, Sasuke.

Não pare a MúsicaWhere stories live. Discover now